A fronteira para Fernando Santos: antigos internacionais apontam a um "fim de ciclo"
Uma saída no imediato, a quatro meses dos jogos que vão decidir a presença ou não de Portugal no Mundial do próximo ano no Catar, é afastada mas uma não qualificação pode justificar uma mudança.
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O que se antevia uma noite de festa para os portugueses, com o concretizar do 12.º apuramento consecutivo para a fase final de uma grande competição (cinco mundiais, seis europeus), tornou-se numa frustração nacional com o desaire na Luz frente à Sérvia.
Num jogo decisivo, onde empatar ou ganhar era igual para as pretensões da equipa orientada por Fernando Santos e qualquer um desses resultados valia o bilhete para o Mundial do Catar no próximo ano, o desaire por 2-1, ao cair do pano, fez levantar vozes críticas da equipa mas, acima de tudo, do seu comandante.
Ainda com um play-off pela frente em março que pode salvar a equipa das Quinas, com uma das gerações de maior talento individual, de ficar em casa a ver a grande competição no sofá há quem entenda que o futuro do engenheiro na seleção nacional está a terminar, com o prazo de Fernando Santos como técnico de Portugal marcado pelo Mundial, muito embora o seu contrato seja até 2024: ou antes do evento, caso o objetivo da qualificação seja falhado ou após o termo da competição, se Portugal lá chegar.
Campeão da Europa com Portugal e vencedor de uma Liga das Nações, Fernando Santos já mereceu um lugar único na história do futebol português mas, seguindo a opinião maioritária dos vários antigos internacionais portugueses ouvidos por O JOGO pode estar em "fim de um ciclo", sendo que o líder da seleção é também apontado como um ou, até, o principal responsável pelo não apuramento direto de Portugal. "Se formos apurados o ciclo [de Fernando Santos] deve encerrar-se após o Mundial. Se não formos apurados, o ciclo deve fechar-se após o play-off", frisa o ex-avançado António Pacheco, numa opinião secundada por pelo ex-médio Delfim: "Tenho respeito pela seleção e pelo selecionador, mas poderá estar aqui o início do fim. Há ciclos e provavelmente, o de Fernando Santos está a chegar ao fim. O selecionador terá de sair se a meta não for atingida." Para Petit, o "abrir de um novo ciclo" será obrigatório caso Portugal não vá ao Catar.
"Portugal obriga a uma exigência grande, de estar sempre nas fases finais das grandes provas e era muito mau se não estivéssemos neste Mundial de 2022", apontou, numa opinião com eco em Carlos Xavier. "Tem de ir pelo menos até ao play-off e depois vê-se. Não acredito que Portugal vá ao Mundial, se as coisas continuarem assim não temos hipótese nenhuma. Alguma coisa terá de mudar mas, neste momento, não é o treinador, quando falta um ou dois jogos. A partir daí [Mundial], o futuro tem de ser equacionado", aponta o ex-médio, alertando que "muita coisa terá de ser mudada até ao play-off".
Líder é mais responsável mas outros têm culpas
Na hora das responsabilizações, a fatia maior cabe a Santos. "Inevitavelmente, é o selecionador nacional. É o responsável máximo pela filosofia de jogo que a equipa tem vindo a demonstrar. Não há fio de jogo, sincronismo. Tem tido uma paupérrima prestação nos últimos jogos", dispara Delfim. Já Carlos Xavier, entende que quem está em campo tem culpas também. "Neste caso, a culpa é todos. Estes jogadores têm egos muito grandes, querem brilhar e ser os heróis mas têm é de jogar como uma equipa", frisa. António Pacheco espera que se mude de perfil de técnico: "Tenho carinho por Fernando Santos e isso leva-me a não ser tão cáustico, mas se fosse eu a decidir procurava outro tipo de treinador para o tipo de jogadores que temos." Certo é que o futebol da seleção nacional sabe a... pouco para quem vê de fora. "Portugal tem um lote de jogadores com valências fantásticas. Acredito que esta geração estará no Mundial mas nestes jogos a eliminar vão ter de jogar mais. Temos jogadores a alinhar nas melhores equipas do mundo, habituados a lutar por títulos. Seria uma frustração muito grande não estarem no Catar" realça Petit.
Finalmente, Carlos Xavier insiste que "os jogadores precisam mudar o chip". "Gostava que tivéssemos perdido na Irlanda porque, assim, teríamos sido obrigados a jogar para ganhar à Sérvia. Jogar para o empate, na retranca, não dá nada. Vi Cristiano a fazer gestos para a equipa avançar, devia ser uma mão para avançar e outra para recuar, não percebi o que era...", criticou o ex-médio.
Inquérito
1 Quem é o responsável pelo não apuramento direto de Portugal?
2 Fernando Santos tem condições para continuar na Seleção?
3 O seu futuro está dependente do que Portugal fizer no play-off?
António Pacheco
Ex-internacional português
"Principal responsável é o selecionador"
1 O principal responsável é o selecionador nacional, tal como foi também o principal responsável pela conquista do título de campeão europeu. No futebol não há culpas individuais, há um conjunto de erros de vários elementos, mas cujo principal responsável é o treinador.
2 Tenho carinho por Fernando Santos e isso leva-me a não ser tão cáustico, mas se fosse eu a decidir procurava outro tipo de treinador para o tipo de jogadores que temos. Este ciclo já devia ter sido encerrado.
3 Se formos apurados o ciclo deve encerrar-se após o Mundial. Se não formos apurados, o ciclo deve fechar-se após o play-off.
Carlos Xavier
Ex-internacional português
"Jogadores querem ser heróis e brilhar"
1 O treinador é quem põe a equipa a jogar mas são os jogadores quem coloca em campo as ideias. Neste caso, a culpa é todos. Estes jogadores têm egos muito grandes, querem brilhar e ser os heróis mas têm é de jogar como uma equipa, não se agarrarem ao individual.
2 Da maneira como estão as coisas, tem de ir pelo menos até ao play-off e depois vê-se. Eu não acredito que Portugal vá ao Mundial, se as coisas continuarem assim não temos hipótese nenhuma. Alguma coisa terá de mudar mas não é o treinador neste momento.
3 A partir daí [do play-off], o assunto é outro e o futuro tem de ser equacionado.
Delfim
Ex-internacional português
"Não há fio de jogo, prestação é paupérrima"
1 Inevitavelmente, o selecionador nacional. É o responsável máximo pela filosofia de jogo que a equipa tem vindo a demonstrar. Não há fio de jogo nem sincronismo. Tem tido uma paupérrima prestação nos últimos jogos.
2 Tenho respeito pela seleção e pelo selecionador, mas poderá estar aqui o início do fim. Há ciclos e provavelmente, o ciclo do Fernando Santos está a chegar ao fim.
3 Temos matéria-prima para fazer muito melhor. Perder podemos perder, mas a equipa precisa de jogar com outra alegria, sem condicionalismos, sem pressão. O selecionador terá de sair se a meta não for atingida.
Petit
Ex-internacional português
"Era muito mau não estar no Mundial"
1 Num grupo são todos, não pode ser de outra forma. Não sei se foi da pressão ou do golo inicial que causou um certo deslumbramento e a confiança de que as coisas estariam ganhas.
2 Fernando Santos já nos levou a ser campeões europeus e não é o momento certo para se falar da saída pois há jogos importantes no play-off. Mudar agora só por um jogo de qualificação não faria sentido nenhum.
3 Aí sim, pode haver o abrir de um novo ciclo. Portugal já nos obriga a uma exigência grande, de estar sempre nas fases finais das grandes provas e era muito mau se não estivéssemos neste Mundial de 2022.