Pagamento "ilícito" de Blatter a Platini, em 2011, foi um "acordo de cavalheiros"
Francês não recebeu, entre 1998 e 2002, o acordado com o suíço, tendo sido ressarcido, vários anos depois, ao apresentar uma fatura à FIFA. Ex-dirigentes em risco de irem para a prisão
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O pagamento de 1,9 milhões de euros, por ordem de Joseph Blatter, em 2011, por serviços de consultoria prestados por Michel Platini, considerado "ilícito" pelas autoridades suíças, foi um "acordo de cavalheiros" e "legal", alegou o ex-presidente da FIFA, na primeira sessão de julgamento, na Suíça, recusando existir a prática de crime.
A defesa alegara que o pagamento foi referente a um trato feito em 1999, que remuneraria Platini, ex-estrela mundial, como conselheiro especial de Blatter até 2002. Os antigos dirigentes, investigados durante sete anos, e sob suspensão no futebol, estão acusados de fraude, desvio de fundos e falsificação de documentos.
Blatter explicou que recorrera a Platini em 1998, logo após ser conduzido à liderança da FIFA, para obter aconselhamentos transversais na gestão desportiva, envolvendo realização de viagens de cariz político, de reformas no calendário internacional e a obtenção de apoios de federações nacionais associadas.
"Quando fui eleito, o organismo tinha um mau historial. Mas eu pensava que um homem [como Platini] que tinha estado no futebol [como jogador] nos poderia ajudar - à FIFA e a mim. Não ocorreu nada de ilegal", alegou Blatter, no Tribunal Penal Federal suíço, na passada sexta-feira.
O juiz ouviu Platini dizer que sugeriu a Blatter pagar-lhe um milhão de euros como remuneração, tendo o antigo presidente da FIFA aceite a proposta, optando por fazê-lo em francos suíços. "Quando o Sr. Blatter me pediu para ser conselheiro, perguntou-me qual o salário. Fiquei surpreendido e disse-lhe: '"Quero um milhão"'. Sepp disse-me: '"Um milhão em quê?"' E, a brincar, respondi-lhe: '"Pesetas, liras ou rublos. E Blatter disse-me: '"Pago-te [através da FIFA] um milhão em francos suíços"', recordou.
Porém, a realização desse pagamento ficou sob uma condição. Blatter disse a Platini que a FIFA não poderia suportar tal salário e, por isso, o francês receberia 300 mil francos por ano, ficando o remanescente passível de ser saldado posteriormente - "disse-lhe que o resto viria mais tarde", lembrou Blatter, perante o juiz suíço.
Esse entendimento, escreve a "ESPN", foi simplesmente apalavrado pelo duo, dado que não lhe foi feita referência no contrato assinado por Platini com a própria FIFA, em 1999, oficializando os serviços de consultoria ao suíço. "Confiei que Sepp me pagaria", disse o francês. O antigo presidente da FIFA alegou ser o tal "acordo de cavalheiros".
Platini, que cessou funções em 2002, disse que não reclamou a dívida até 2011, 12 anos após ter sido conselheiro de Blatter, porque não precisara do dinheiro, mas que decidiu fazê-lo, tão desfasadamente, ao saber que outros funcionários pertencentes à FIFA tinham recebido pagamentos substanciais, refere o "France24".
Platini contou, na também primeira sessão em tribunal, que solicitou o pagamento "devido e legal" de 1,9 milhões de euros à FIFA e que esta exigiu-lhe a apresentação de uma fatura. O documento foi enviado pelo antigo presidente da UEFA e pago, no prazo de dez dias após ser remetido, sob aprovação de Blatter, refere a "ESPN".
Em oposição ao processo levantado, o ex-presidente da FIFA lamentou "não entender o porquê de uma audiência criminal por causa de um procedimento administrativo" e os "sete anos de castigo" relativos ao período de investigação. Blatter entende que este caso foi originado com o propósito de o afastar da liderança do organismo, em 2015.
A FIFA considera que a imagem do organismo foi afetada com a condenação de Blatter nas instâncias desportivas, obrigando à sua renúncia do cargo de presidente, por "abuso de posição" e "má gestão, e que "foram roubados dois milhões de francos", dirigidos a Platini enquanto exercia o cargo de presidente da UEFA (2007-2016).
Se forem condenados, Blatter e Platini podem enfrentar penas de prisão, estimadas até cinco anos, embora haja a hipótese de serem suspensas, e ser obrigados a pagar uma avultada multa compensatória. O veredicto é ditado pela Justiça suíça em 8 de julho.
Peça editada e atualizada após publicação inicial