"Sou fã de Villas-Boas. Com Redknapp era mais 'não deem cabo do meu fim de semana'"
O brasileiro Sandro adorou experiência com André Villas-Boas na passagem de ano e meio pelo Tottenham, garantindo que foi o atual dirigente dos dragões e De Zerbi os grandes responsáveis do seu desejo de ser treinador
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Sandro já não duvida do treinador que habita nele, enriquecido de vivências, no auge e no declínio. “O girar da chave veio quando estava no Benevento em Itália com De Zerbi. Jogar passou a ser formação para treinador, idealizando ser bem melhor nesse papel. Acho que o futebol me preparou, foi uma faculdade”, revela o antigo médio, numa entrevista a O JOGO.
“Estou apto a treinar, tirei um UEFA B. Posso ser adjunto, estar no campo, aprender. Estou aberto a oportunidades, sejam em Portugal, Inglaterra ou Itália. Eu queria que fosse na Europa, pondo em prática o que vivenciei”, partilha Sandro, que tem André Villas-Boas como elo marcante da sua carreira, no Tottenham.
“Villas-Boas encheu-me os olhos pela organização, até porque vinha treinando com Redknapp, que era mais motivação e mensagens como “não deem cabo do meu fim de semana! O Villas-Boas chegou com mais conversa, análise e intimidade, entendendo cada um. Tinha notável facilidade a comunicar e, entre nós, foi ligação pronta pela língua. Sempre dei a vida em campo, mas com ele era mais parceria”, relata, juntando.
“Eu dizia-lhe para dar uma folga, quando a equipa jogava bem, ele respondia que nós tínhamos de dar um pouco mais. Feedback e ajuda mútua. Levo dele essa organização e comunicação, uma interação verdadeira com os jogadores”, reconhece, apontando o agora presidente e De Zerbi como inspiradores, já que o italiano previa em treino tudo o que acontecia no jogo. Sobre a época e meia de Villas-Boas em White Hart Lane, fica a visão da rotura.
Acho que teve o azar da saída do Bale. Veio muita gente nova e quem pagou o preço foi o Villas-Boas. Muitos jogadores não queriam essa decisão. Era complicado ter resultados do dia para a noite. Chegaram mais tarde, com Pocchetino. Eriksen e Lamela atingiram o melhor nível, chegou Dele Ali”, relembra, admitindo que se projetou a “tristeza” no balneário com a sua partida. Sandro viaja até hoje, sem evidenciar qualquer surpresa. “Ele já me tinha falado que ia lutar para concretizar o grande sonho dele, que era ser presidente do FC Porto. Muito feliz de ter conseguido, sou fã dele e de como comunica. Seguramente foi alguém que também abriu a minha mente para o quero fazer hoje”, revela-
Da soberba condução lusa ao luxo envolvente em Londres, Sandro curva-se aos craques. “Tive a sorte de jogar com atletas desse patamar, que jogavam de olhos fechados. Se estava num mau dia, eles colocavam-te para cima. Se eu dava um mau passe ao Modric, ele transformava num passe para golo. Vi Harry Kane crescer, vi Bale no auge, ainda Van der Vaart, Lennon, Defoe ou Adebayor. Eu tinha que dar a vida e roubar a bola para eles brilharem”, sustenta, colocando o galês nos píncaros. “Bale era fora da fasquia, fazia coisas incríveis, ganhava jogos sozinho. Batíamos palmas para ele no balneário, afinal também eram prémios de jogo que recebíamos por conta dele. Em 2012 ele fazia o que queria, golos e assistências. Se o jogo estava difícil, nós entregávamos a ele a responsabilidade”, lembra Sandro, ciente que o extremo foi desviado da rota desejada.
“Iria ser o melhor do mundo, não fossem as lesões, sendo certo que apanhou Cristiano e Messi. Ele era importante no Real Madrid mas estava sempre parar, isso psicologicamente mata-te. Foi obrigado a começar de novo várias vezes.”, contextualiza, descrevendo de forma sublime o génio incansável de Modric. “Esse é absurdo no foco. Vínhamos de um jogo contra o United, em que tínhamos jogado bem, num empate, eu estava sentado ao seu lado, brincava e falava com toda a gente. Mas Modric estava concentrado a ver clipes individuais do jogo e censurava-se por algo que não tinha feito bem. Quando na realidade tinha feito bem. Mas ele achava que podia ser bem melhor. Chamava-lhe louco! Ajudou-me imenso a evoluir, era apaixonado e obcecado. Ainda é incrível aos 40 anos”, garante.