Van Dijk e Sari van Veenendaal, capitães das seleções masculina e feminina dos Países Baixos, respetivamente, insurgiram-se contra comentador desportivo e anunciaram retaliação.
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Os Países Baixos (ex-Holanda, para quem não está ainda familiarizado) prosseguiam ontem, segunda-feira, numa excitação anormal com a expectativa do que seria dito à noite, em horário nobre, num programa desportivo. Provavelmente, arriscavam alguns, não seria de esperar boa coisa, porque o histórico de Johan Derksen, um ex-futebolista, jornalista e ex-diretor executivo da revista "Voetball International", não é muito famoso em diplomacia.
A última polémica, uma piada de teor racista num comentário que fez à volta das manifestações, nos Países Baixos, de apoio ao movimento Black Lives Matter, isto na sequência da morte de George Floyd nos Estados Unidos, foi a gota que fez transbordar a paciência de muita gente, incluindo desportistas famosos que vieram a público anunciar um boicote ao programa "Veronica Inside", onde um painel debate vários assuntos de teor desportivo. Os capitães das principais seleções, Van Dijk (defesa do Liverpool) e Sari van Veenendaal (guarda-redes da equipa feminina do Atlético de Madrid) deram a cara pela contestação. "Chega!", avisaram, numa declaração que denunciava os constantes abusos racistas do comentador. "Já não se trata de humor, esta não é a linguagem do futebol. Foram passados os limites, e não foi a primeira, nem a segunda vez", argumentam. Aliás, a polémica tem sido de tal forma ruidosa que alguns anunciantes já tinham manifestado a intenção de se afastarem do programa, isto porque o canal Veronica, onde passa o magazine "Veronica Inside", se recusou a condenar Derksen, de 71 anos.
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Entre críticos e apoiantes, o debate, desde que a polémica rebentou na última semana, tem navegado entre a liberdade de expressão e os limites dessa liberdade, que, ao que parece, Derksen pisa algumas vezes. Apontam-se-lhe alguns comentários no passado de teor racista ou homofóbico. Desta vez, e a propósito de uma manifestante mascarado de Zwarte Piet, personagem negro da tradição local associada às festas natalícias, e já algo controverso, Derksen perguntou, em tom jocoso, se não seria o rapper Akwasi, um conhecido ativista. "Não é a primeira vez e a tendência tem sido desvalorizar, mas basta", vincou o ex-internacional Edgar Davids. Chamados a comentar, alguns sociólogos sublinhavam que Derksen tem sido igual ao que sempre foi; o mundo, argumentam, é que mudou e está mais sensível e atento ao que se diz. O país prometia colar-se à TV, ontem à noite, para ver se haveria desculpas. E essa era outra das ironias: as audiências crescem com polémica.