ENTREVISTA - Raphael Veiga considera estar no melhor momento da carreira e deve-o, assume, a Abel Ferreira. O jogador acredita que apesar de várias conquistas, esta é uma história inacabada de sucesso. Médio do Palmeiras salienta o trabalho do treinador luso em prol da equipa e na sua evolução como jogador.
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Aos 26 anos e a cumprir no Palmeiras a quinta temporada, Raphael Veiga é hoje um dos jogadores mais importantes do Verdão, vencedor das duas últimas edições da Libertadores, atual campeão paulista e líder do Brasileirão. Apesar do talento que demonstrara antes, foi sob o comando de Abel Ferreira, a partir de novembro de 2020, que este médio se tornou figura maior do emblema paulista.
Em entrevista a O JOGO, deu conta do momento que se vive no clube e das ambições pessoais e coletivas em mais um ano que espera recheado de conquistas.
Considera que vive o melhor momento da sua carreira?
-Acredito que sim. Não só pelos números, vejo a minha carreira como um todo. A parte mental, a parte física, a parte técnica. Estou num momento de crescendo muito bom e acho que é o meu melhor momento até ver, porque espero continuar a crescer e a evoluir como jogador.
Em 2018 já tinha tido um ano muito bom no Ath. Paranaense. Depois do regresso ao Palmeiras teve um período em que as coisas não lhe estavam a correr tão bem até à contratação do Abel Ferreira. O que mudou?
-Antes do Abel chegar, eu já estava a jogar há quatro ou cinco jogos e quando ele assumiu a equipa deu-me muita confiança. Falou comigo, perguntou-me onde gostava de jogar e deu sequência à utilização que eu já vinha tendo. Fiz muitos jogos seguidos com ele e as coisas correram de uma forma ainda melhor do que imaginava.
O que contribuiu para isso, foi a forma do Abel trabalhar a equipa, foram indicações específicas, o modelo de jogo que ele implementou...
-Para o individual aparecer, o coletivo tem de estar sempre muito sólido, e quando ele chegou fez-nos entender o futebol de uma forma muito simples. O Abel é muito detalhista ao passar a informação para os jogos. Diz-nos como vamos atacar, como vamos defender, as características dos adversários e torna-se muito simples para nós jogarmos. Acho que essa explicação, essa didática dele, juntamente com a experiência que ele tem na formação, da variação do estilo dentro de um jogo, isso contribuiu muito para a equipa. No meu caso particular, ele cada vez me cobrava mais para ser decisivo, ser um médio ofensivo com mais golos, com mais assistências, falava comigo em determinadas situações sobre coisas que achava que eu devia fazer no ataque e depois brincava comigo - não adianta ser bom só 50 por cento com a bola, é preciso também ser os outros 50 por cento sem bola. Ajudou-me muito, sei que hoje sou um jogador muito mais completo. Para mim e para a equipa a contratação dele foi muito boa.
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Como avalia o impacto do Abel Ferreira nestes quase dois anos e meio que leva a treinar o Palmeiras?
-Hoje, a torcida, o povo, gosta muito dele, idolatra-o. Também pelos títulos que acabámos por conquistar. Ele é o comandante. É alguém que, apesar de não ter ganho nenhum título antes de chegar, quando entrou, também por ser jovem, mostrou, ele e toda a equipa técnica, vontade de aprender e ensinar. Ouviu-nos sempre, o nosso lado, e esse caminho entre jogadores e equipa técnica era muito limpo, não víamos barreiras para falar com ele. Esse ambiente e a atmosfera dentro do balneário foi mudando depois de ele chegar e quando se tem um bom ambiente dentro do grupo, o trabalho e as coisas correm de forma natural.
Houve também um processo de adaptação do Abel ao futebol brasileiro e depois as coisas como que se alinharam para tudo correr bem...
-Não posso falar muito sobre a parte tática, das diferenças que ele sentiu entre treinar na Europa e no Brasil. Do que posso falar é da quantidade de jogos que nós temos aqui, da exigência de ter que falar muito frequentemente com a imprensa antes e depois dos jogos. Mas penso que a maior dificuldade para ele, no início, foi da ausência da família, de estar aqui a trabalhar no Brasil longe dos seus. Penso que isso foi desgastante para ele, ainda mais num momento de pandemia, com praticamente tudo fechado.
Mas foi nesse tempo de pandemia que o Palmeiras conquistou logo a Libertadores e a Taça do Brasil. Como foi trabalhar nesse tempo?
-Ele foi sempre muito acessível, não é pessoa de começar a gritar connosco no treino, é mais um treinador de levar tudo na conversa, que sabe despertar no jogador o seu desejo de melhorar. Houve um crescimento de todos muito grande, na parte individual e coletiva, criámos uma identidade muito boa, toda a gente gosta muito do trabalho dele e estamos muito felizes por ele ter vindo para o Palmeiras e ter ajudado a construir essa história de sucesso, que continua a ser escrita, mas já com alguns capítulos bem legais.
"Os portugueses estão em alta"
Para além do Palmeiras, com Abel, Corinthians (Vítor Pereira), Botafogo (Luís Castro) e Cuiabá (António Oliveira) são treinados por portugueses e podiam ser mais se Paulo Sousa tivesse continuado no Flamengo. Uma moda passageira ou uma vaga que veio para ficar?
Raphael Veiga admite que "é difícil dizer", mas comenta: "O Jorge Jesus fez um trabalho muito bom no Flamengo e ganhou vários títulos. Veio o Abel para o Palmeiras e está a fazer um trabalho acima da média também. Mas isto é como li numa entrevista que o Abel deu: há treinadores portugueses bons e há outros menos bons. E num campeonato só um pode ganhar e os outros todos perdem. Por isso, é difícil dizer se é uma moda, uma tendência. Acredito que há bons treinadores portugueses, falo mais do Abel porque é com ele que trabalho e vejo como é sensacional. Mas já trabalhei com bons treinadores brasileiros. Certo é que, de facto, os treinadores portugueses estão em alta neste momento."