Na terceira participação na CAN com o Burquina Faso, o treinador luso alcançou o terceiro lugar, não sofrendo qualquer derrota. Os penáltis sentenciaram a eliminação, mas o balanço é amplamente positivo.
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De volta a Portugal, após 42 dias de estágio, Paulo Duarte recorda com agrado a participação na Taça de África das Nações, embora diga que a sua equipa merecia ter ido à final.
Que balanço faz desta participação na CAN?
-Muito bom, ganhámos a medalha de bronze. Ninguém jogou melhor do que nós. Produzimos um futebol elogiado por todos como o melhor na competição. Mas saímos tristes depois de um desafio contra o Egito em que criámos mais oportunidades e tivemos 65% de posse de bola. Merecíamos ter passado. É a ingratidão das grandes penalidades.
O que falhou nessa meia-final? Eficácia? Sorte?
-Sim. Dominámos, tivemos oportunidades para fazer o golo que precisávamos. Nos penáltis o Egito teve jogadores mais serenos e capazes. Sabia que indo a penáltis teríamos grandes dificuldades. Nos treinos fizemos cinco sessões e em 200 batidos falhámos 147, o que diz bem da ineficácia. Até marcámos melhor do que esperava os penáltis, mas não era um ponto forte nosso.
O que está na génese dessa dificuldade?
-Não foi por falta de treino, de incentivo. Talvez o não acreditar, o não querer assumir a responsabilidade...
Por que colocou o guardião Koffi a bater um penálti?
-Em 15 que bateu nos treinos, fez 14 golos. O oposto dos outros jogadores. É um jovem com grande qualidade e confiança. É verdade que falhou, ou melhor, o guarda-redes do Egito defendeu. Acontece.
Sem derrotas custa mais falhar o acesso à final?
-Sim, é um facto. Podíamos ter ido à final, mesmo que não ganhássemos aos Camarões, nunca se sabe. Ganhámos a seleções de nomeada, como à Tunísia, ao Gana, pela primeira vez. Empatámos com os Camarões... Esta CAN vai deixar marcas positivas.
Acha que esta seleção, tão elogiada, pode dar mais?
-O Burquina pode e deve evoluir na organização. Mas, a nível da qualidade de jogo, a equipa chegou a um patamar quase limite. Tivemos uma grande organização defensiva, apresentámos um bom futebol, dificilmente jogaremos melhor, mais cinco por cento talvez. Mas temos de continuar a renovar a equipa, procurar novos jogadores. Esse é o grande desafio.
Neste seu regresso ao Burquina, o que mudou?
-Quando saí, após quatro anos, a equipa estava montada, a estrutura e as regras estavam lá e a seleção continuou a dar frutos, mas depois caiu a pique. Foi um risco enorme abraçar este projeto, quando voltei há um ano, e só o fiz porque conhecia a equipa. Ninguém acreditava na qualificação, faltavam quatro jogos, estávamos a três pontos do Uganda e quase obrigados a vencer todas as partidas. Digo com humildade, sem arrogância, que quase comecei do zero.
Mas a resposta dos jogadores foi quase imediata...
-Contra o Uganda jogámos com todos os maus vícios, mas ganhámos, por 1-0 de penálti, com uma má exibição. Depois, mudou tudo. Fizemos no Uganda uma grande partida, podíamos ter ganho, empatámos, mas voltou a confiança.
Após duas jornadas da fase de apuramento para o campeonato do mundo, a seleção orientada pelo luso lidera o Grupo D, que integra a África do Sul, Senegal e Cabo Verde. Quais são as expectativas?
-Jogar sempre para ganhar, sabendo que vai ser muito difícil. O Senegal é muito forte, apesar dos últimos resultados menos bons. A África do Sul tem do melhor futebol que se pratica no continente, com velocidade e técnica fantásticos... Somos primeiros e na estreia, contra a África do Sul em casa, falhámos dois penáltis, empatando um jogo que devíamos ter ganho. Podíamos ter agora seis pontos. Com 12 pontos, a qualificação era quase certa e podíamos ter ficado com quatro jogos para conseguir mais seis pontos. Teria sido um passo muito grande. É bom estar na frente com a África do Sul, mas a margem de erro é curta para ambos, sem esquecer o Senegal. O próximo jogo é em Dakar (28 de agosto), quatro dias depois recebemos o Senegal, por isso, é uma jornada dupla decisiva.
Foi-lhe pedido o apuramento ou é só uma esperança que existe?
-Não há exigência, mas a expectativa existe porque a criei. Disse-lhes que o meu sonho, mais do que jogar a CAN, era garantir o primeiro Mundial para o Burquina. Disse-o publicamente e empolguei o povo, dirigentes, jogadores. Agora, todos dizem que vamos ao Mundial... Criei um bicho e tenho de lhe dar de comer.
O seu contrato acaba no final da qualificação. Que planos tem? Fechar o ciclo no Mundial?
-Gostava muito de treinar nos cinco continentes. Em Portugal já ganhei uma Taça Intertoto. Em África participei em três CAN e agora alcancei uma medalha de bronze. Quero ter novas experiências. O Burquina está no meu coração, mas não vou ficar lá para sempre. Não me vou precipitar. Tenho contrato por mais dez meses, vou trabalhar tranquilamente e, após a qualificação, vou decidir com calma o meu futuro. Vamos ver.