Tebas critica: "Qualquer problema que surja é resolvido com novas competições"
O presidente da Liga espanhola de futebol, Javier Tebas, falou no âmbito da semana da integridade no desporto, iniciativa organizada pela SIGA (Sport Integrity Global Alliance), liderada pelo português Emanuel Medeiros.
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Departamento de integridade da La Liga: "Em abril de 2013, criámos um departamento de integridade que está em franco crescimento e toca em vários aspetos que, na altura, não pensávamos que poderiam afetar a integridade do desporto. Um desses problemas era o match-fixing e para isso criámos uma unidade que integra polícias, tecnologia e ferramentas, no sentido de preservar o resultado do jogo e os eventos que poderiam ocorrer. Isso deu lugar a vários e significativos processos. Outro aspeto é a segurança nos estádios. Também é um aspeto da integridade, permitindo que os adeptos se desloquem aos estádios em segurança. Para isso, implantamos um princípio básico de segurança sendo da responsabilidade da La Liga, desde que o adepto sair e regressa a casa, por isso há uma colaboração com as forças de segurança."
Vigilância em casas de apostas: "A luta contra a pirataria é outro aspeto e não é só na vertente audiovisual, mas também no merchandising, e ainda questões de transparência na explicação das contas dos clubes, não basta apresentá-las. Há um investimento em tecnologia para vigilância das operações das Casas de Apostas, que nos permite analisar de forma instantânea o que lá se passa, quer em Espanha quer no estrangeiro. Dispomos de três programas anti-pirataria que são utilizados pelo Governo espanhol e que rastreiam as redes sociais e sites para detetar conteúdos colocados sem autorização."
Distribuição da riqueza: "Há ainda a questão do controlo económico que se centra nas normas da economia. Os clubes apresentam os contratos dos seus jogadores e com patrocinadores. Há muitos outros aspetos para trabalhar a integridade do desporto, mas a mais importante é trabalhar a sustentabilidade do desporto e do futebol. Estamos, atualmente, num momento complicado, que toca a revisão das normas de transparência, em concreto na governância. Parece-me que há um défice de governação das instituições, Ligas, federações, UEFA, FIFA e outros desportos, que não corresponde com o que é a indústria do desporto que gera em riqueza. Eu falo do exemplo de Espanha, onde gera 1,37% do PIB e mais de 180 mil postos de trabalho diretos e indiretos pelo que as normas pelas quais se regem as nossas instituições terão de ser diferentes, não podem ser as mesmas de há 20 anos. Terá de haver reformas. E vemos como aparece uma série de novos clubes, novas competições, mais dinheiro para os clubes mais ricos e instituições, quando, afinal, esse dinheiro é para um número limitado de jogadores, que são as grandes estrelas do futebol e é para que tenham mais dinheiro para Porches, Ferraris, casas maiores e não é bem distribuído. Acho que é tempo de se fazer uma revisão ética. As grandes estrelas têm de ganhar bem, mas temos de trabalhar para normas de transparência e de governação para que esta ética com temos de estar chegue a todos, para que haja uma melhor distribuição da riqueza no futebol."
Sobre a Superliga Europeia: "A Superliga para mim não é um conceito de competição, daí tenha fracassado a ideia de 15 equipas, cinco convidados. A Superliga é um conceito mais amplo, é uma ideologia que vem dos G-14, em que o poder do futebol tem de estar nas mãos dos maiores do futebol, e dos que têm a capacidade para decidir como se organiza o futebol, que jogos são interessantes."
A ideia do Mundial a cada dois anos: "Estamos a entrar num momento perigoso e não apenas para a FIFA. Qualquer problema que surja é resolvido com novas competições. Reformar a Champion League; ter um Mundial de Clubes... Se é preciso melhorar a distribuição do dinheiro, o que fazer? Um Mundial a cada dois anos... Os clubes grandes queixam-se à UEFA? Muda-se o formato para os clubes receberem mais... Isto não é solução. Isto arruína o futebol. As Ligas Europeias, em termos de negócio, por época, geram sete vezes mais que a UEFA. As Liga nacionais geram 20 vezes mais do que a FIFA. E o que se está a fazer é não ouvir, ou não recordar - esta é outra coisa que teremos de mudar nas normas de governação. Não analisaram os efeitos económicos."
A integridade e o TAS: "Para mim, uma das maiores preocupações da integridade e tenho de o dizer claramente é o mundo do TAS [Tribunal Arbitral do Desporto]. Disse várias vezes publicamente que não acredito no TAS. É preciso mudar a justiça desportiva. A UEFA condenou o PSG por violar o fair-play desportivo, o Manchester City, e o TAS absolveu-os...O TAS não é independente, porque 80% dos seus pressupostos dependem da FIFA e da UEFA. Cerca de 100 casos, 93% são decididos a favor da FIFA."
Situação atual do Barcelona: O Barcelona se não pôde contratar, porque as normas de controlo económico do futebol espanhol beneficiam com a sustentabilidade do Barcelona. Pode dever mil milhões de euros, mas os retornos foram afetados pela Covid-19. Madrid já tomou medidas, vendeu jogadores, reduziu a massa salarial e pôde sair melhor da crise. O Barcelona não está mal, o que se passou é que não conseguir manter Messi, porque não tem capacidade económica ou por outras circunstâncias. Há outros grandes clubes europeus em pior situação do que o Barcelona. Só se fala no Barcelona devido ao nosso controlo financeiro, caso contrário não se falaria."