País organizador do Mundial convocou cidadãos que em condições normais evitariam "ir à tropa" por manifesta escassez de recursos humanos
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O Catar, onde daqui a menos de dois meses começa a disputar-se o Mundial de futebol (20 de novembro a 18 de dezembro), continua a ser um manancial de notícias, mas nem todas - ou poucas - positivas.
Esta terça-feira, soube-se que devido à escassez de elementos para garantir a segurança em pontos chave relacionados com o campeonato do mundo, como acessos aos estádios ou dentro destes, o país organizador da maior competição de futebol convocou centenas de cidadãos para o serviço militar obrigatório. Só que em vez de irem pegar em armas, vão auxiliar nas tarefas de segurança do Mundial. Segundo a agência Reuters, que divulgou esta história com base em documentos a que teve acesso, entre os convocados encontram-se diplomatas no estrangeiro e outros cataris que em condições normais evitariam o serviço militar por se considerar que exercem funções vitais, nomeadamente em instituições estatais.
Entre as tarefas para que estão a ser treinados estes cidadãos encontram-se a gestão das filas de adeptos no acesso aos estádios, a deteção de drogas, álcool ou armas que possam ser escondidos das mais variadas formas, no corpo ou vestuário.
Num país com 2,8 milhões de habitantes, apenas 380 mil são cataris. A falta de pessoas para assegurar funções ligadas ao Mundial levou, por exemplo, a pedir à Turquia o envio de polícias de choque.
Se a organização da segurança num Mundial já é uma missão complicada, olhando a alguns dados demográficos do Catar percebe-se melhor a dimensão do problema: o país tem uma população de 2,8 milhões dos quais somente 380 mil são cataris. Durante o evento, são esperados 1,2 milhões de visitantes, o que obrigou o anfitrião do Mundial, por exemplo, a fazer um acordo com a Turquia, que enviará três mil polícias de choque.
Apesar de só esta terça-feira ter sido divulgada esta história, a chamada dos cataris para o cumprimento deste serviço militar tão especial começou no início de setembro. Segundo a Reuters, nos documentos a que teve acesso este serviço é referido como "dever patriótico" e a fonte anónima citada pela agência diz que "ninguém quer arranjar problemas e por isso todos os que são chamados comparecem".
Instado a comentar o assunto, o Governo do Catar respondeu através de um porta-voz, que em comunicado afirmou que o serviço militar obrigatório prosseguirá como normalmente durante o Mundial. Instaurado em 2014 naquele país, os homens entre os 18 e os 35 anos são obrigados a passar pelo menos quatro meses com os militares, caso contrário incorrem em penas que podem ser de um ano de cadeia ou multas até 50 mil rials (cerca de 14 mil euros).
No início deste mês, um jogo-teste ao maior estádio do Mundial, o de Lusail, que teve perto dos seus 80 mil lugares preenchidos, correu muito mal. No final, os adeptos esperaram horas pelo metropolitano sob temperaturas muito elevadas e a organização do jogo ficou sem água potável ao intervalo, tanto para espectadores como os próprios jogadores.
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