Portugueses chegaram para ficar: "É ótimo para o futebol brasileiro, trazem outra visão"
Além do técnico do Palmeiras, Paulo Sousa (Flamengo) e Vítor Pereira (Corinthians) já disputaram os estaduais. Luís Castro (Botafogo) estreia-se no domingo ante o compatriota que lidera o Timão.
Corpo do artigo
Arranca este sábado , às 20h30 em Portugal, o Brasileirão, com um Fluminense-Santos. Três horas depois, o primeiro de quatro treinadores portugueses que vão discutir a prova - algo nunca visto neste campeonato ou em qualquer outro de topo mundial - fará a sua estreia. Paulo Sousa, que já orientou o Flamengo no Carioca, vai tentar entrar com o pé direito no terreno do At. Goianiense, isto numa fase em que os adeptos ainda não esqueceram a derrota para o Fluminense no estadual (ver breve ao lado).
Já na madrugada de domingo, a partir da 1h00, será Abel Ferreira a liderar o Palmeiras ante o Ceará. Este é o único dos lusos que já disputou a Série A - terminou a época de 2020 (7.º lugar) e levou a equipa ao terceiro posto em 2021. De resto, esta é a grande competição que o técnico penafidelense ainda não venceu pelos paulistas: em 2020 ganhou a Libertadores e a Taça do Brasil; em 2021 a Libertadores novamente; já este ano ergueu a Supertaça Sul-americana e o Paulistão.
Para domingo está reservado o primeiro de 12 duelos (se todos os técnicos lusos resistirem até ao final da época) entre portugueses: um Botafogo-Corinthians, com Luís Castro em estreia absoluta à frente dos cariocas e Vítor Pereira na liderança dos paulistas. Um jogo que, refira-se, está a motivar grande entusiasmo entre os adeptos do Fogão (promovido após vencer a Série B), pelo dinamismo dado ao clube com a aquisição da SAF pelo investidor norte-americano John Textor. Foi este, de resto, o responsável pela contratação de Castro.
Considerado um dos campeonatos mais difíceis e imprevisíveis do mundo, o Brasileirão"2022 conta com 20 clubes que representam nove dos 27 estados que constituem o país. São Paulo destaca-se com cinco equipas (Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Santos e RB Bragantino), seguindo-se o Rio de Janeiro com três (Flamengo, Fluminense e Botafogo).
Em termos de favoritismo na luta pelo título, todos os analistas referem o mesmo trio de candidatos, mas apontam duas equipas com um pouco mais de chances: o Atlético Mineiro, campeão de 2021 que mantém Hulk como grande figura e que garantiu reforços importantes como os centrais Godín e Júnior Alonso, este último vendido ao Krasnodar em janeiro e recuperado por empréstimo dos russos; e o Palmeiras de Abel, a quem se pede que este ano junte o sucesso interno ao internacional.
Certo é que no arranque de época o Verdão parece ser a equipa mais forte, embora o técnico procure ainda um novo avançado para o plantel. Já o Flamengo, campeão em 2019 e 2020, e "vice" em 2021, atravessa fase de mudança, pelo que Paulo Sousa, não obstante a qualidade do plantel, tem um enorme desafio pela frente: terá de impor as suas ideias e conquistar a torcida.
OS TÉCNICOS
Abel Ferreira corre pelo título em falta
Contratado em novembro de 2020, Abel Ferreira começou por ganhar a Libertadores e a Taça do Brasil, repetiu o sucesso na prova continental em 2021 e esta época já levantou a Supertaça Sul-americana e o Paulistão. Ataca agora o Brasileirão, o grande troféu que lhe falta - também não venceu a Supertaça do Brasil. Ídolo no Verdão é, a par de Scolari, o segundo técnico com mais troféus ganhos no clube, e persegue Luxemburgo (8).
Paulo Sousa recebe herança pesada
Depois da sensacional passagem de Jesus pelo clube (ergueu sete troféus em pouco mais de um ano), o Flamengo volta a dar o banco a um português, Paulo Sousa, que já foi campeão na Suíça e Israel. A época passada, com Ceni e Renato Gaúcho , ficou aquém das expectativas e Sousa tem de lidar com uma pesada herança, até por ter perdido a final do Carioca.
Vítor Pereira quer encurtar distâncias
Segundo mais popular clube do Brasil, em número de adeptos, o Corinthians apostou para esta época em Vítor Pereira, tendo entrado no clube em fevereiro. Já com títulos conquistados em Portugal (FC Porto), Grécia (Olympiacos) e China (Shanghai SIPG), o luso pega no 5.º classificado da época passada e campeão pela última vez em 2017. A meta é aproximar o Timão dos favoritos At. Mineiro, Flamengo e Palmeiras.
Luís Castro num histórico promovido
Campeão da Ucrânia em 2020 com o Shakhtar e pouco tempo depois de levantar a Taça do Emir do Catar com o Al-Duhail, Luís Castro foi o escolhido de John Textor, dono da SAF do Botafogo, para fazer renascer este histórico do Rio de Janeiro que está de volta à Série A após vencer a Série B.
Guerra na Europa provoca vários regressos
Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, o futebol parou no primeiro país, devastado pela guerra, enquanto os clubes do segundo se viram afastados das provas europeias. Face à atual situação, FIFA e UEFA permitiram que jogadores nas equipas destes países tivessem uma janela especial de transferências, o que motivou um verdadeiro êxodo de jogadores brasileiros, muitos dos quais regressaram ao seu país, quer a título definitivo, quer por empréstimo.
Só para o Brasileirão voltaram 12 futebolistas, alguns deles de créditos firmados na Europa, como Júnior Moraes e Maykon (Corinthians), Dentinho (Ceará) e Alan Patrick (Internacional), todos do Shakhtar. Abandonaram a Rússia, entre outros, Wanderson e Júnior Alonso, que foram cedidos pelo Krasnodar a Internacional e At. Mineiro, respetivamente. O último, curiosamente, fora contratado em janeiro passado ao campeão brasileiro.
INQUÉRITO
1 - Antes de começar o Brasileirão, que clubes vê com condições de disputar o título e porquê?
2 - Como vê a presença de quatro treinadores portugueses e as suas possibilidades esta época?
Júnior, ex-jogador e comentador na Rede Globo
1 - Pelo início da época, vejo favoritos o Palmeiras, do Abel Ferreira, e o Atlético Mineiro. Têm qualquer coisa a mais, inclusive que o Flamengo do Paulo Sousa, que ainda não conseguiu colocar a sua equipa a jogar como gostaria. O Palmeiras manteve o plantel e tem variações de jogo ofensivo bem interessantes, mas a força está na marcação e na velocidade nos contra-ataques. O Atlético, campeão, em relação a 2021 manteve o equilíbrio com e sem a bola e era uma equipa que dava gosto ver jogar.
2 - O Flamengo precisa recuperar a identidade que parece perdida. As atuações na Taça Libertadores podem ajudar o Paulo Sousa a recuperá-la. O Abel Ferreira destaca-se, até pelo tempo de trabalho que já leva e pelas conquistas. Os outros, Vítor Pereira e Luís Castro, somente com o tempo poderemos avaliar, mas não basta jogar bem, vão precisar de resultados para dar sustentação aos trabalhos.
Mauro Cézar Pereira, Jornalista
1 - Palmeiras, Atlético Mineiro e Flamengo são os clubes com maiores possibilidades de vencer o campeonato. O Corinthians vem logo atrás, isto em tese. Mas estas duas últimas equipas, com técnicos lusos à frente, estão sendo remodeladas. Também o Atlético tem um novo treinador que não é da mesma escola do anterior e não foi ainda verdadeiramente testado porque jogou um estadual, o Mineiro, muito fraco. Muita gente acha que o Palmeiras vai dominar porque disputou o estadual mais forte, o Paulistão, que ganhou jogando bem. Mas é preciso recordar que fez uma preparação mais acelerada da época para participar no Mundial de Clubes e é uma incógnita o que isso pode custar no futuro. Esta é uma época difícil de prever, até por ter um calendário tão apertado devido ao Mundial. As 38 jornadas vão ser jogadas entre este fim de semana e 13 de novembro e há ainda a Taça do Brasil e a Libertadores e a Sul-americana para quem está nestas provas, como é o caso dos favoritos. Não dá para descartar uma surpresa."
2 - A chegada de treinadores portugueses é ótima para o futebol brasileiro. Trazem outra mentalidade e visão e com escolas diferentes. Os técnicos lusos aprimoraram-se nos últimos anos, mostraram conhecimento, enquanto no Brasil os treinadores ficaram parados no tempo. A partir da passagem do Jorge Jesus - a meu ver, o melhor em termos de desempenho, mesmo com os títulos do Abel, porque o futebol do Flamengo era de outro nível, e Jesus só não ganhou mais porque voltou a Portugal - muita gente abriu os olhos, também por culpa do Jorge Sampaoli, e percebeu que é preciso trabalhar para elevar o nível do futebol e a exigência.