"Pensei que Jorge Jesus estava a dizer aquilo para que eu jogasse melhor"
Rúben Semedo, defesa-central português que joga no Al Khor, do Catar, por empréstimo do Al Duhail, deu uma entrevista ao jornal espanhol Marca
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Vida no Catar: "A verdade é que encontrei aqui a minha segunda casa. A minha família está à vontade e eu também, por isso tenciono ficar aqui durante muitos anos, se Deus quiser. Digo sempre a toda a gente que a grande diferença de Doha para a Europa é a segurança, a segurança de ter os seus filhos, a sua família está bem e pode fazer o que gosta sem preocupações."
Sobre a liga do Catar: "Desde que cheguei, a liga mudou muito, sempre me trataram muito bem. A adaptação é fácil porque toda a gente te ajuda e vês que as pessoas querem que o futebol cresça, o que torna tudo mais fácil."
Infância na Amadora: "As raízes são sempre importantes. Acabamos por fazer os nossos primeiros amigos, a nossa primeira escola, ou seja, todo o ambiente. Obviamente que isso fez de mim o Rúben que sou e não posso justificar nada. A minha família esteve sempre muito próxima de mim, sempre me ajudou em tudo e graças a Deus sou muito feliz."
Início no futebol: "Comecei a jogar no bairro, depois tive uma equipa mas era muito longe da minha casa e como não tinha dinheiro para lá ir, tinha um amigo que me ajudava. Ia com a mãe dele treinar e depois... tive uma fase em que queria ser cantor. Deixei o futebol, voltei a jogar na rua, tentei ser cantor, dancei e tudo e deixei o futebol por um bocado. Joguei no bairro, depois voltei para um clube mais perto da minha casa e aí comecei a jogar outra vez e num jogo perdemos 1-5 com o Sporting. Foi aí que me viram e me chamaram. Não pensava muito em ser profissional, queria ter um escape, fazer alguma coisa para sair do bairro. E eu gosto, gosto de dançar, gosto de cantar, mesmo sem saber como, mas gosto demasiado. E ao mesmo tempo jogava futebol na rua, não vi isso como o fim da primeira coisa que queria fazer na minha vida, escolhi e acho que correu bem."
Chegada à formação do Sporting: "Foi um momento importante porque eu também estava a estudar e a minha mãe não queria que eu fosse para o Sporting, porque era longe, tinha de ir para o centro de Lisboa, mas obviamente que o clube ajudou e eu chegava a casa muito tarde e no dia seguinte ia para a escola. A minha mãe no início disse-me para tentar mas para continuar a estudar."
Jogou no Reus, de Espanha, e 2014: "A verdade é que eu não queria sair, não queria sair de Portugal. Nunca tinha vivido fora e ainda mais sozinho, custou-me mas acabou por fazer de mim o que sou hoje. Ou talvez tenha crescido mais como homem do que como jogador e foi um passo muito importante na minha vida. Foi a primeira vez que fiquei sozinho num país que não conhecia, nem sabia cozinhar. Eu gosto, agora gosto, mas antes não sabia cozinhar. Tinha medo do que ia comer, do que ia fazer sozinho, não sabia a língua, não tinha amigos. Depois o meu primo veio uns meses mais tarde, mas nessa altura eu já conhecia a cidade. Adorei o clube, a cidade, 100% profissional, trataram-me muito bem."
Proposta do Villarreal: "Bem, quando o Villarreal chegou, foi quando eu estava de partida para o Campeonato da Europa Sub-21 que jogámos contra a Espanha. Perdemos. Meu Deus, que raiva. Depois ia para o Campeonato da Europa e no hotel o meu agente veio dizer-me que havia uma proposta do Villarreal e uma do Newcastle, mas vi na Internet e vi que estava a chover muito e disse que não [ao Newcastle]. A outra não me lembro, mas tive a ideia do Villarreal, que gosta de jogar futebol. Riquelme, Forlán e eu disse 'não, eu vou para lá e não pensei duas vezes e aceitei."
O que pensou quando Jorge Jesus disse que iria ser o futuro da Seleção portuguesa? "Que ele estava louco. Não acreditei nele, ele sabia das minhas qualidades mas também sabia que era muito difícil. Pensei que ele estava a dizer aquilo para que eu jogasse melhor. Com o tempo, comecei a acreditar que era possível."
O momento em que percebeu que podia jogar na elite? "Quando fiz o meu primeiro jogo na Liga dos Campeões com o Sporting, diante do Villarreal, foi quando comecei a ver que as coisas estavam a mudar."