Treinador português recordou uma época 2020/21 em que qualificou o Paços de Ferreira, atualmente na II Liga, para as competições europeias
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Pepa, treinador português que está livre no mercado desde que deixou o Al Ahly, do Catar, em abril, recordou esta segunda-feira a época 2020/21, em que levou o Paços de Ferreira, atualmente na II Liga, a um quinto lugar no principal escalão nacional, qualificando-se para as provas europeias.
Através das suas redes sociais e sob o mote “Nunca desistas dos teus sonhos”, o técnico, que passou duas temporadas no emblema pacense, entre 2019 e 2021, salientou a contratação de nomes como Bruno Costa, Luther Singh, João Pedro ou Fernando Fonseca, no verão de 2020, como fundamentais para o sucesso que se avizinhou.
Pepa também contou que esteve perto de reforçar o Vitória de Guimarães a meio dessa época, o que acabaria por ficar “adiado” para o final, já depois de uma “missão cumprida” no Paços de Ferreira.
Leia o relato do treinador na íntegra:
“Verão de 2020. Começávamos a projetar a segunda época no Paços de Ferreira. Com a crescente qualidade exibicional da primeira temporada, os rumores de possíveis saídas começaram a surgir. Mas eu sabia que, para continuar a crescer, tínhamos de manter o grupo unido e coeso, com reforços cirúrgicos. Seria uma janela de transferências crucial. Pedi para participar ativamente nesse processo e a minha solicitação foi aceite. Aqui começou a chave do sucesso para 2020/2021.
Devo essa confiança ao Presidente @jpnm2012 [Paulo Meneses] e ao Diretor Desportivo, @carneiro_carlos, com quem trabalhei cinco anos (hoje reflito sobre a importância de ter alguém de confiança, próximo e competente nestas funções. Mas isso é uma história para outra altura...).
Com a chegada de jogadores como @bruno7costa, @singhluther11, João Pedro e @fernandofonseca2, com muita fome de bola e totalmente enquadrados no nosso espírito de grupo, assim que a época começou senti que tínhamos uma família dentro e fora de campo.
O Bruno Costa e o Fernando Fonseca formaram a dupla mais maluca com quem trabalhei no futebol. Ao ponto de, um dia, terem conseguido por o @marceloferreiraaa a correr atrás deles, de cuecas, no balneário. Cheguei a pensar que a coisa ia correr mal. Mas eram irmãos. Éramos família. Promovi almoços semanais, onde descontraíamos, riamos e conversávamos sobre o que quiséssemos. Mas, quando entrávamos em campo, dávamos tudo.
Ao fim de três jornadas chegou-me um convite para treinar o @vitoriasc_oficial. Toda a gente sabia que era um clube que queria representar. Transmiti a minha vontade ao presidente do Paços, mas dei a minha garantia de que se não chegassem a acordo, continuaria um castor de sorriso bem rasgado e dar tudo pelo sucesso do clube. E assim foi. No entanto, no dia seguinte a saber que a transferência não tinha sido bem-sucedida não apareci no treino. O covid apanhou-me. Foram semanas difíceis. Nesse período defrontámos o Santa Clara, o primeiro jogo que orientei à distância, ainda que perto da Mata Real. Quase não conseguia falar, mas, ainda assim, dei a palestra antes do jogo e ao intervalo.
Estive sempre em contacto com a minha equipa técnica, mas com toda a confiança neles. Vencemos e a partir daí é história. Conseguimos resultados fantásticos, como a vitória em casa por 3-2 sobre o Futebol Clube do Porto. Mas houve dois momentos que nos definiram e definiram a época. Curiosamente os dois jogos frente ao Vitória. Na primeira volta, logo à 3.ª jornada, perdemos com um golo de penalty ao cair do pano, mas fomos, indiscutivelmente, a melhor equipa. No balneário disse-lhes: perdemos, mas sabemos porque é que perdemos. Só falhámos na finalização. Se continuarmos assim, vai ser muito difícil vencerem-nos. E não estava errado. Na segunda volta, senti que poderia ser o jogo de afirmação para a luta pelas competições europeias. Guardei para mim até ao apito final. Vencemos e, ainda no relvado, perguntei aos jogadores: 'Como é? Vamos lutar pela Europa?'. Disseram-me que sim. Mas avisei: 'Não estou a brincar!' E veio um 'Sim' ainda mais convicto. Percebi que íamos fazer história. E fizemos.
Senti que a minha missão estava cumprida. O Vitória voltou a aparecer, era treinador livre e não pude dizer que não. O Paços ficará para sempre na minha memória e no meu coração. Fui jogador e depois treinador. Comprei casa na cidade, onde as minhas filhas concluíram os estudos. Da experiência no clube guardo o conceito de família que criámos e para o qual muito contribuiu a estreita ligação entre treinador, diretor desportivo e presidente. Hoje percebo ainda mais a importância deste circuito. Foi muito bom!”.