O ex-diretor do Lille Luís Campos garante que "seria perigoso" pensar que se pode "perder por poucos" e passar, mas confia numa boa resposta da Seleção Nacional esta noite.
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Luís Campos é um profundo conhecedor do futebol francês e dos jogadores desta seleção de França, nomeadamente Mbappé e Lemar com quem trabalhou no Mónaco. O ex-diretor desportivo do Lille e antigo treinador disse em entrevista a O JOGO o que correu mal frente à Alemanha e deixou a sua opinião do que Portugal poderá fazer para obter um bom resultado no jogo de hoje.
Portugal vai partir para o jogo sabendo que, desde que a Hungria não ganhe, até será apurado com uma derrota até dois golos de diferença. Acha que isso pode ser positivo para tirar peso de cima dos jogadores?
-É sempre positivo ir a jogo com toda a informação e as cartas todas na mão. Depois da derrota com a Alemanha havia o receio que qualquer derrota significasse a eliminação e agora sabemos que pode não ser assim. Mas Portugal vai encarar o jogo para tentar ganhar os três pontos, os jogadores e equipa técnica não podem pensar nisso. São todos experientes e sabem que se jogarem a pensar que podem perder por poucos, podem é perder por muitos. Seria um caminho perigoso se o fizessem. Portugal tem de jogar para agredir e fazer mal à defesa da França. Esta não se pode sentir confortável, tem de sentir que lhes podemos marcar golos.
O que terá a Seleção de fazer de diferente em relação ao jogo com a Alemanha?
-Terá desde logo de conseguir fazer um melhor jogo. Estrategicamente tem de ser mais capaz. Portugal e França são duas equipas diferentes, jogam de formas distintas. Será um jogo complicado, mas esta equipa e os jogadores estão habituados a desafios difíceis. Sobretudo, temos de jogar com uma concentração e atitude diferentes. Será um jogo entre duas equipas muito táticas. Devemos procurar surpreender ofensivamente. Portugal deixou-se surpreender pela Alemanha e isso não pode suceder novamente. Permitimos que nos marcassem golos muito iguais. Com a França a equipa terá de estar mais alerta, assim espero que aconteça. Há que estar melhor de uma forma geral, não apenas na defesa.
Após dois jogos com o mesmo onze, acha que se impõem mudanças?
-Acho que nestes dois jogos o selecionador quis ter uma equipa capaz de acelerar no ataque por fora e faltou quem conseguisse fazê-lo também por dentro. Só com Renato Sanches em campo o conseguiu. Poderá haver modificações para conseguir ter essa capacidade de atacar por fora e por dentro, como sucedeu sempre que houve substituições. Os novos jogadores trouxeram essa capacidade de jogo interior e maior verticalidade. É isso que tem o Renato Sanches... E é mais difícil aos adversários pararem-nos defensivamente quando conseguimos trazer a verticalidade e a capacidade de atacar também por dentro.
Danilo e Wiliam estiveram debaixo de fogo no jogo com a Alemanha, acha que se justifica a presença de ambos em campo?
-Eu entendo muito bem o Fernando Santos, um treinador muito bom e que respeito muito. Perante tanta gente ofensiva na equipa e a participar no ataque, a colocação de um quadrado defensivo, com os dois centrais e esses dois médios, procura evitar que a equipa seja surpreendida nos contra-ataques. Mas por outro lado ficamos com quatro jogadores algo parecidos, Pepe, Rúben Dias, Danilo e William, todos muito altos, robustos. Fica a faltar capacidade de romper pelo meio, jogadores com poder de quebrar linhas. Entendo o Fernando Santos, mas parece-me que é o momento de mudar algo.
Como se pode anular esta França e o seu ataque de luxo?
-A única forma de anular esta equipa, muito física no ataque, passa por manter uma boa estrutura defensiva globalmente. Não é marcando individualmente os franceses que vamos conseguir defender bem. Tem de ser o coletivo a travá-los. A França possui três avançados com grande capacidade para desequilibrar e dois médios que se libertam, Pogba e Rabiot. Por isso, os espaços têm de ser fechados por todos.