Uma ideia desmistificada por Pedro Martins: "É um chavão, só a brincar podem afirmá-lo..."
ENTREVISTA, PARTE I - O treinador está em alta na Grécia, como provam a recente renovação de contrato (até 2022) e a relação de grande proximidade com o presidente do clube, Marinakis, um homem controverso
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Em entrevista a O JOGO, Pedro Martins fala do seu percurso vitorioso no Olympiacos e assume que ainda há muitos troféus para conquistar esta temporada, nomeadamente a Liga Europa, onde irá encontrar os Wolves, de Nuno Espírito Santo.
"Fui contratado para recuperar a hegemonia do futebol na Grécia"
Está a completar a segunda temporada no Olympiacos e foi campeão. O que mudou da época passada para a atual?
-A mudança deu-se em 2018, quando fizemos a reestruturação no Olympiacos, com um novo plantel, uma nova equipa, uma nova filosofia. Este ano, foi a consequência do trabalho que fizemos em abril/maio de 2018. A equipa foi crescendo, foi evoluindo, foi conquistando espaço. Temos muitos jogadores jovens, com um misto também de experiência. Estamos nesta fase com uma equipa forte porque fizemos um excelente trabalho naquele período de 2018.
Quando lhe dizem que no Olympiacos qualquer um ganha, o que responde?
-É um chavão, só a brincar podem afirmá-lo. Nos últimos dois anos o Olympiacos não ganhou. O PAOK mantém o plantel e nós também, mas a diferença é que estávamos em crescimento, tínhamos jovens com muito potencial em evolução. Seja onde for, não é fácil ganhar campeonatos. A minha equipa tem um grande espírito, uma grande qualidade. A comprovar isso está a nossa participação nas competições europeias. Não me digam que é fácil eliminar o Krasnodar, o Viktoria Plzen, Estrela Vermelha ou Arsenal. E depois batermo-nos de igual para igual com equipas como o Tottenham ou o Bayern Munique.
O Olympiacos pode ser pela primeira vez um campeão sem derrotas. Isto demonstra um certo desequilíbrio na liga grega?
-Não há desequilíbrio. Quando terminámos a primeira fase, o campeonato estava muito equilibrado. Até jogarmos contra o PAOK, estávamos com uma diferença de dois pontos. O triunfo em Tumba [casa do PAOK] talvez tenha fragilizado o PAOK em termos emocionais, mas o Abel poderá responder melhor do que eu. Ao contrário, nós crescemos muito com essa vitória. Esse foi o momento. Por outro lado, nunca é fácil os play-off, jogar a toda a hora com o Panathinaikos e o AEK. O campeonato é muito complicado, difícil.
Pedro Martins é o quinto treinador português a orientar o Olympiacos. Antes, passaram pelo clube grego Leonardo Jardim (2012/13), Vítor Pereira (2014/15), Marco Silva (2015/16) e Paulo Bento (2016/17)
O Pedro Martins junta-se ao lote de treinadores portugueses que têm deixado uma marca bem vincada na Grécia...
-Há gente com muita capacidade e que não foi campeã. O José Peseiro, por exemplo, passou pela Grécia e não foi campeão. O Fernando Santos fez um extraordinário trabalho e não foi campeão. Aliás, foi o grande impulsionador do treinador português na Grécia.
O Olympiacos tem um presidente mediático, polémico. Muitos até o consideram excêntrico. Como é a sua relação com Marinakis?
-Temos uma excelente relação. Sinceramente, não o considero excêntrico, nem sei o que as pessoas querem dizer com isso. É um presidente ativo, adora o clube, apaixonado pelo clube. Vive intensamente o Olympiacos. É alguém que me tem dado estabilidade a todos os níveis para desenvolver um bom trabalho. Nunca nos faltou com nada. Tem uma visão muito peculiar e diferente porque está um bocadinho à frente dos outros. Se o Olympiacos está um passo à frente é porque mantém uma organização tão forte e profissionalizada em comparação com os outros.
"Marinakis tem uma visão muito peculiar e diferente"
Isso é quando ganha. E como é Marinakis quando perde?
-A cara que temos quando perdemos não é igual à cara que temos quando ganhamos. Isso é normal. O mais importante é sabermos para onde vamos, qual é o nosso percurso. Se assim não fosse, não teria renovado e já não estaria aqui.
Por vezes sente-se asfixiado pela exigência de ter de ganhar sempre?
-Não, nem pensar nisso. Eu fui contratado para que o Olympiacos recuperasse a hegemonia do futebol na Grécia, mas sabíamos que o primeiro ano era difícil. Quando fizemos a remodelação completa do plantel sabíamos que seria muito complicado. Não fomos buscar só jogadores já feitos, fomos buscar também muita juventude para crescer. Portanto, houve essa paciência nos momentos mais críticos. A exigência é normal e é tão grande como tem o Benfica, o Sporting e o FC Porto, em Portugal. Como têm aqui o Panathinaikos e o PAOK. A pressão para o Abel também tem sido forte, porque o ano passado o PAOK ganhou e este ano está nesta fase mais complicada. Eu prefiro ter esta exigência de lutar por títulos do que propriamente não ter uma equipa capaz de o fazer.
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