A vitória incontestável contra a Alemanha foi apenas a segunda de Portugal contra uma grande seleção, desde o Euro’2016
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O futebol são 11 contra 11 e, no final… a Alemanha fica virada do avesso. Em Munique, anteontem, Portugal contrariou um dos mais conhecidos ditados futebolísticos e uma tendência desagradável no histórico mais recente. Depois de ter entrado para a eternidade com a conquista do Europeu de 2016, batendo uma França a jogar em casa, a Seleção Nacional teve 13 jogos contra grandes seleções — entenda-se, as que conquistaram troféus — e o saldo é muito pobre: apenas duas vitórias, como se vê na lista abaixo.
Esta contra os germânicos, que não acontecia desde o “hat-trick” de Sérgio Conceição no Euro’2000 (é coisa de família) e um triunfo diante da Itália, também na Liga das Nações, em 2018. De resto, a feijões ou muito a sério, Portugal perdeu por cinco vezes e empatou seis, com Espanha e França a serem os adversários mais repetidos. Um registo que tem deixado a equipa das Quinas no meio da ponte, entre uma seleção de talento individual reconhecido por todos, mas que tarda em afirmar-se como tal quando entra na piscina dos grandes.
No triunfo por 2-1, sobressaiu a forma como Portugal explodiu num caudal ofensivo na segunda parte, logo após o (muito contestado) golo da Alemanha. A formação de Roberto Martínez terminou a partida com 17 remates, 13 dos quais só na segunda parte, período em que acumulou 2,02 de golos esperados, segundo os dados do “Playmaker” — uma métrica que determina a probabilidade de cada disparo terminar em golo, mediante fatores como a distância para a baliza, o ângulo e o tipo de remate. Francisco Conceição iniciou a reviravolta com um golaço e não ficou nada longe de imitar o pai, entre os vários lances de perigo que Portugal criou. Para se ter outra ideia, a diferença é imensa se recuarmos a uma das piores exibições da Seleção dos últimos tempos, quando, em março, perdeu por 1-0 na Dinamarca: em Copenhaga, fez apenas oito remates em todo o encontro.
Alemães vão ao divã
Não se trata de ser desmancha-prazeres, mas antes colocar as coisas numa admirável nova perspetiva: e se estivermos num ponto em que, neste momento, Portugal tem melhor seleção do que a Alemanha? Na Imprensa germânica, conclui-se que sim, partindo da admissão de Julian Nagelsmann de que a falta de profundidade do plantel é um problema. “Os portugueses lançaram jogadores de qualidade, incluindo Vitinha e Francisco Conceição. O plantel de Portugal vale mais 300 milhões de euros do que o alemão”, escreveu o diário alemão “Bild”, com base na avaliação do portal “Transfermarkt”. “Estamos no perigo iminente de, depois da Espanha, sermos ultrapassados por Portugal”, prosseguem as crónicas, ressalvando que a “Mannschaft” tinha ausências de peso como Rudiger, Schlotterbeck, Musiala e Kai Havertz.