Passaram por Portugal e alertam para o momento de Vinícius: "Somos poucos para o proteger..."
Deyverson, antigo avançado do Belenenses, e Diego, antigo médio do FC Porto, alertaram, cada um ao seu jeito, para o momento delicado passado por Vinícius e pelo futebol em geral
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O episódio de racismo pelo qual passou Vinícius Júnior, deixou um rasto de preocupação no Brasil, sendo o atacante uma das bandeiras atuais do futebol canarinho. Muitas vozes fizeram sentir a sua força e vários jogadores e ex-atletas se insurgiram e prestaram repúdio. Tratando-se de uma questão sensível no debate atual, os custos emocionais que acarreta, o caso de Vinícius ganhou proporção a partir da sua expulsão, muito em razão da instabilidade que foi procurada no atleta, discutindo-se em Espanha o comportamento de árbitros, adversários e até colegas, por não serem os primeiros a tomar o caminho da saída.
Aproveitando o eco dessas opiniões e de muitas sensibilidades, fomos ao encontro de Deyverson, avançado do Cuiabá, vencedor da Libertadores com Abel Ferreira no Palmeiras. O antigo avançado do Benfica B e do Belenenses SAD, que também jogou em Espanha no Levante, aproveitou para homenagear Vini Jr. e agarrar um gesto simbólico dos protestos Black Lives Matter, erguendo o braço direito, antes do apito inicial para o Cruzeiro-Cuiabá.
Avançado que passou por Portugal marcou posição ao levantar o braço direito antes de um jogo
"Acho importante o posicionamento, nós que temos alguma influência podemos consciencializar as pessoas. O apoio ao atleta tem de ser validado pelo máximo de gente, é preciso começar a falar sobre o que se passa", assinalou a O JOGO o atacante. "É essencial que surjam muitas mensagens de apoio. Já sofri racismo e não é fácil lidar com isso. O Vinícius é um jogador incrível e todos somos poucos para o proteger e apoiar. Se somos colegas de trabalho devemos cobrar medidas exemplares e eficazes para combater estas situações", atestou Deyverson, encontrando um clima mais enfermo em Espanha. "Falo por experiência própria, o futebol espanhol é algo diferente do nosso e acho que o Brasil está muito mais avançado em relação ao tema do racismo. Nada pode justificar a forma como o Vini está a ser tratado", acusa, pondo ainda foco na punição, já que o futebol continua a albergar gente com este grau de preconceito e afronta social.
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"Essas pessoas têm de ser postas fora do futebol. Este é o desporto do povo e precisa do respeito de todos. O desrespeito é muito errado, os estádios não podem ter espaço para esta gente. Todos que cometerem crimes neste âmbito devem ser punidos", argumenta o avançado do Cuiabá, expressando a sua resposta pessoal. "Nunca me abalou mas deixou-me muito triste! Foram situações que vieram apenas das bancadas. O futebol sempre me abraçou, tal como todos os profissionais. Foram sempre respeitosos", aclara Deyverson.
"Situação repugnante"
Diego, antigo médio do FC Porto, falou com O JOGO, após ter sido corrosivo nas redes sociais
Diego, ex-FC Porto, agora retirado, foi severo a julgar os malfeitores e apologistas do discurso de ódio. O antigo craque viu Vinícius escalar o topo a partir da base do Flamengo. "Estamos a falar de um garoto sensacional. Ele está a enfrentar esta situação, a dar o peito, porque tem o propósito na vida dele de ser uma referência. Ajudar a que todos, enquadrados na sociedade, possam refletir e que se juntem nessa busca de uma punição exemplar para os que façam vida com atos racistas, cobardes e inadmissíveis", salienta.
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"São necessárias decisões severas contra essas pessoas, contra clubes, contra todos os que tiverem tal posicionamento. Vinícius é um grande menino, sensacional, também talentoso e corajoso. Tenho grande prazer por ter jogado com ele e temos de estar unidos em seu redor", exorta Diego, incisivo num post nas redes sociais: "Uma situação repugnante, não dá para relativizar e ponto! Não vale a pena dizer que provocou, driblou ou deu caneta! Racismo não é troco, é crime! Crime contra o Vini, contra o nosso futebol, a nossa cultura, contra todos os brasileiros na Europa, e contr a o povo negro, protagonista do nosso futebol e do crescimento deste país."