A novela alimentou as redes sociais, com elogios à coragem de desafiar os tempos de agitação e insegurança num país em ameaça constante de mísseis
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Nas redes sociais, Sá Pinto entrou na placa giratória da informação a 23 de junho, com o seu ingresso no Esteghlal a fazer-se viral de Portugal ao Brasil, do Irão aos Estados Unidos. Momento perene, que abala a digestão, corta a respiração com chama de incredulidade. Sucederam-se as piadas, tiradas jocosas, mais gráficas ou mais telegráficas, memes em catadupa e uma circulação estonteante da notícia do dia, para lá dos rockets, da visão das tréguas, do pandemónio global. Afinal, o técnico traz uma ficha vasta de episódios mais tensos e nunca se fica sem devolver troco. Por momentos, o portuense, nascido no Salgueiros, foi guiado a protagonista surreal de uma resolução de um berbicacho mundial.
Sá Pinto viaja pelos memes e comentários jocosos que inundaram as redes sociais depois da sua oficialização no Esteghlal. Ironia e coincidência: foi apresentado e… terminaram os ataques.
Dizia-se ‘Sá Pinto vai intercetar os mísseis de Israel à chapada’ ou ‘comandar a resposta aos Estados Unidos’. Somava-se, pelo meio, um certo receio de Trump, que havia dirigido ataques às centrais nucleares iranianas. ‘Suspendo já todas as operações, sou maluco mas não tanto!’. De meme em meme, a novela animava as redes. Brindava-se à coragem, pois claro. ‘Se há treinador com estaleca, neste momento, para treinar no Irão, é Sá Pinto’. Ou então, sem nem apelo nem agravo. “Alguém se atrever a ir para o Irão, sujeito a levar com um míssil, é pura raça lusitana!’. Deu para rir quando se pressentia o fim das hostilidades. E também se emoldurou o desfecho. ‘Trump pode gabar-se do que quiser mas os factos são estes: o Irão apresentou o Sá Pinto e, no dia seguinte, a guerra acabou! Não há coincidências.’
Um fartote de graças que também foram acompanhadas e compreendidas pelo técnico.
“Achei piada a alguns memes, muitos aproveitaram a situação para fazer sketches. É o que é, quando as coisas se tornam públicas e é algo real, a situação mais humorística é perfeitamente normal. Reagi bem a todos os comentários, memes e brincadeiras. Felizmente, acabou mesmo a guerra naquele dia, espero que para sempre. Mas que coincidiu...coincidiu”, atira.
Os grandes dérbies e as rajadas de tiros
Furacão de emoção, Sá Pinto tem trabalhado em países onde abunda a paixão e se abraça o fanatismo. Um verdadeiro afortunado no sortido de dérbies, experimentando cocktails de pólvora e rivalidade. Em clubes como como Sporting, Legia, Apoel, Raja Casablanca, Estrela Vermelha, Standard Liége, Vasco da Gama ou Esteghal provou os sentimentos mais genuínos e, não raras vezes, exacerbados.
A Covid não permitiu uma experiência mais intensa no Brasil. Sobram noutras paragens a sintonia brutal com os adeptos.
“Vivi grandes dérbies, que classifico de momentos intensos e bastante emocionais. Tenho pena de não ter sentido essa força no Brasil, pois apanhei a fase de Covid”. lamenta. “São jogos sempre especiais entre grandes equipas. É o caso cá, no Irão, entre Persepolis e Esteghlal. Tenho uma final da Taça mal perdida para eles”, elucida Sá Pinto.
Já livre dos mísseis a rasgar céu iraniano, o português não esquece os treinos na academia do Vasco da Gama, onde a tranquilidade quebrava repentinamente pelo som seco e intimidante das balas na problemática favela vizinha no Rio de Janeiro. “Estávamos ali ao lado da Cidade de Deus e por cada rusga policial choviam tiros, barulho de metralhadoras. É ver a entrevista interrompida pelo som ao Nuno Moreira. Até nos recomendavam que parássemos os treinos pelo risco de alguma bala perdida”, recorda.