Pep Guardiola sobre Gaza: "Os próximos meninos assassinados serão nossos"
Treinador espanhol do Manchester City recebeu um título honorário por parte da Universidade de Manchester e fez um apelo à paz na Faixa de Gaza
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Pep Guardiola foi condecorado na segunda-feira pela Universidade de Manchester com o título honorário “Doctor Honoris Causa” pelo seu trabalho de nove anos como treinador do Manchester City, que inclui a conquista da primeira Liga dos Campeões da história do clube, em 2023, e de seis Premier Leagues, quatro delas seguidas, entre 2018 e 2024.
Nesse âmbito, o técnico espanhol aproveitou o seu discurso para fazer um apelo à paz na Faixa de Gaza, pedindo o fim do conflito armado entre Israel e a Palestina em prol das próximas gerações.
“É doloroso ver o que vemos em Gaza. Faz-me doer todo o corpo. Sejamos claros: não se trata de ideologia. Não se trata de eu ter razão e tu não. Trata-se simplesmente de amar a vida, de cuidar do próximo. Talvez pensemos que podemos ver meninos e meninas de quatro anos a serem assassinados por uma bomba, ou num hospital que já não é um hospital, e que não é um assunto nosso. Mas cuidado, o próximo será numa questão de horas. Os próximos meninos de quatro ou cinco anos serão nossos. Custa-me muito ver os meus filhos María, Marius e Valentina cada manhã desde que começou o pesadelo em Gaza, tenho muito medo”, começou por dizer.
“Talvez esta imagem vos pareça muito longínqua de onde vivemos agora, e talvez se perguntem o que podemos fazer. Há uma história que me vem à mente. Um bosque está em chamas. Todos os animais vivem aterrorizados, indefesos, mas um pequeno pássaro voa de um lado ao outro até ao mar, levando gotas de água no seu pequeno bico. Uma serpente ri-se e pergunta-lhe: ‘Porquê irmão? Nunca apagarás o fogo’. O pobre pássaro responde: ‘Sim, eu sei’. ‘Então porque o fazes uma e outra vez?’, volta a perguntar a serpente. ‘Só faço a minha parte’, responde o pássaro. Ele sabe que não travará o fogo, mas nega-se a não fazer nada”, prosseguiu Guardiola.
“Num mundo que nos diz regularmente que somos demasiado pequenos para marcar a diferença, esta história lembra-me que o poder de alguém não se trata de tamanho, mas sim da escolha de se apresentar, de se negar a calar-se ou de ficar quieto quando mais importa”, refletiu, em jeito de conclusão.