Foi a 23 de setembro de 2000 que José Mourinho se mostrou pela primeira vez como treinador principal. O JOGO assinala a chegada do Special One aos 20 anos de carreira olhando para os sucessos do técnico, que soma 25 títulos, entre eles duas Champions e duas Ligas Europa, em comparação com os colegas dos grandes palcos.
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José Mourinho celebra na próxima quarta-feira 20 anos desde o dia em que, pela primeira vez, se sentou no banco como treinador principal, na altura ao serviço do Benfica e num jogo no Bessa. De lá para cá, o técnico português acumulou 25 títulos nos maiores palcos do mundo e, entre eles, incluem-se duas Ligas dos Campeões e duas Ligas Europa, algo que mais ninguém tem, além de somar campeonatos em Portugal, Inglaterra, Itália e Espanha.
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Aos 57 anos e no Tottenham, José Mourinho só tem neste momento um colega de profissão que o supera em quantidade de troféus ganhos nas provas de topo, o seu "arquirrival" Pep Guardiola, eles que protagonizaram alguns dos combates mais épicos do futebol moderno no Barcelona e no Real Madrid e que, agora, também competem na Premier mas com armas e objetivos díspares. O catalão, que lidera o Manchester City, soma 30 títulos (oito pelos ingleses) e pode dizer ser o único que está acima de Mourinho naquilo que melhor avalia o sucesso: as conquistas. Ele que, curiosamente, ainda foi pupilo do português quando este era adjunto de Van Gaal no Barcelona.
Nos últimos 20 anos, tempo de atividade de José Mourinho e baliza de partida para esta análise, o português afirmou-se como figura de topo à frente das equipas que treinou, ele que deu os primeiros passos como técnico principal no Benfica, passando por União de Leiria, FC Porto - onde "explodiu" vencendo as primeiras Taça UEFA (2002/03) e Champions (2003/04), além de dois campeonatos, uma Taça de Portugal e uma Supertaça - Chelsea, Inter, Real Madrid, Manchester United e Tottenham. A segunda glória na liga milionária seria em 2009/10, pelo Inter, voltando a erguer a Liga Europa em 2016/17, pelo United. Pelo caminho, Mou também foi reconhecido pela UEFA como melhor do mundo em 2003 e 2004, com a FIFA a dar-lhe a mesma "medalha" em 2010, além de ser eleito treinador do século pela Federação Portuguesa de Futebol em 2015.
Da desconfiança inicial à conquista dos balneários
Esta história começa, aliás, na cidade do Porto, Estádio do Bessa. Era uma vez um treinador, que aparecia em cena à 5.ª jornada da liga portuguesa, para substituir Jupp Heynckes. Nessa noite de 23 de setembro de 2000 aquele jovem de ar confiante - que, mais tarde, se apelidaria de "Special One" - até se estreou com o pé esquerdo: os encarnados perderam por 1-0 frente aos axadrezados comandados Jaime Pacheco, numa partida onde Duda marcou aos dois minutos, os encarnados não deram a volta e Maniche ainda foi expulso aos 88". Uma estreia pouco auspiciosa e que não fazia antever aquilo que o técnico conseguiria acumular no futuro.
"Havia aquela desconfiança de ser a primeira vez que José Mourinho assumia o cargo de treinador principal, após ser tradutor de Bobby Robson e Van Gaal"
Mas quem na altura se cruzou com ele, nessa fase em que dava ainda passos de bebé na carreira, já desconfiava que havia ali mais qualquer coisa. "Havia aquela desconfiança de ser a primeira vez que José Mourinho assumia o cargo de treinador principal, após ser tradutor de Bobby Robson e Van Gaal. Mas, logo na primeira semana connosco, percebemos que era uma pessoa diferente de todas as outras, pela comunicação, pela confiança que nos deu e pelo trabalho de campo. Ele integrava o trabalho físico com a bola porque dizia que era ela que nos fazia felizes", conta a O JOGO Maniche, que acompanhou o técnico no Benfica, FC Porto e Chelsea. Na Luz, lembra ter assistido a uma verdadeira revolução mental: "Não tínhamos um plantel muito forte mas, quando Mourinho chegou, começou a fazer-nos crer que éramos excelentes, o que se mostrou no campo. Incorporámos o seu estilo de jogar, sempre para ganhar." Protagonista nessa estreia de Mou no Bessa, Maniche revela as palavras do técnico após o desaire. "Disse-nos que, depois dessa exibição, íamos lutar pelo título. Ficámos com mágoa pela sua saída, pois todos estávamos com ele por ser frontal e não fazer distinções. Não merecíamos que tivesse ido embora, foi uma machadada terem mudado de treinador", afirma.
Zidane a crescer como nova sombra
Num balanço comparativo destes 20 anos, José Mourinho venceu 12 das 14 finais onde esteve e é o técnico das principais ligas europeias com mais jogos, 945 em todas as provas e clubes por onde passou: perto andam apenas Carlo Ancelotti (919) e Jurgen Klopp (833). E, apesar de não ter o maior aproveitamento de vitórias, o português está no topo dos melhores nesse aspeto, com 64 por cento, sendo batido por Guardiola (73%) e Alex Ferguson (64,2%), este que se retirou em 2012/13 após 39 anos num banco de suplentes.
Já em troféus internacionais, os quatro de Mourinho são superados pelos oito de Guardiola (duas Champions, três Supertaças Europeias e três Mundiais de Clubes) e de Ancelotti (três Champions, três Supertaças Europeias e dois Mundiais de Clubes). No lote de rivais maiores de José Mourinho, no que respeita a grandes troféus europeus/mundiais, vai aparecendo também a figura de Zinedine Zidane, ele que pelo Real Madrid e em apenas sete épocas, já leva sete títulos internacionais para o seu museu: três Champions, duas Supertaças Europeias e dois Mundiais de Clubes.
Nome que também justifica referência aqui, mas que não esteve nas ligas de topo é o de Mircea Lucescu. O veterano romeno, de 75 anos, treina o Dínamo de Kiev e tem já 34 troféus, a maioria ganhos no Shakhtar Donetsk, tendo vencido provas em cinco países diferentes.