Rúben Semedo: "Gelson Martins foi o único jogador que me visitou na prisão"
Rúben Semedo recordou em entrevista ao jornal Marca o período de quase cinco meses que passou em prisão preventiva em Espanha, em 2018, quando jogava no Villarreal, com base em acusações de tentativa de homicídio, agressão, ameaças, posse ilícita de arma e roubo com violência
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Após ser detido, continuou a pensar que ia viver do futebol? “Óbvio, mas eu também cantava, ia à escola, trabalhava, ou seja, tentava que o mau fosse o menos mau, então tentava fazer um pouquinho de tudo para ocupar a mente. Fui a três ou quatro finais na minha vida e perdi-as todas. Não imaginas, é complicado e duro. Um futebolista que vai para a prisão e que perdeu todas as finais... Sempre tentei procurar coisas para que fosse menos mal, porque estar na prisão é mau, queria que fosse mais suave. Os dois primeiros meses foram muito complicados, mas ainda que não acreditem, no final estava bem. Estudava, cantava, trabalhava e jogava futebol e, nesses momentos, estava bem. Não acreditava nem via que estava na prisão, mas obviamente que noutros momentos, sim, era complicado”.
Sentiu medo na prisão? “Sim, óbvio, desde o primeiro dia. É algo a que não estava habituado, como se vê nos filmes e tudo, muito medo. Eu, pessoalmente, não vivi, mas vi muitas coisas e assustam, obviamente que assustam. O que se passa é algo que não podes ensinar”.
O que mais o marcou nesse período? “A mim o que mais me marcou não foi o que vi, mas sim a rotina, ou seja, que alguém te diga quando tens de te deitar, quando tens de comer, o que podes fazer ou não. Há homens de 30 ou 40 anos a ouvi-lo e a fazê-lo e a rotina mata, é isso que te digo. Fazer todos os dias o mesmo e no final não tens liberdade para pegar num telemóvel e ligar à tua família, sair ou comer fora... Aquilo que eu mais senti falta não foi jogar futebol, era estar em casa a ver Netflix ou a jogar às cartas, beber um vinho, não sei, conviver com a família ou com as pessoas de quem gostas”.
Sentiu-se abandonado pelos seus colegas de profissão? “Lá dentro recebi muitas cartas, mas quando saí, na verdade senti o apoio de muitos colegas. Tenho um muito bom amigo, que jogou no Atlético de Madrid, Gelson Martins. Ele foi visitar-me, dos meus colegas do futebol foi o único. Não é um colega, é meu irmão, adoro-o imenso. Não vou chorar, como é óbvio”.