Passou por Portugal e relata tragédia na Indonésia: "Havia pessoas mortas como animais"
O guarda-redes Maringá jogou o dérbi de East Java, que acabou em tragédia. 125 pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas.
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Adilson Maringá foi um dos jogadores que presenciou de perto o terror vivido no dérbi entre o Arema e o Persebaya Surabaya, na Indonésia, em que 125 pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas. O guarda-redes que representou Pinhalnovense, Aves, Beira Mar e Vilafranquense falou ao jornal brasileiro GloboEsporte sobre a tragédia.
"Foi uma cena lamentável. Depois dos jogos temos o hábito de cumprimentar os adeptos e por isso ficámos alguns minutos no campo. Mas depois vimos que estavam a invadir o relvado. Os polícias pediram-nos nos retirássemos e que fossemos para o balneário. Saímos normalmente, a andar, só que a invasão foi tão grande que os polícias não conseguiram contê-la. Se repararem no vídeo, eu sou o último a sair. Quando estou a sair vem um grupo de mais ou menos umas oito pessoas que me agarra. E eu já não conseguia sair... Aí temi pela vida", explicou o futebolista do Arema, equipa que perdeu por 3-2.
"Apareceu um polícia que me ajudou, eu consegui escapar e corri para o balneário. Depois de nós entrarmos aconteceu a selvajaria. Eles invadiram, os polícias tentaram contê-los, mas não conseguiram, eram poucos agentes para tanta gente. Então mataram ou pisaram dois agentes, que vieram a morrer. Depois, a revolta dos polícias foi grande e começaram a lançar bombas. E aí começou a selvajaria", continuou.
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Maringá recordou que as equipas ficaram durante várias horas nos balneários sem saberem exatamente o que se estava a passar.
"Não sabíamos de nada, ficámos no balneário umas cinco ou seis horas. Só se ouviam gritos, barulho de bombas e ninguém sabia informar nada. Tememos muito pela vida dentro do balneário. Pensámos 'eles vão invadir e matar todos os que estão aqui dentro'. De repente, trouxeram pessoas que estavam a agonizar por terem inalado o gás lacrimogéneo. Chegaram a morrer dentro do balneário. Quando vi aquilo desesperei e disse: "meu Deus, vou perder a minha vida num jogo de futebol'", contou o guardião brasileiro.
"Ninguém sabia dizer nada, pediam calma. As pessoas choravam e só sabíamos os números de mortos. 'Faleceram 50, 60'. Pensei que aquilo ia tornar-se numa guerra sem fim e que nos ia atingir lá dentro. Veio o exército, blindados e a guerra campal continuava. Depois as coisas acalmaram e conseguimos sair do estádio, por volta das 4 horas da manhã. Quando saímos vimos o desastre no campo e fora do campo. Nunca tinha presenciado uma coisa destas na minha vida, havia pessoas mortas como animais. E o número aumenta, há muita gente nos hospitais que está por um fio", acrescentou.
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Maringá apontou que os jogadores têm "medo" e estão "sem cabeça para jogar futebol" e pede a intervenção da FIFA.
O ex-Vilafranquense esclareceu ainda que a relação com os adeptos foi sempre "boa", mas que o facto de ser um dérbi motivou a confusão.
"A nossa relação com a torcida era supertranquila, boa. Estou aqui há dois anos. No ano passado lutamos pelo título, infelizmente não conseguimos. Este ano fomos campeões de uma Taça importante aqui. Não começámos a Liga muito bem, mas também não tão mal assim. Meio da tabela, nonos classificados. Mas acontece que este jogo é um dérbi. Há sempre confusão neste jogo. Só que nunca tanto quanto dessa vez. Foi fora do normal. Esperam muito desse jogo, e perdemos em casa. Mas ultrapassaram o limite. Isto foi um desrespeito ao ser humano. A FIFA tem que tomar medidas para nunca mais se repetir em lugar nenhum do mundo", vincou.