
O capitão do voo Miguel Quiroga relata falhas elétricas e falta de combustível solicitando uma aterragem prioritária e de emergência. O áudio da conversa entre a torre de controlo do aeroporto de Medellín, na Colômbia, já circula na Internet
Veio a público a gravação da conversa entre a torre de controlo do aeroporto de Medellín, na Colômbia, e o piloto do avião que acabaria por se despenhar, na madrugada desta terça-feira, vitimando 71 pessoas, entre as quais grande parte da equipa do Chapecoense.
Na gravação Miguel Quiroga relata falta de combustível no avião e pede várias vezes para aterrar antes do acidente. O primeiro pedido é feito aos dois minutos da gravação.
À solicitação do piloto, uma controladora responde que a "próxima chance" para a aterragem seria dali a sete minutos, porque havia uma emergência com outra aeronave - um Airbus da Viva Colômbia - a ser atendida naquele momento.
Por isso, ela dá ordens para que o avião que transportava a equipa do Chapecoense permaneça no ar. Em seguida, autoriza a aproximação da outra aeronave. A conversa se estende até o pedido final de Quiroga, já em tom de desespero, aos nove minutos.
"Em aproximação, solicitamos prioridade para a aproximação, apresentamo-nos com um problema de combustível", dá conta Miguel Quiroga.
A torre de controlo responde pouco tempo depois: "Entendo que solicita a prioridade para a sua aterragem igualmente por um problema de combustível, correto?
Depois da confirmação da informação pelo piloto do voo da companhia aérea Lamia, CP2933, a torre de controlo dá novas instruções: "Ok, então vou-lhe dar vetores para proceder ao localizador e efetuar a aproximação em sete minutos".
Passados mais de quatro minutos desde a transmissão da última informação, o piloto volta a perguntar pelas instruções de aproximação à pista de aterragem. No entanto, a controladora aérea avisa: "Atenção, tenho uma aeronave por debaixo da sua que está a tentar a aproximação e, além disso, estão a efetuar uma revisão da pista. Quanto tempo tem para permanecer na sua aproximação?"
"Tenho uma emergência de combustível, senhora. Por isso peço-lhe por uma vez o trajeto final", urge o piloto. "Solicito descida imediata", insiste, segundos mais tarde, Miguel Quiroga.
Nos segundos que se seguem, a torre de controlo avança para o desvio do outro avião que preparava a aterragem para abrir caminho à aeronave em emergência: "Pode efetuar agora a viragem à direita para iniciar a descida. Tem trânsito a uma milha por debaixo de si", confirma a controladora.
Apesar disso, o capitão confirma que vê o tráfego e insiste em ser incorporado "de uma vez no localizador". "Capitão, você tem dois, um zero, necessita de baixar de nível. Tinha de virar à sua direita para iniciar a descida", responde a torre.
"Negativo, senhora. Estamos já a iniciar a descida e estamos para o localizador", relata o capitão do voo. Com esta informação, a controladora desvia, mais uma vez, dois aviões nas proximidades do aeroporto e volta ao contacto com o avião da Lamia: "Tem trânsito à sua frente, 18 mil pés".
"Está identificado e temo-lo acima de nós, senhora. Estamos no trajeto final", informa o piloto.
"A aeronave está com 18 mil pés, capitão, o trânsito agora está abandonado pela esquerda, além disso tem um trânsito que já desocupou 18,500", instrui a torre de controlo. Com o início da frase impercetível, o piloto termina dizendo "a pista e nós estamos com um oito mil ".
Ao minuto seis e 58 segundos da gravação, a torre de controlo dá as instruções finais para a aterragem: "Atenção. Continue a aproximação. Pista húmida. Informe se quer algum serviço em terra".
Mais de dois segundos depois o capitão volta à comunicação e relata uma situação de extrema urgência: "Avião está em falha total. Elétrica total. Sem combustível".
A controladora responde afirmando que a pista está livre e "operável" e que os bombeiros em terra estão a postos.
"Vetores senhora, vetores para a pista", pede o piloto. E a controladora, por esta altura, tinha perdido o sinal de radar do avião: "O sinal radar perdeu-se, não o tenho, notifique o rumo agora".
"Vamos com rumo três, seis, zero", informa o capitão Quiroga. "Com rumo... vire para a esquerda zero um zero, proceder ao localizador de bordo Rionegro, uma milha adiante. Neste momento encontra-se... correto, para a esquerda com rumo três, cinco, zero", explica a controladora claramente ansiosa.
"Você está a 0,1 milhas do borde Rio Negro. Não o tenho com a altitude". "Nove mil pés senhora, vectores, necessitamos de vectores", insiste o piloto.
"Você está a 8,2 milhas da pista, que altitude tem agora?", pergunta a controladora. A partir daqui não existe mais comunicação por parte do avião que entretanto se despenha em Cerro Gordo.
