"Vir aos Balaídos, hoje em dia, é uma experiência que todo o mundo deve absorver"
ENTREVISTA, PARTE II - A cumprir segunda época como presidente do Celta de Vigo, Marián Mouriño impulsionou afetos internos, reforçou a união entre cidade e clube, relançando apetite europeu
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O Celta renasceu nos últimos tempos, uma mulher devolveu brutal ânimo celeste, fazendo convergir consistência económica, competitivdade desportiva e conexão com a comunidade.
Marián Mouriño agarrou a sucessão do pai e é uma mulher com expressão ganha em pouco tempo na condução do Celta, unindo toda a cidade em prol de um clube e de uma equipa com ADN “canterano”.
Está um Celta rejuvenescido, fazendo de cada jogo uma festa em Vigo. Os laços parecem estar ao rubro entre equipa e público?
-Estou muito contente com o que se está a viver nos Balaídos, recuperou-se o celtismo com um projeto de cantera que nos orgulha imenso. Estão os adeptos, a cidade, todos nós, direcionados a fazer um Celta maior.
Consegue definir um pouco o celtismo que tem dentro de si e como nasceu essa sucessão ao seu pai?
-O celtismo foi herdado do meu pai, desde que nasci, vivi esta cor e este escudo. Também sofri a seu lado, ou desfrutei, houve sempre essa proximidade, mesmo estando muito tempo longe fisicamente, no México. Mas tinha sempre isso que me vinculava a Vigo, ao galego, ao Celta, às raízes. Quando o meu pai compra o clube, eu entro para o marketing, fico com a pasta dos sócios e, nesse papel, conheço melhor a paixão em Vigo pelo Celta. Quando o meu pai decide sair, fruto da idade, com o centenário a chegar, deu-se a sucessão. Assumi como um desafio de fazer um Celta grande, um projeto de celtismo.
Foi uma escolha fácil dentro da família?
-Sempre se falava da sucessão, entre mim e o meu irmão. Com ele fora, eu cá, eu mais apegada, era lógico caber-me esse papel. A mudança foi mais rápida do que esperava. Entrei há dois verões em funções, mas havia uma planificação e organização neste sentido.
Que recordações pesam mais da juventude sobre o Celta, até com um pedaço da vida no México?
-O Celta era parte da nossa vida, no México cada fim-de-semana tínhamos de arranjar forma de ouvir o relato, arranjar forma de ver o jogo, quando a tecnologia não era tão moderna. Recordo-me de estar agarrada ao rádio, de se comprarem parabólicas, era um drama se não podíamos ver o Celta. Mais adolescente, já me toca ver o Celta da Europa, de Mostovoi e Karpin. São momentos bons que queremos recuperar.
Foi buscar inspiração do Euro Celta para a atualidade?
-O objetivo é trabalhar para crescer, mas esse caminho tem que estar assente em bases sólidas. Temos um projeto de cantera a amadurecer e a enraizar-se. Estamos a preparar o clube para um salto maior, fazê-lo crescer e prepará-lo para a UEFA.
“Os adeptos queriam sentir-se mimados e escutados. Eu dirijo mas o Celta é do celtismo”
Este impacto tão positivo no aspeto social, o que diz do trabalho feito?
-Conheci as pessoas e as “peñas”, através no gabinete dos sócios. Soube o que queriam. Os adeptos queriam sentir-se identificados, mimados e escutados. A mim compete-me dirigir, mas o Celta é do celtismo. Se os dirigentes não o entenderem assim, gera-se distanciamento. Estamos a ganhar a confiança dos trabalhadores e conseguimos recuperar a paz social com os políticos e as instituições. Fomos revelando muita abertura e normalidade. O hino do centenário ensinou-nos como nos podíamos agarrar às raízes, orgulhosos da nossa comida, música, do nosso Celta. Fez-se magia, toda a gente ficou implicada. Vir aos Balaídos, hoje em dia, é uma experiência que todo o mundo deve absorver.
E este relançamento do Celta medido pelas enchentes revela muito esforço no marketing?
-É um Celta que atrai pela comunicação, marketing, o adepto identifica-se com os jovens da casa, o bom futebol. Vemos nos nossos rapazes um trajeto que passa por Madroa, Afouteza e acaba em Balaídos. Temos gente muito implicada, todos nos representam, como também acontece no futebol feminino, as Celtas.
Cláudio Giráldez fez um ano como técnico e aglutinou a paixão? É aposta a longo prazo?
-Trouxe-nos de volta identidade e um futebol de primeira rede. Cresceu a conexão e tornou-se uma decisão menos difícil dentro do muito difícil que é trocar de técnico. Tocou-me essa saída de Benítez. Temos um futebol alegre, mais ofensivo com aposta pela cantera. Ter uma equipa valente, é o conceito que queremos , sendo um futebol que o celtismo abraçou. Há uma sintonia muito boa com Cláudio, ele declarou que quer ficar cá muitos anos. Gostava que fosse a cara deste projeto para crescermos juntos.
“Defini a estratégia dos três C: conexão com a comunidade, competitividade desportiva e consistência económica”
É uma presidente que prioriza a dimensão económica ou está mais focada em projetar os interesses desportivos?
-Sinto que os dois planos têm de estar equilibrados. Quando comecei defini estratégia dos três C: a conexão com a comunidade, competitividade desportiva e consistência económica. Não vejo nada em separado. É como as pernas de uma mesa, não vejo uma sem as outras. Não te podes centrar no desportivo ou, então, só no económico. E se esqueces o social enfrentas outros problemas e não enches os Balaídos.