Testemunho da mulher que acusa jogadores do Vélez de agressão sexual: "Alma destruída"
A jornalista de 24 anos contou em Tribunal a sua versão do que aconteceu na noite que passou com Braian Cufré, Abiel Osorio, Sebastián Sosa e José Ignacio Florentín
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A mulher que acusa Braian Cufré, Abiel Osorio, Sebastián Sosa e José Ignacio Florentín, jogadores do Vélez Sarsfield, de agressão sexual testemunhou em Tribunal e a imprensa argentina revela agora o relato da jornalista desportiva, de 24 anos. O caso aconteceu no início de março, em Tucumán, e os futebolistas da equipa da primeira divisão Argentina estão detidos desde 18 de março, recorde-se. Os respetivos contratos com o clube estão suspensos.
A jovem explicou que aceitou ir até ao hotel com os jogadores, mas que o que aconteceu depois não foi consentido. E diz que a sua vida virou um inferno desde então.
"Vou começar por dizer que isto vai ser a minha prisão, porque a minha vida é um inferno e uma prisão há três semanas, tudo parece uma loucura. Tenho medo. Não me parece justo que eles passem o resto do julgamento numa casa com piscina, com uma baliza de futebol, a viver bem enquanto a minha vida é um inferno há três semanas. Não posso ir a lado nenhum sozinha. A minha cara está por todo o lado. Têm o meu nome, tudo. Não posso sair sozinha, nem sequer comprar um livro no shopping porque as pessoas ficam a olhar para mim. Os comentários que me chegaram têm sido aberrantes. Não me tiraram só a dignidade e a sexualidade, tiraram-me a carreira, os sonhos, a felicidade, o sorriso e, acima de tudo, a vontade de viver", referiu.
"Não aceito voluntariamente ir para um hotel com quatro pessoas e em nenhum momento disse 'festa louca para todos'. Nunca foram essas as minhas palavras. Quiseram passar outra mensagem. Sempre que combino algo com um futebolista, seja para me passar táticas, para me contar novidades da equipa, para beber alguma coisa, para sair, para o que seja, é algo privado. Não quero que isto se confunda com a minha vida desportiva, de jornalista, privada, ou o que seja. Eu dei consentimento para ir ao hotel, mas tudo o que se passou depois não foi consentido. Aceitei ir espontaneamente, mas tudo o que veio depois não aceitei. Eu não estava consciente, não estive lúcida a 100% em nenhum momento. Em alguns momentos, a cabeça respondia e o corpo não. Nenhuma vítima fala sobre o momento porque é algo que leva algum tempo a processar. Fui trabalhar nos dias seguintes. Não porque estava bem ou porque não se tinha passado nada, foi um mecanismo de defesa. De dizer 'bom, vou tentar avançar'. Claro que não consegui avançar, e as minhas colegas de trabalho viram que não estava bem e que se passava algo. Fui à ginecologista com um ataque de angústia total, a chorar e a pedir por favor para me atenderem. A cabeça por momentos funcionou, o corpo não", continuou.
"Parece-me injusto que estas quatro pessoas continuem a não ser punidas. A viverem numa casa luxuosa quando a minha vida é uma prisão e um inferno. As coisas não são como eles dizem, a sua imagem não está prejudicada. Também sofri um julgamento mediático porque a minha cara apareceu em todo o lado, o meu nome circulou sem as coisas estarem confirmadas. Já não tenho nada na vida, não tenho privacidade, não tenho identidade, não tenho intimidade, não tenho absolutamente nada. Só tenho a minha vida, é o que me motiva a lutar por mim e por todas as outras que vêm a seguir. Culpo-me todos os dias por não me ter ido embora dali, absolutamente todos os dias. Ninguém sabe o que vivi e senti naquele momento e, por isso, não vou permitir que questionem o que podia ter feito num momento de lucidez. Asseguro-vos que a minha alma está destruída. Baixei muito o meu peso, a angústia é tanta que não consigo comer, nem sequer consigo ir ao ginásio porque as pessoas olham para mim, não consigo respirar por vezes. A angústia é tão grande que me dói o peito e o ar não sai. E nem falo de tudo o que tem chegado nas redes sociais, coisas horríveis", lamentou.
"Nas câmaras de segurança, eles [Braian Cufré e José Florentin] abraçam-se e riem-se, como se fosse uma vitória fazerem o que tinham feito. O quê? Agarrar-me num estado de total vulnerabilidade e contra a minha vontade, como um troféu? Gostaria de perceber o que sentiam naquele momento. Dizem que pedi dinheiro para voltar para casa? Não pedi dinheiro a ninguém, nunca na minha vida. É uma mentira completa. Das duas uma: ou pagaram-me pelo que me fizeram ou queriam calar-me. De certeza", disse a mulher em Tribunal.