Procuradores dos EUA indiciam Rússia e Catar em acusação de suborno nos Mundiais
Três administradores de operadores televisivos e uma empresa de marketing desportivo formalmente acusados, revela o New York Times
Corpo do artigo
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos (EUA) - o equivalente ao Ministério Público português - acusou três administradores de Media e uma empresa de marketing desportivo por vários crimes relacionados com a atribuição dos Mundiais de futebol da Rússia e Catar, incluindo fraude eletrónica, lavagem de dinheiro e subornos para garantir direitos de televisão e marketing, revela a edição de hoje do New York Times (NYT).
Segundo aquele jornal, "após anos de investigações e acusações, o Departamento de Justiça afirmou, pela primeira vez, que operacionais ao serviço da Rússia e do Catar subornaram representantes da FIFA para garantir a realização do Mundial de futebol" naqueles países.
Dois dos executivos de operadores media desportivos acusados segunda-feira são Hernan Lopez e Carlos Martinez, que trabalhavam para subsidiárias internacionais da 21st Century Fox., que conquistou os direitos de televisionar os Mundiais de 2018 e 2022.
Lopez, de 49 anos, era presidente e diretor executivo da Fox International Channels, e Martinez, de 51, era presidente do Fox Networks Group Latin America. De acordo com a acusação, ambos participaram de um esquema que pagou milhões de dólares em subornos a funcionários da CONMBOL (Confederação Sul-Americana de Futebol) para garantirem os direitos de transmissão da Libertadores, a principal competição de futebol de clubes da América do Sul. São também acusados de usar informações privilegiadas para ajudar a Fox a conquistar os direitos televisivos para os Estados Unidos dos dois Mundiais em questão.
Foi também acusado, Gerard Romy, ex-administrador de um grupo Media espanhol, e a Full Play, uma empresa de marketing desportivo uruguaia, sediada na Argentina.
São as mais recentes acusações de um caso de corrupção com mais de um ano de investigação e que já levou à condenação de vários responsáveis e executivos do futebol internacional. Porém, nunca antes os procuradores descreveram tão claramente o esquema que ajudou a entregar os votos que concederam as duas edições à Rússia e ao Catar.
As autoridades americanas apresentaram detalhes sobre o dinheiro pago a cinco membros do conselho da FIFA antes da votação de 2010 para escolher os anfitriões dos mundiais de 2018 e 2022. Todos nos lembramos: a Rússia derrotou a Inglaterra e as propostas conjuntas da Holanda-Bélgica e Espanha-Portugal. E o Catar bateu os Estados Unidos, numa segunda volta das votações, por um grupo de eleitores que já haviam sido eliminados, pois dois membros seus foram filmados secretamente a vender os seus votos, explica o NYT.
12040074
Segundo a presente acusação, três representantes sul-americanos foram subornados para votar no Catar: Julio Grondona, da Argentina, que morreu em 2014, o paraguaio Nicolás Leoz, que também morreu no no ano passado, em prisão domiciliária e a evitar a extradição para os Estados Unidos, e o brasileiro Ricardo Teixeira, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, que permanece naquele país, que não tem tratado de extradição com os Estados Unidos.
Leoz e Teixeira chegaram a ser indiciados, em 2015, por esquemas de suborno para vender direitos lucrativos de futebol a emissoras desportivas.
Os procuradores norte-americanos também afirmam, na acusação, que o antigo representante da Trinidad e Tobago, Jack Warner, que luta contra a extradição para os EUA desde 2015, recebeu cinco milhões de dólares, através de uma série de empresas de fachada, para votar na Rússia. Parte do dinheiro, segundo a acusação, chegou-lhe às mãos através "de empresas com sede nos Estados Unidos, que realizaram trabalhos em nome da candidatura da Rússia"
Rafael Salguero, da Guatemala, que se confessou culpado de lavagem de dinheiros e fraude económica em 2016, recebeu um milhão de dólares para votar nos russos, segundo a acusação.