"Que a genética das mães e dos pais de Figo e Cristiano Ronaldo continue por aí"
À margem do Fórum ANTF, onde participou como palestrante, Carlos Queiroz abordou o momento da Seleção Nacional e apontou algumas ideias para o futuro
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Que comentário é que lhe merece o momento da Seleção Nacional? “Continuamos a ter, digamos, as ilusões que os últimos anos nos habituaram. Acho que estamos próximos de um momento muito crítico. Mais cedo ou mais tarde vamos ter que enfrentar a grande decisão da saída de um jogador genial e que marcou a história do futebol português para sempre, que é o Cristiano [Ronaldo]. Temos uma geração de jogadores que, com o efeito cumulativo do trabalho, de anos e anos de formação nos clubes, têm garantido a continuidade de sucesso na seleção. Nós não temos só jogadores. Nós temos uma dinastia de jogadores que têm dado continuidade a esta plataforma de sucesso. Mas estamos num momento que eu acredito que os responsáveis têm de ter consciência de que é importante tomarmos as decisões certas, inovadoras, criativas, para evitarmos que a nossa seleção entre num declínio. O problema da dinâmica holística de um declínio é que se nós entrarmos nesse processo depois para revertermos, para voltarmos para cima, como se vê nos clubes, em outras seleções, é muito mais difícil. As grandes decisões que nós temos de tomar para o futuro da nossa seleção têm de ser agora.”
Que decisões é que podem ser essas? “A inovação é recapitular todo o processo de formação dos jogadores, todo o processo de formação, de retenção e seleção dos clubes. É fazer decisões mais abrangentes no espectro de potencial dos jogadores a trazer para a seleção. Temos de rever os quadros competitivos para tornar os nossos jogadores ainda mais agressivos e mais dinâmicos nas suas decisões, dadas as características do próprio jogo. Enfim, há uma série de outros elementos. Nós temos de aumentar a base do número de jogadores. Temos de ir às câmaras municipais. Neste momento, a atração que o futebol tem, não vejo nenhuma razão para que Portugal não possa ter 300, 400 mil jogadores efetivos a jogarem. Quanto mais alargarmos a base, quanto mais qualidade tiver a base, maior a possibilidade de, numa espiral técnica, podermos ter ainda maiores talentos. E, portanto, esperar que a genética das mães e pais do Figo, Cristiano continue por aí para o todo o país, para podermos continuar a ter a genialidade dos jogadores que têm trazido este brilhantismo para o futebol português.”