Miron Muslic, treinador bósnio do Plymouth Argyle, que eliminou o Liverpool da Taça de Inglaterra, fintou a guerra civil no seu país, para vingar no mundo do futebol, anos mais tarde
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Miron Muslic conseguiu, este domingo, aquele que terá sido um dos maiores feitos da sua vida, aos 42 anos de idade: eliminar o todo-poderoso Liverpool, primeiro classificado da Premier League, ao leme do Plymouth Argyle, uns dos emblemas mais humildes do segundo escalão inglês.
No entanto, para chegar aos grandes palcos do futebol britânico, Muslic teve de enfrentar grandes dificuldades, nomeadamente como refugiado de uma guerra civil no seu país, a Bósnia-Herzegovina, que obrigou a sua família a abandonar o território.
O técnico do Plymouth somava apenas nove anos de idade quando os seus pais decidiram deixar a cidade de Bihac para trás, de forma a escapar à ocupação da cidade por parte de forças pró-Sérvia, que cercaram o território durante três anos, com destino à Áustria, naquela que foi uma viagem de 650 quilómetros.
“Tivemos de deixar a Bihac, a nossa cidade natal, durante a noite, trouxemos apenas os pertences que nos cabiam nas mãos. Foi aí que começou a nossa jornada, a nossa vida nova. Passámos por dificuldades durante toda a nossa vida, este sofrimento fez parte da minha caminhada, é por isso que sou uma pessoa muito otimista e positiva. Já passei por situações mais desafiantes do que ser treinador principal e ter de lidar com um empate ou uma derrota”, explicou, em entrevista à emissora televisiva britânica BBC.
O treinador admitiu, ainda, que o futebol foi ferramenta essencial para a sua adaptação à Áustria, país que o acolheu: “O futebol é tão importante, porque é universal. Quando estás num campo de futebol, ou a jogar na rua, não interessa o teu nome, o teu apelido, a tua condição de refugiado, apenas o jogo importa. Essa é a magia do futebol.”
O Plymouth Argyle eliminou, este domingo, o Liverpool em encontro dos 16 avos de final da Taça de Inglaterra, com um golo de Hardie, de penálti, aos 53’.