Após várias épocas na grande competição americana, Pedro Santos desceu de escalão, mantendo a paixão e já alimentando o bichinho de treinador. De uma vida radiosa no Columbus Crew, a uma passagem mais discreta pelo DC United, que lhe permitiu defrontar Messi, extremo rebobina memórias e o sucesso que alcançou.
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Pedro Santos trocou Braga por um sonho americano, em 2017, que se refletiu na conquista da MLS em 2020. Ainda continua nos Estados Unidos, devidamente instalado e com planos para ficar lá como treinador.
Que ambições e desafios se colocam após a retirada de cena da MLS para jogar na USL, no Loudoun United?
— O objetivo que tenho é continuar a jogar, sinto-me bem no campo, estou feliz e tentarei prolongar esta atividade o máximo que puder. Também já sou treinador, estou a tirar cursos e licenças, já estou inscrito no UEFA B, pelo que também tenho os planos de futuro em marcha, para quando parar. Já penso, efetivamente, em ser treinador.
Depois do Columbus Crew e do DC United, esta movimentação que implicações teve na sua vida?
— Não tive de mudar grande coisa, este clube está na mesma cidade onde tinha os treinos do DC United. Não tive qualquer mudança profunda, e essa foi uma das razões fundamentais que me levaram a aceitar. Tive outras ofertas, mas tinha de mover-me com a família e eu queria ficar no estado da Virgínia. Foi perfeito nessa componente. De resto, é algo completamente diferente. Na MLS, as eram condições muito superiores, tudo muito organizado. Esta USL está muitos passos atrás, mas tende a crescer, porque há clubes que estão a construir estádios, temos aqui alguns campos inimagináveis para uma liga profissional. Há, objetivamente, trabalho pela frente, mas esta liga também vai adotar uma lógica de promoção e despromoção, o que aumentará a competitividade. Nada disto envolve a MLS, que fica à parte, porque é privada.
Como está a sentir esta época, tendo 37 anos, e uma liga sem o alarido da MLS?
— Tenho estado a jogar sempre, a ter bastantes minutos. Só foi pena uma lesão muito recente, que me vai deixar algumas semanas de fora. Mas vou trabalhar para voltar quanto antes, até porque sei que sou importante na equipa
Esta Liga funciona como prolongamento de carreira de muitos jogadores de referência da MLS?
— Vai dependendo muito dos jogadores, se estão abertos a jogar nesta Liga, ou se o ego fala mais alto. Eu não me importei nada com esta decisão. Com a idade que tenho, o dinheiro já não é tão importante. Queria continuar a jogar, manter a família bem e por perto. Há muitos jogadores que passaram pela MLS, fizeram grandes carreiras, e vieram cá parar e há ainda outros também que tiveram breves passagens, não foram bem-sucedidos na MLS, e fizeram aqui [USL] muitos anos de competição. Existem alguns estrangeiros, sobretudo, sul-americanos.
Como faz o saldo do que viveu e conquistou e do que essa experiência rende hoje?
— Foi uma experiência muito boa quando decidi vir para cá. Vinha com medo e sem conhecimento algum da liga, do país e do clube. Mas, olhando para trás, faria o mesmo. Fui muito feliz na MLS, feliz nos Estados Unidos, eu e a minha família conseguimos uma adaptação rápida. Estamos todos muito bem aqui, e isso é importante. Hoje junto a sensibilidade de ser mais velho, de ser uma referência no balneário e sinto esse estatuto, que passa pela responsabilidade de transmitir os meus conhecimentos aos mais novos, de ser um exemplo de como dar o máximo. Eles devem ver um jogador da minha idade com a mesma vontade de treinar, isso é demonstrativo do caminho que podem traçar.
E que memórias mais marcantes tem dos 215 jogos na MLS?
— Ganhar troféus é o que fica marcado na história. Arrisquei um pouco ao vir de Portugal para os Estados Unidos e sou, hoje, o único português que venceu a MLS, pelo Columbus. Isso é gratificante. Gostava que tivessem vindo mais, seria um bom sinal, mas esta é uma liga forte, e os portugueses têm todas as qualidades para se adaptarem. Ter o nome marcado na história da competição é muito saboroso.
Como olha para os dois clubes que representou na América?
— Vivi seis épocas no Columbus Crew, que foi o primeiro clube. Fiquei com muito carinho, e o projeto continua a crescer, com uma estrutura forte. Voltou a ganhar a MLS há dois anos, está organizado para ter sucesso. O DC é uma realidade muito diferente, anda meio à deriva, tem falhado consecutivamente o play-off, estão a faltar muitas coisas. Claro que tem muito potencial, é ainda o clube mais titulado, mesmo não vencendo nada há dez anos. Anda à procura de se reestruturar para se reerguer.
E como recua ao título de 2020?
— O que vivi em 2020 foi um pouco agridoce, foi ano da covid e não pude jogar o jogo da final, que nos deu o título. Ainda joguei a final da Conferência, mas já me sentia muito cansado, fiz o teste, após um ano inteiro sem covid, e estava infetado. Tentei recuperar, porque os meus valores eram baixos, mas não fui a tempo. Não pude estar na festa, mas um título é um título. Os meus companheiros deram o máximo e conseguiram. Foi pena, porque fui dos elementos mais importantes ao longo do ano, com golos e assistências decisivas, como aconteceu contra Nashville, jogo em que fiz o primeiro golo.