Regulador da publicidade considerou que o clube não prestou a necessária informação sobre os riscos de investir em criptoativos. Os fan tokens são produtos não tangíveis e que por serem do universo das criptomoedas estão sujeitos a grandes oscilações no seu valor. Os da FPF e do FC Porto são bons exemplos disso
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Alguns meses após terem sido lançados no mercado, eis a primeira grande polémica a envolver os fan token, produto do universo das criptomoedas e que várias entidades, nomeadamente clubes de futebol, viram como potencial fonte de financiamento.
Neste caso, o protagonista é o Arsenal, que na quarta-feira foi alvo de uma proibição a anúncios dos seus fan tokens por parte do regulador britânico da publicidade, a "Advertising Standard Authority" (ASA). Esta considerou que o clube londrino faltou à obrigação de informar devidamente sobre os riscos de investir em criptomoedas, sublinhando ter este "tirado partido" da inexperiência ou credulidade dos consumidores ao banalizar o investimento em criptoativos, não esclarecendo de forma conveniente que os fan tokens são um produto desse tipo.
A proibição à publicidade feita pelos "gunners" - que já anunciaram que a vão tentar contestar legalmente - foi apenas uma das várias que a ASA ontem anunciou, prova de que aquele organismo está atento a esta tendência de mercado que envolve os clubes e adeptos de futebol mas também da importância e popularidade que os fan tokens rapidamente conquistaram.
No final de novembro, Alexandre Dreyfuss, presidente da empresa Socios.com, um dos principais parceiros dos clubes neste domínio dos fan tokens ou NFT ("Non Fungible Token"), dizia ter contratos assinados com 56 deles e mais de cem equipas nos mais variados desportos. No seu site, a Socios.com exibe um sem-fim de emblemas, do Barcelona à Juventus, passando por PSG, Milan, Roma, At. Madrid, Mónaco, Palmeiras, etc., vendo-se também o da FPF, que no final de setembro se lançou neste mercado dos fan tokens, tal como Sporting e FC Porto.
E as oscilações no valor dos produtos da FPF e dos azuis e brancos servem para ilustrar os riscos deste investimento, provavelmente aquilo que a ASA exige que o Arsenal faça: um mês depois do lançamento, o $POR, o fan token da FPF, sofreu uma desvalorização de quase 40%; já o do FC Porto, uma parceria com a financeira Binance, viu o seu preço aumentar exponencialmente nos primeiros instantes de vida. Lançado ao preço de um euro, depressa atingiu os 40 euros, mas nos últimos dias do mês passado baixou para os 4,4 euros na altura em que foram conhecidas as buscas à SAD portista, num comportamento em tudo semelhante a determinadas flutuações bolsistas.
Os criptoativos aplicados ao desporto e em concreto ao futebol, caso dos fan tokens, conferem ao comprador a posse de um ficheiro que é único e tem diversas aplicações. Tanto pode ser um cromo de um jogador, como um meio de participar em jogos virtuais ou ainda o direito a participar em certas decisões, como a música que passa no estádio. Um dos seus grandes veículos de promoção foi o anúncio de que Messi receberia parte do primeiro ordenado no PSG através de fan tokens do clube.
City e Barça anularam acordos
Manchester City e Barcelona são dois dos muitos clubes de futebol (também os há de outras modalidades) que têm acordos com a Socios.com para a comercialização de fan tokens. Mas ambos passaram por más experiências, tendo cancelado outros acordos. O clube espanhol anulou a parceria com a Ownix após a detenção de uma pessoa ligada à empresa acusada de fraude com criptomoedas no valor de 57 milhões de euros. Os ingleses desligaram-se da 3Key Technologies devido à escassa presença online da empresa, que os levou a suspeitar.