"Saí triste de Portugal, acima de tudo, por não ter existido uma oportunidade"
ENTREVISTA, PARTE II - Rui Modesto, reforço da Udinese no mercado de verão, lembra dificuldades de afirmação no seu país. Norte da Europa “valeu a pena”
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Qual é o impacto da valorização e reconhecimento em solo nórdico, sabendo-se que foi jogador com máximo de assistências no Honka e melhor da época para os fãs do AIK em 2023/24?
-Eu vejo com agrado e fico bastante feliz pelo reconhecimento alcançado. Penso que valeu a pena a minha decisão de me aventurar no norte da Europa por várias razões. Todas elas me ajudaram na conquista de um espaço e na expansão de mostrar quem sou e o futebol que tenho.
Resumindo estes anos fora do país, imagino também que se tenha sentido posto à prova logo a partir da Finlândia?
-Confesso que no princípio, neste caso na Finlândia, foi difícil, não pelo factor linguístico, porque nestes países nórdicos todos falam inglês, mas, muito mais, por várias mudanças radicais na minha vida, como a adaptação à temperatura, à comida. E, naturalmente, o facto da cultura das pessoas ser bastante diferente e mais reservada. Ainda para mais para um rapaz de 20 anos, vindo de um país em que praticamente tudo o que se diz ou faz é completamente diferente. Todas estas diferenças geraram episódios que resultaram em muitos ensinamentos, importantes na pessoa que sou agora. Também por conta disso, ao chegar à Suécia, país com muitas semelhanças, a adaptação foi bastante mais fácil.
“Nunca perdi a esperança e isso fez-me estar preparado para todas as oportunidades”
Desapontado por não ter tido tempo de representar o futebol português no seu melhor campeonato?
-Sim! Saí um pouco triste. Na verdade, qualquer jovem português gostaria de vingar no futebol do seu país e eu não era exceção. Mas fiquei triste, acima de tudo, por não ter existido uma oportunidade, mas faz parte e é o futebol. Essa foi sempre a forma com que lidei desde essa situação e o meu foco mudou totalmente ao ir para o estrangeiro e mostrar as minhas qualidades.
Há algum jogador que o marque e ao qual se tente aproximar?
-Um jogador que tem sido referência para mim, desde há algum tempo, é o Di María, que antigamente tinha um estilo de jogo mais parecido com aquilo que eu sou neste momento. Adaptou-se àquilo que é o futebol moderno e, mesmo sem a velocidade de outros tempos, vai fazendo a diferença com a sua longevidade e inteligência, para além de ser um jogador de equipa.
Como olha para o trajeto em Portugal, começando num pequeno clube do Alentejo?
-A minha carreira em Portugal foi bastante curta e difícil, a começar pela terra onde nasci e onde é muito difícil de ser visto. Mas nunca perdi a esperança e isso fez-me sempre evoluir e estar preparado para todas as oportunidades que surgissem. Basicamente, o sucesso no futebol, a chamada “sorte” para muitos, na minha visão é o cruzamento entre a oportunidade e estar bem preparado, porque se aproveitas todas as boas oportunidades que a vida te dá, mais perto estás do sucesso.