Paulo Fonseca recorda "pesadelo" na Ucrânia: "E se Portugal fosse invadido? Lutaríamos?"
Em entrevista ao jornal italiano Gazzetta dello Sport, Paulo Fonseca recordou a saída da Ucrânia, dias após a invasão russa ao país, e apelou a que Vladimir Putin não vença o conflito, para o bem de "todo o Mundo".
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"Foi um pesadelo", recordou o técnico que, juntamente com a mulher, o filho e o plantel e equipa técnica do Shakhtar Donetsk, esteve abrigado no bunker de um hotel em Kiev.
"Foi a 24 de fevereiro, era suposto sairmos às dez da manhã para Portugal. Às quatro e meia ouvimos as primeiras explosões. Estávamos assustados. As crianças dormiam em sacos-cama. A minha embaixada organizou uma viagem para três famílias e fomos para a Moldávia. Foi uma viagem terrível, 30 horas sem parar, com filas de 5 quilómetros e caças a voar por cima das nossas cabeças. Só relaxei quando chegámos à Roménia", relembrou o treinador de 54 anos.
"A minha mulher ainda chora porque temos amigos e família no país. Agora, através da Federação portuguesa, estamos a tentar receber alguns refugiados de guerra. É uma parte pequena, quando comparado com os dois milhões de pessoas que estão a deixar o país", prosseguiu.
O antigo técnico do Shakhtar e Roma alertou ainda para o perigo que um eventual triunfo da Rússia no conflito acarreta. "Não sou político, mas sou a favor de uma zona de exclusão aérea. É verdade que eles [a Rússia] têm a bomba atómica, mas estamos a deixar o Putin ficar demasiado forte, ele sente o medo da comunidade internacional. Tem de ser parado agora, ou tornar-se-á mais difícil fazê-lo depois. O pior está para vir. As centrais nucleares são um problema e sabemos o que pode acontecer com este homem. Ele é o principal responsável. Quem o apoiar necessita de ajuda psicológica".
Sobre se os ucranianos deveriam render-se, Fonseca foi perentório: "É falar quando estamos longe. E se a Itália ou Portugal fossem invadidos? Lutaríamos? Nada há mais precioso do que a liberdade e agora há muitos países com medo. A Geórgia, a Moldávia, a Polónia... Se o Putin ganhar esta guerra será um grande problema para todo o Mundo", avaliou.
Em tom de despedida, Paulo Fonseca agradeceu o apoio do conjunto romano e da família Friedkin e revelou que José Mourinho não lhe ligou quando esteve retido na Ucrânia.
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