Sampaoli diz que redes sociais "contaminam" jogadores: "É um esgoto social"
Já depois de se ter descrito no passado como um “antissocial natural”, Jorge Sampaoli explicou o porquê de não gostar da sociedade mundial como um todo
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Jorge Sampaoli, técnico argentino que está sem clube desde que deixou os franceses do Rennes, ao fim de dez jogos, no início desta época, abordou esta sexta-feira vários tópicos numa grande entrevista ao portal brasileiro Globo Esporte.
Já depois de se ter descrito no passado como um “antissocial natural”, o técnico de 67 anos explicou o porquê de não gostar da sociedade mundial como um todo, abrangendo essa análise ao ambiente que se vive em estádios de futebol, que considera ser mais tóxico do que nunca.
“Não me ajuda, mas é mais forte do que eu. Sou uma pessoa que não tem muitos vínculos com a sociedade, porque parece-me que, neste momento, temos uma sociedade muito confusa, inclusive muito doente. Vais a um estádio de futebol como neutro e vais embora porque há insultos e agressões. E vão crianças, um monte de mulheres, famílias... As massas transformam-se num estádio de futebol e há um nível de agressividade muito alto, então, isso incomoda-me. Por isso, não vou a um estádio, gosto muito de ver futebol no estádio, mas vejo pela TV. Presencialmente o jogo é muito diferente para os treinadores e eu sempre disse que o que mais aprendi foi a ver partidas no estádio, mas é difícil que tudo isto não nos afete socialmente. A conduta daqueles que vão ver a partida de futebol, que olham para o telemóvel a toda a hora, que insultam...”, lamentou.
Questionado sobre se essa toxicidade nas bancadas está relacionada com a desigualdade social entre jogadores e adeptos, Sampaoli considerou que sim, comparando o ambiente de um estádio a um “circo romano quente” e falando sobre a forma com isso afeta o trabalho de um treinador.
“Todos estão assim: baixa o polegar ou levanta o polegar. Não considero bom que alguém vá ao estádio insultar um jogador. Isso é terrível. Eu acho que hoje, inclusive, isso polarizou-se e cresceu mais. Por isso, o jogador, quando vê que se não ganha vai ser insultado ou, se não for ele, vai ser insultado o treinador, então [pensa]: ‘Que insultem ao treinador.’ E assim vamo-nos separando. Não dizemos: “Vamos por esse caminho. A gente vai ter dificuldades, mas vamos juntos”. Isso não acontece. Ou seja, o jogador vai por um lado e o treinador fica totalmente exposto muitas vezes”, referiu.
Ainda sobre o mesmo tópico, Sampaoli também explicou o porquê de não ter contas em redes sociais, considerando que são um “esgoto social” que, no caso do futebol, só “contaminam” os jogadores e promovem ódio.
"Sinceramente, não é para mim. É onde se vê o pior do ser humano, um esgoto social. É horrível. Antes provavelmente éramos assim, mas não havia esses instrumentos para se manifestar desta maneira. O nível de agressão que existe lá é muito violento. E hoje o jogador, como não pode ser uma pessoa pública, fica ali [na rede social] e contamina-se. Contaminam-se contra os treinadores, contaminam-se contra um companheiro, discutem quem é o melhor entre eles e o clube, a camisola e o símbolo ficam de lado. Ou seja, há uma disputa. Por isso, eu volto sempre ao espírito amador do sentimento da camisola”, finalizou.