Assinalam-se esta quinta-feira os 25 anos da conquista do título mundial de sub-20 pela seleção de Portugal, que dois anos antes, já com Carlos Queiroz como selecionador, vencera a mesma prova na Arábia Saudita.
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Carlos Queiroz, num texto publicado em O JOGO, não se limita a recordar o que sucedeu nesse ano de 1991 mas explica o que foi feito para levar Portugal a sagrar-se bicampeão mundial de Sub-20.
"Confirmação máxima do impacto da nova visão
A vitória no Mundial sub-20 em Lisboa fez muito mais do que mudar a carreira de muitos jogadores portugueses. Se dúvidas existissem, esse triunfo foi apenas a confirmação máxima do impacto de toda uma nova visão implantada no futebol de formação em Portugal, visão essa que deixaria influências decisivas não apenas nos futebolistas, mas também no futuro de todo o futebol nacional. No início da carreira como treinador das Seleções Nacionais comecei por questionar todo o processo de formação dos jogadores em Portugal. A primeira interrogação que coloquei a mim próprio foi a esta: "Que futebol devia eu servir? Um futebol de lazer? Um futebol para entretenimento? Um futebol amador? Ou um futebol de alto rendimento, profissional, cujas exigências requerem capacidades e habilidades elevadas ao máximo dos limites de um ser humano?" Encontrada a resposta, de "trabalho para um Futebol de Elite e verdadeiramente Profissional", numa clara rota de direção para uma indústria do desporto que se transformou nos dias de hoje numa das atividades socioeconómicas mais relevantes da humanidade, rapidamente se colocaram outras duas questões: 1) Como se caracteriza esse futebol e, fundamentalmente, quais as tendências evolutivas e os desafios do "Futebol Moderno" de forma a preparar e formar os jovens jogadores não para o presente mas sim para o "Futebol do Futuro"?; 2) Como se pode conceber e admitir em Portugal o conceito e estatuto de "Jogador Profissional de Futebol" sem se conceber ou admitir o conceito de "Formação" em Futebol Profissional?
A partir daqui foi fundamental definir e planear todos os princípios que teriam de nortear a ação enquanto treinador das Seleções Nacionais. De uma forma firme mas convicta iniciei então uma abordagem renovada no tratamento de todas as questões relacionadas com tudo aquilo que na altura era designado por Futebol Juvenil. A educação e o treino pela "superação e vitória", orientados para a "Competição de Elite", passaram a ser condições imperativas para o trabalho de jovens jogadores no processo de formação para o "Futebol profissional".
Nelo Vingada, Carlos Godinho, Rui Caçador... No princípio fomos poucos, muito poucos, os que acreditaram ser possível fazer do futebol português aquilo que o país não era. Mas o processo iniciou-se e hoje ninguém em Portugal questiona estas matérias, que são parte natural dos manuais correntes; hoje somos considerados mundialmente como um país exemplar e moderno na preparação de Jogadores de Elite.
No momento em que se cumprem 25 anos do título de Lisboa, e precisamente quando a Seleção Nacional está envolvida em mais uma grande competição internacional, importa deixar uma mensagem de celebração desta vitória histórica e de todos os valores que a suportaram - os valores de equipa e de humildade, mas também de capacidade de trabalho, de planeamento e de superação individual e coletiva. Esta mensagem, que partilho com todos os envolvidos de então, mas também com a Seleção Nacional e com o Portugal de hoje, será sempre atual. Obrigado, Força Portugal!"