"Se virmos os meus piores jogos, há dois em que sofri uma concussão dias antes"
Raphael Varane refletiu sobre o impacto que os repetitivos choques na cabeça causam nos futebolistas
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Raphael Varane, central internacional francês que representa o Manchester United, refletiu esta terça-feira sobre o impacto que os constantes choques que os jogadores sofrem na cabeça têm no seu rendimento desportivo.
Em entrevista ao jornal L’Équipe, o central de 30 anos, que passou a maior parte da carreira ao serviço do Real Madrid, frisou que se lembra de pelo menos dois erros flagrantes que cometeu em campo dias depois de ter sofrido uma concussão, suspeitando que mais atletas tenham lidado com situações semelhantes.
“No Manchester United, recomendaram-nos não fazer mais de 10 cabeceamentos por treino. O meu filho de sete anos joga futebol e eu aconselho-o a não cabecear. Depois de uma série de golpes na cabeça, dizer no dia seguinte ao jogo que estás cansado, quando tudo correu bem, é mais complicado. Muitas vezes, enquanto jogadores, não entendemos e nem sequer pensamos em fazer um exame. Por isso, reconhecer uma concussão cerebral e tratá-la bem é um verdadeiro desafio. É um problema de saúde real, inclusive pode ser fatal. As coisas vão mudando pouco a pouco, mas ainda podemos avançar neste âmbito”, apontou.
“Eu já tive várias concussões cerebrais. Se virmos três dos piores jogos da minha carreira, há pelo menos dois em que tinha sofrido uma concussão dias antes: contra a Alemanha nos quartos de final do Mundial’2014 [derrota por 0-1] e com o Real Madrid, frente ao Manchester City nos oitavos de final da Liga dos Campeões de 2020 [derrota por 1-2 em ambas as mãos]”, salientou.
Dizendo ter iniciado essa partida no Mundial do Brasil em “piloto automático”, devido a um choque anterior, contra a Nigéria, que o deixou sem memória do resto do jogo, Varane também recordou ter estado meio adormecido no primeiro jogo dessa eliminatória da Champions.
“Senti-o desde o aquecimento, disse a mim mesmo: ‘Acorda’. Quase queria dar uma bofetada a mim próprio. Durante o jogo, as minhas primeiras três bolas foram tecnicamente limpas, mas fui demasiado lento. Não conseguia concentrar-me nem permanecer no jogo, era como um espectador. O jogo correu-me mal e, em retrospetiva, dei-me conta de que esteve relacionado com o choque que tinha sofrido [num jogo anterior frente ao Getafe]. Questionei-me muito e finalmente dei conta de que estes erros insólitos não tinham caído do céu”, completou.