Relatório da UEFA: pandemia "custou" 9 mil milhões e Portugal com motivos de preocupação
UEFA estudou efeitos da covid-19 nas finanças dos clubes. Portugal é o país que mais depende de transferências e tem rácio de salários muito alto
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A UEFA apresentou um longo e detalhado relatório sobre o futebol europeu, virado essencialmente para a tradução numérica das perdas que a pandemia provocou e de todos os constrangimentos que os clubes sentiram desde 2020 até à atualidade. A análise detalhada revela, em traços gerais, que os 711 clubes profissionais das primeiras ligas dos vários países perderam entre 7,2 a 8,1 mil milhões de euros de receitas, sendo que a maior parte (3,6 mil milhões a 4) dizem respeitos aos ganhos com bilheteiras que o futebol à porta fechada levou. Há ainda a registar mais 1,5 mil milhões de perdas para clubes profissionais de outros escalões. Ao todo, cerca de 9 mil milhões de euros no espaço de pouco mais de 12 meses.
Os valores gastos pelos clubes nos mercados de transferências caíram 6,5 mil milhões de euros do verão de 2019 para o verão de 2020 e mil milhões de euros em janeiro de 2020 para metade em 2021. Para os clubes portugueses o drama foi ainda maior. É que, de acordo com este relatório, nenhuma Liga depende tanto de receitas com transferências como a portuguesa. A diferença é, aliás, tremenda por comparação com os 15 principais campeonatos. Em Portugal, a verba com transferências equivale a 74% das receitas gerais. Os clubes franceses "ficam-se" pelos 50% e tudo o resto é bem abaixo. Em Inglaterra, por exemplo, só 12% das receitas resultam da venda de jogadores. Preocupante é também o rácio entre salários e receitas operacionais: 69% do encaixe dos clubes nacionais é gasto nos ordenados. Percentagem maior só em França e na Turquia.
Receitas de bilheteira são a principal fatia de uma quebra que as televisões e plataformas online estão a aproveitar. Portugal abaixo da média geral de prejuízo, mas com outros motivos para se preocupar
Continuando por cá, os prejuízos globais na I Liga ficam por 8% a 12%, de acordo com o estudo, abaixo da média. Mesmo sem apoios diretos do governo nem mecanismos de emergência públicos acionados como aconteceu em... 80% dos países do continente. Portugal está fora, mas aparece dentro quando se encontra o quadro de sociedades com prejuízos mais severos que levaram a insolvências ou quedas em escalões inferiores. Estamos a falar do Aves e do V. Setúbal, que aparecem junto de muitos outros clubes de países secundários.
No prefácio do relatório, Aleksander Ceferin, presidente da UEFA, recordou que "no ano anterior, o futebol europeu estava forte, resiliente e pronto para novos desafios". "Mas ninguém poderia ter previsto que teríamos de enfrentar o maior desafio colocado ao futebol, ao desporto e à sociedade nos tempos modernos. No entanto, graças a quase uma década de regulamentos do fair-play financeiro, o futebol europeu estava em excelente forma no que às finanças diz respeito", congratulou-se.
A pandemia custou quase 2 mil jogos entre os que não se realizaram e os que foram deslocados para esta época desportiva. Mas isso é apenas 1% do que estava planeado, pois 38 primeiras divisões europeias foram capazes de concluir a temporada anterior e iniciar a atual. Isto poupou aos clubes 2 mil milhões de euros em penalizações. No novo futebol foram realizados já 163.844 testes covid.