Natural de Haaksbergen, na região de Twente, Ten Hag, o treinador dos lanceiros, foi recebido com desconfiança no clube da capital, quando substituiu Marcel Keizer, e até alvo de alguma chacota por causa da pronúncia.
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Quando, em dezembro de 2017, Marc Overmars chamou Erik ten Hag, de 49 anos, para assumir o cargo de treinador do Ajax, a reação dos adeptos dos lanceiros e dos comentadores foi fria. O técnico que hoje tem a Europa aos seus pés, pelos resultados e exibições na Liga dos Campeões, onde irá jogar as meias-finais contra o Tottenham, foi recebido com grande desconfiança. Afinal, o orgulhoso Ajax habituou-se a ter sucesso com homens da casa, de Rinus Michels, o ideólogo do futebol total, a Johan Cruyff e Van Gaal, o último campeão europeu no clube, em 1995.
Técnico não vem da escola do clube ou de Amesterdão e, apesar de inspirado por Cruyff, é um discípulo de Guardiola.
Natural de Haaksbergen, na região de Twente, Ten Hag não disfarça a sua pronúncia. Colunista no "De Volkskrant", Bert Wagendorp escrevia recentemente que o técnico "é melhor que Michels e Van Gaal, mas recebe menos crédito" e dá uma justificação: "A culpa é da pronúncia. Em Amesterdão, a capital do país e da arrogância, pensam que um verdadeiro "tukker" [natural da região de Twente] não pode ser um bom treinador. (...) Ele foi e é um alvo fácil para os humoristas."
O Ajax leva 160 golos, recorde do clube numa época, em 53 jogos disputados, uma média de mais de três por jogo.
Hoje, com a possibilidade de o Ajax vencer a Eredivisie pela primeira vez em cinco anos, estando na luta pela final da Champions e praticando um futebol que respeita todos pergaminhos e a história do Ajax mágico dos anos 70 ou da década de 90, Ten Hag começa finalmente a receber algum crédito pelo trabalho realizado. Isto mesmo se, para muitos, "o sucesso continue a ser atribuído a uma espetacular geração de talentos, como De Jong, De Ligt e Van de Beek, e à compra de jogadores experientes", ainda nas palavras de Bert Wagendorp.
A influência de Pep
Sem ADN Ajax, Ten Hag fez a maior parte da carreira de central no Twente, admite ter sido influenciado por Johan Cruyff, mas foi do maior discípulo deste, Pep Guardiola, que bebeu as ideias e conhecimentos que aplica no Ajax. Conheceram-se no Bayern - o holandês treinava a equipa B, quando estava lá o catalão -, tornaram-se amigos e Ten Hag admite: "Fui moldado pelo estilo holandês, mas Munique aguçou a minha visão. O futebol dominante de Guardiola atrai-me. Via todos os jogos. Desde Pep, o futebol na Alemanha é diferente, vi todos os treinos possíveis e aprendi imenso de metodologia e como transpor essa filosofia para o campo."
Diretor desportivo chegou em 2012 e tem lucro de 186,83 M€
Apontado como "maníaco pelos detalhes" e pelo "conhecimento científico", Ten Hag conta, sem dúvida, com grandes talentos. Mas é pelo gosto pelo risco, pela capacidade de jogar em todo o campo e pela grande velocidade que este Ajax se tornou um caso sério e capaz de surpreender equipas como o Real Madrid e a Juventus com autoridade.
Experiência que faz a diferença
A maioria dos jogadores que fazem parte do onze-base ou jogam com regularidade no Ajax de Ten Hag já se encontrava no clube aquando da sua chegada. Nomeadamente os jovens talentos da formação Mazraoui, De Ligt, de Jong ou Van de Beek, ou os extremos Ziyech e Neres, contratados em 2016 e 2017, respetivamente. Pouco após entrar, Tagliafico foi o primeiro reforço recebido, mas foi no último verão que o técnico acertou com Overmars as aquisições decisivas para o êxito atual. Blind e Tadic, de 29 e 30 anos, trouxeram experiência e qualidade à defesa e ataque. A equipa agradece.
Nas sete épocas que leva no clube de Amesterdão, o dirigente apenas nesta última gastou mais dinheiro em compras do que recebeu em vendas. Os resultados desportivos têm justificado.
Overmars trouxe sucesso económico e desportivo
Em junho de 2012, Marc Overmars, 46 anos, assumiu a direção desportiva do Ajax, o clube onde jogou entre 1992 e 1997 e pelo qual se sagrou campeão europeu em 1995. Já com experiência de dirigismo desportivo - no Go Ahead Eagles, do qual se tornou acionista em 2005, e para o qual contratou o treinador Erik ten Hag em 2012, antes de se mudar para Amesterdão -, Overmars não demorou a criar um impacto positivo nos lanceiros.
Logo nessa época, contratou a custo zero, ao NEC, o dinamarquês Schone, hoje ainda um dos titulares no Ajax que está a deslumbrar a Europa. Ao longo destes anos foi sempre capaz de obter saldos positivos entre compras e vendas de jogadores, à exceção da presente época, que marcou uma mudança na política do clube: segurou a maioria dos seus jovens valores e ainda foi buscar veteranos como Daley Blind e Tadic, que entraram para o pódio das aquisições mais dispendiosas.
Mas mesmo com um saldo negativo esta época de 33,1 M€, somando já os 75 milhões de euros da venda de Frenkie de Jong ao Barcelona, para a próxima época, o balanço da sua gestão tem um lucro de receitas de 186,83 M€.
Em relação ao médio que é uma das coqueluches da equipa, refira-se que este foi contratado em 2015, ao Willem II, pelo preço simbólico de um euro. Contudo, o clube vendedor assegurou, junto do Ajax, que receberia dez por cento de uma futura venda, pelo que vai encaixar 7,5 M€ com a transferência do jogador para o Barcelona.