Instalada num hotel com vista para Wembley, a equipa deu mais voltas de autocarro do que se tivesse caminhado. Mas, obviamente, não podia. A multidão não deixaria...
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A Seleção portuguesa dormiu à porta de Wembley. Literalmente. A separar o hotel do estádio apenas uma rua, o que alimentou o burburinho entre os adeptos de que talvez a equipa percorresse a curta distância a pé. Em linha reta, seriam uns 100 metros, no máximo. A ideia era obviamente romântica, até porque o que começou por ser um pequeno grupo de portugueses a espreitar o edifício envidraçado rapidamente se transformou numa multidão, alguns deles, sobretudo ingleses, sem saber muito bem a razão de estarem ali. Juntaram-se para ver o que se passava. A ausência de Ronaldo era tema predominante entre portugueses, que gastaram para todos os gostos: houve famílias a desembolsar mais de 200 libras - quase 250 euros - por cinco ingressos; outra mais prevenida contou a O JOGO que a compra antecipada do bilhete família lhes permitiu pagar apenas 60 libras por quatro entradas, duas delas para crianças. "Quero um autógrafo do Ronaldo", dizia um dos miúdos, obviamente mal informado, porque o craque está a banhos. Mas, diga-se, a desilusão não foi muita quando soube. "Pode ser do Renato Sanches, então". O facto de ser do Benfica explicava o entusiasmo com que falava do convocado mais novo de Portugal.
Com o autocarro à porta, foi fácil deduzir que o máximo que todos conseguiriam ver seria um pequeno trajeto de 10, 20 metros. Mas a multidão não desmobilizava; podia até ter acompanhado o autocarro num trajeto que, com as voltas obrigatórias por não poder seguir em linha reta, não terá excedido muito os... 500 metros. Os palpites em todas as línguas, esses, continuavam enquanto a comitiva não saía do hotel. "Aquele ali é o treinador português", dizia, convencidíssimo, um inglês para outro. Não era. Pelo vidro, via-se, isso sim, Humberto Coelho - o vice federativo fica a saber que ao longe, para ingleses pouco identificados com algumas caras da equipa portuguesa, tem qualquer coisa de Fernando Santos...
À volta do estádio, quatro horas antes do pontapé de saída, já havia uma agitação considerável. Um centro comercial, paredes meias com o estádio, ajudava a passar o tempo e a fugir de um vento que gelava os ossos. Portugueses trajados a rigor e até ingleses trajados rigorosamente com as cores de Portugal. No caso, uma inglesa, por simpatia para com o namorado luso. "Tinha de ser", explicava ele. Ela não percebia uma palavra. À porta de uma conhecida cadeia de cafés que até tem nome bem português - Costa - um animado grupo de lisboetas e alentejanos radicados há mais de dez anos em Londres ouvia-se à distância. Eles iam à bola; elas foram ver o ambiente e não se importaram nada por só estarem ali de passagem. "Pelo preço, não dava para irmos todos. Já estivemos com o João Pinto e até falámos para a televisão portuguesa", contavam.
Ontem, em Londres, não foi dia oficial de Camões e das comunidades, mas terá sido um 10 de junho antecipado. Nos arredores de Wembley, pelo menos, foi um pouco dia de Portugal.