"Ucrânia não merece isto, porque há pessoas muito boas, homens, mulheres e crianças…"
À Radio UDA, estação do Almería, clube que representa, Nélson Monte contou de novo a dramática fuga à guerra da Ucrânia.
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Nélson Monte, futebolista de 26 anos que atuava na equipa ucraniana do Dnipro, relatou esta quarta-feira o pânico que viveu quando o território ucraniano foi invadido pela Rússia. Atualmente ao serviço dos espanhóis do Almería, da segundo escalão, o defesa lembrou: "Quando olhei pela janela, havia um tanque à frente do meu quarto".
Natural de Vila do Conde, Nélson revelou que tudo "foi uma loucura". "Estava na Turquia, cheguei à Ucrânia e, à uma da tarde, saiu a notícia de que tinham cancelado o campeonato por trinta dias. À noite, começaram a cair bombas", afirmou à Radio UDA, do Almería. E prosseguiu: "Eu estava a dormir e ouvi um barulho muito alto sem entender o que podia ser. Quando abri a janela, vi outra bomba e disse para mim mesmo: a guerra começou. Entrei no meu carro, com dois espanhóis e um brasileiro, e começamos a conduzir", recordou.
Monte disse ainda que, durante a viagem, ele e os outros três elementos que o acompanhavam receberam uma proposta do Dnipro para descansar num hotel que era do presidente do clube, mas como estava tudo tão caótico e eles só queriam chegar a um país fronteiriço, sentiram "medo, muito medo". "Enquanto conduzíamos por cerca de 28 horas, sem parar, para chegar à fronteira, vimos muitos tanques. Queríamos ir para Lviv e depois para a Polónia, mas a meio do percurso, informaram-nos que a cidade de Lviv estava a ser atacada e, assim, viramos em direção à Roménia", relembrou.
Nélson pronunciou-se sobre a experiência horrível que vivenciou, enfatizando as contínuas cenas de guerra, com "muitos aviões a passar e as sirenes a tocar" e manifestou total solidariedade para com o povo ucraniano, salientando que "não merece isto porque há pessoas muito boas, homens, mulheres e crianças... São momentos que jamais esquecerei", apontou.
O defesa que, em Portugal, representou o Rio Ave e o Benfica nos escalões de formação, acrescentou que "as crianças chegavam com os pais à fronteira, estes davam um beijo aos filhos que fugiam com as mães e depois voltavam à Ucrânia para lutar" e concluiu: "Dói muito, dói-me o coração. Existem crianças de todas as idades que não sabem se no dia de amanhã têm o pai vivo".
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