Rigor luso na fantasia alheia: o porquê da aposta da Arábia Saudita em treinadores portugueses
Seis portugueses no Brasil e seis na Arábia Saudita. A aposta no "know-how" português é declarada; O investimento no futebol neste país do Médio Oriente explica-se também pelo plano Visão Saudita 2030, que pretende diversificar investimentos e abrir mais a nação ao exterior.
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Depois do futebol brasileiro, a "moda" do treinador português estende-se agora à Arábia Saudita, país em cujo principal campeonato, depois da oficialização de Jorge Jesus à frente do Al Hilal, no sábado, passa a contar com seis treinadores lusos.
Para tentar perceber as principais razões desta inegável aposta em treinadores portugueses, O JOGO falou com José Garrido, que vai para a quinta temporada no futebol saudita, desta vez no Al Qaisumah (segundo escalão), depois de ter antes orientado o Al Batin e o Al Jabalain.
Garrido defende, quanto a essa questão, uma teoria que acaba por traçar um paralelismo com o que sucede no principal campeonato brasileiro, prova que conta também com seis lusos na liderança de equipas técnicas. "O típico jogador saudita é bom tecnicamente, gosta de ter a bola e de jogar de pé para pé. Não gosta de jogo vertical e de grandes correrias, mas sim de passe e de, através disso, conseguir explorar as fragilidades dos adversários. E o futebol brasileiro também é um pouco assim", defende o treinador de 62 anos já com currículo em outros países desta zona geográfica do planeta, como Catar (Al Ahli), Barém (Al Riffa) ou Emirados Árabes Unidos (Kazma e Qadsia).
"O treinador português tem sido bem sucedido, tanto no Brasil, como na Arábia Saudita, porque além da fantasia também é preciso rigor, exigência e metodologia. E os treinadores portugueses nesses aspetos são já muito evoluídos e têm conseguido impor essas vertentes nestes dois países. Conseguem impor uma disciplina tática que não era tão vincada entre os locais. E os resultados estão aí à vista", acrescentou Garrido a O JOGO.
O treinador explica ainda que a aposta é agora mais notória porque os sauditas estão a tentar levar para a frente um plano estratégico de crescimento, de nome Visão Saudita 2030, com o objetivo de diversificar a economia para além do setor petrolífero e de desenvolver vários setores públicos. O Desporto está entre eles. "Há um investimento muito grande que procura abrir o país ao resto do Mundo, o que, por exemplo, já se nota muito no turismo. Eles têm uma grande oferta a esse nível, mesmo a nível cultural e histórico, e já se nota um forte crescimento do turismo no país. Há muita coisa para visitar aqui", explica Garrido, que nota uma "pequena diferença" entre a principal liga saudita e o segundo escalão, onde alinha o seu Al Qaisumah: "A principal diferença está nos estrangeiros. As equipas do principal campeonato têm jogadores de qualidade enquanto os clubes do segundo escalão não têm potencial para isso. Por outro lado, os melhores jogadores sauditas também estão todos nas melhores equipas, como é óbvio."
Jesus vai para a Áustria e Castro disse adeus ao Botafogo
Jorge Jesus rubricou com o Al Hilal um contrato válido por uma época com outra de opção. O técnico português vai receber um salário a rondar os 17 milhões de euros, passando a ser o quarto treinador mais bem pago do mundo. A equipa de Riade viajou para a Áustria, onde vai realizar o estágio de pré-época, participando depois num torneio que se inicia a 27 de julho. Entre as novidades consta o internacional português Rúben Neves. Quem não viajou com a equipa foram Matheus Pereira e Cuellar, que devem estar de saída do clube.
Já em relação ao rival Al Nassr (de Cristiano Ronaldo), Luís Castro ainda não foi oficializado, mas despediu-se ontem dos adeptos do Botafogo: "Parto com o desejo de ser lembrado como alguém que chegou ao Botafogo para dar o melhor de si. (...) Os clubes são como a vida, renovam-se. Estamos todos de passagem. Parto com a certeza de que os que ficam continuarão unidos, respeitando os valores que nos conduziram às vitórias."