"Temos sempre 40 mil no estádio, tudo vestido a rigor, as pessoas gritam e choram"
Visão do caminho trilhado pelo país para ganhar credibilidade com a sua Superliga. Falam João Carlos Teixeira e Manafá. Criativo elogia paixão chinesa pelo futebol e Manafá, mais recente nesta realidade asiática, sente que veio para um campeonato forte e com identidade. Uma viagem sem os milhões de outrora.
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A Liga Chinesa revela progressos e o jogador português tem-se deixado atrair pelo campeonato, desbravando uma oportunidade financeiramente irresistível e, desportivamente, tentadora. Sem vislumbre dos milhões de outros tempos, menos ainda o cabimento de pretensões de ombrear com a Liga Saudita, apenas tem procurado solidificar um caminho, olear mecanismos de crescimento, procurando um retorno a partir da sua base, gerando interesse nas competências dos mais novos e no reforço das valências e organização. Ricardo Soares atestou bons serviços no Beijing Guoan, onde jogam Guga e Fábio Abreu, ao passo que Manafá e João Carlos Teixeira se encantam em Shanghai.
O antigo lateral do FC Porto já fez 38 jogos no Shanghai Shenua, vivendo a satisfação da aposta, sem remorsos. “A chegada à China foi, sem dúvida, uma experiência transformadora. A nível pessoal, o contacto com uma cultura tão diferente, tem-me feito crescer muito fora do campo, num país com uma identidade muito própria, uma paixão genuína pelo futebol e um sentido de respeito e disciplina que admiro”, valoriza o lateral-direito, creditando a reputação da competição e o leque de condições oferecidas. “Em termos desportivos, a Superliga chinesa surpreendeu-me pela intensidade e nível competitivo. Encontrei um campeonato bem organizado com estruturas de topo e cada vez maior qualidade no campo”, regista, identificando interesse combinado com planeamento e margem para selar a tentação para o exterior. “A qualidade tem subido, a nível tático como físico. Sente-se um entusiasmo crescente dos adeptos, nas bancadas, no apoio durante 90 minutos e nas redes sociais. Acredito que, neste caminho, a liga poderá voltar a ganhar nomes sonantes, mas, desta vez, com um projeto mais sólido por detrás. O foco não me parece estar apenas em contratar grandes jogadores, é mais criar uma competição forte e com identidade”, vinca Manafá.
Esta interpretação é comum a João Carlos Teixeira, 32 anos, na terceira época no clube. “No passado contrataram jogadores que recebiam aqui o que não recebiam em parte alguma do mundo. Tiveram essa aprendizagem e estão a saber crescer com menos nomes e menores orçamentos, trazem jogadores de qualidade na mesma, os clubes estão organizados no scouting, apostam com sentido, muitas vezes, na liga portuguesa. É um crescimento mais vagaroso, mas mais consistente”, desfia o criativo formado no Sporting, que passou por FC Porto, Braga e V. Guimarães, cómodo com o seu perfil mais inspirador. “Um português chega aqui com uma bagagem muito positiva. É mais fácil ter resultados, juntando-se o facto de termos passado por equipas grandes. Faz com que dê muitos feedbacks a outros jogadores, mais jovens. Funcionas como um exemplo, na ética de trabalho, de como lidar com a idade, cuidados com o corpo, outros aspetos mais técnicos e táticos. Esta liga tem melhorado por si só”, argumenta, tributando o apoio esmagador do 12.º jogador. “O povo chinês gosta de futebol, gasta dinheiro em bilhetes, camisolas e material do clube. Temos sempre 40 mil no estádio, tudo vestido a rigor, as pessoas gritam e choram, temos grande impacto na vida delas. A paixão é como na Europa, vejo muitas crianças influenciadas pelos pais, é uma coisa geracional, o povo chinês gosta e pratica todos os desportos”, conta.
Também Manafá enfatiza o fenómeno, exaltando o espírito de proximidade e cumplicidade. “Os adeptos chineses são extremamente apaixonados, existe um respeito enorme pelos jogadores, um entusiasmo incrível nos estádios e uma ligação forte aos clubes locais. É impressionante ver como cada jogo é vivido com intensidade, mesmo fora das grandes cidades. O futebol está a ganhar espaço na vida das pessoas”, observa Manafá, consciente de avanços e recuos mas de uma ordem instalada que indica um fortalecimento bem alicerçado. “Esta liga viveu uma fase em que atraiu estrelas do futebol mundial e depois passou por maior retração. Neste momento, noto uma reconstrução mais sustentada, sente-se o crescimento gradual, clubes com maior estabilidade, organização e desenvolvimento a partir da base. Isso pode ter um impacto mais positivo”, antecipa o português.