Antigo central francês recordou os sucessos que viveu no Real Madrid, destacando a importância do treinador português nessa "geração dourada"
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Forçado a retirar-se aos 31 anos e após apenas um jogo no Como devido a uma lesão num joelho, Raphael Varane recordou esta quarta-feira vários momentos marcantes da sua carreira, sem esquecer o adeus à seleção de França, que ocorreu após a derrota na final do Mundial'2022 para a Argentina.
"Sabia que com os 'bleus' tinha terminado. Ainda estava bem fisicamente, mas queria reduzir o ritmo. Além disso, senti claramente a mudança geracional e, aos 29 anos, às vezes sentia-me fora de sintonia. Tenho três filhos e quero passar tempo com eles. A minha filha nasceu no dia seguinte de um El Clásico e no dia seguinte fomos para a Alemanha. E o meu filho viveu esses momentos sem a sua mãe, que estava na clínica, e sem mim, que estava com o Real [Madrid]. Isso marcou-me e doeu-me", admitiu.
Voltando mais atrás, recordando uma década, entre 2011 e 2021, que coincidiu com uma era dourada no Real Madrid, em que venceu todos os títulos possíveis, com destaque para quatro Ligas dos Campeões e três LaLigas, o antigo central destacou que foi o português José Mourinho o responsável pelo início de todo esse sucesso, incluindo da sua vinda para o a capital espanhola, oriundo do Lens.
"José Mourinho iniciou algo enorme. Ancelotti conseguiu convertê-lo e depois tivemos a geração dourada no seu apogeu, com Zizou [Zidane] na frente. Mou chamou-me no Lens para que assinasse pelo Madrid. Aprendi muito com ele, ainda que nem sempre estivéssemos de acordo em tudo. Ele entende muito bem os jogadores, sempre os defendeu e sempre assumiu os momentos difíceis", elogiou, antes de falar sobre o auge da sua carreira, quando venceu o Mundial'2018 com França, que podia muito bem não ter acontecido, já que, em 2013, "arriscou" tudo ao jogar lesionado.
"Ganhares com o teu país é incomparável, mas no princípio nem tudo foi fácil. A minha maior recordação continua a ser o play-off [de acesso ao Mundial'2014] contra a Ucrânia em novembro de 2013. Depois do jogo da primeira mão, estava pronto para abandonar o encontro, porque o meu joelho não me deixava em paz, logo após a minha lesão no menisco. Inchou, fazia calor e depois do desempate, de facto, estive dois meses sem jogar. Nesse dia, claramente arrisquei a minha carreira, mas não me arrependo. Por França, faria sempre tudo de novo", garantiu.
Agora, na sequência do seu final de carreira, Varane vai continuar ligado ao emblema recém-promovido à Serie A, mas num papel ligado à formação. Nesse âmbito, salientou o seu compromisso em mudar a dinâmica do futebol atual, que considera demasiado físico e com falta de "criatividade".
"Vou juntar-me ao comité de desenvolvimento do Como. Ainda tenho algo a aportar ao futebol e isso permite-me ver a outra cara do mesmo. Ser um desportista de alto nível é algo muito mais complicado do que as pessoas pensam. Tive a sorte de estar rodeado de gente boa, mas ainda assim foi muito, muito difícil", apontou.
"Há muita menos criatividade, menos génios no campo. Há mais perfis físicos em todas as posições e há menos jogadores desequilibradores. É tudo robótico, há padrões de jogo que dificultam mudar um bloco de equipa. Há muita menos liberdade. O futebol deveria continuar a ser um jogo de erros e é muito menos", refletiu, em jeito de conclusão.