Regresso alemão visto por um português: "Equipa visitante equipou-se na escola"
Carlos Leal é um dos diretores para o futebol do clube líder da Bundesliga II. É português e dá-nos outro ponto de vista sobre o recomeço na Alemanha
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A Bundesliga recomeçou e o exemplo alemão é para seguir na maioria dos campeonatos europeus, especialmente por ter corrido tão bem.
André Silva, Gonçalo Paciência ou Raphael Guerreiro são portugueses que brilham no relvado, mas há um que dá cartas fora dele. Carlos Leal (à direita na foto) tem 52 anos é um dos dois homens que manda no futebol profissional do Arminia Bielefeld, que está em vias de subir ao primeiro escalão. É o chefe de scout (prospeção) que constrói o plantel.
A quarentena do futebol alemão terminou. Como assistiu ao regresso e à experiência deste novo futebol?
- Houve emoção. Depois de nove semanas sem futebol fresco, quem trabalha com futebol começa a murchar. Nos dias anteriores o sentimento já era muito especial. É importante referir que, especialmente na Alemanha, o público faz muita falta. É uma das Ligas com mais público do Mundo.
A falta de público não terá sido a única coisa estranha...
- Sim, foi muito estranho também ter o estádio vazio de adeptos à entrada e estes serem substituídos pelas entidades de saúde. Tive de dar os meus dados, medir a temperatura e usar máscara desde que entrei no recinto até que saí.
Quando fez o último teste antes do jogo?
- Sexta-feira, 48 horas antes do jogo. O plano da Liga foi de tal forma elaborado que todas as equipas que jogaram neste fim de semana estiveram uma semana num hotel, sem sair de lá. Todas foram do hotel para o estádio. Isso implica todas as pessoas mesmo, staff incluído. No nosso caso, foram 41 pessoas. A partir deste primeiro jogo, o dia a dia já começa a ser normal. Os jogadores vão para as suas casas e podem sair à rua para passear o cão e ir ao supermercado, mas nada mais do que isso. Os testes não têm a ver necessariamente com dias antes do jogo. É sempre de três em três dias. Já vamos no nono teste...
No caso do Arminia Bielefeld, todos negativos, é isso?
- Nós nunca tivemos casos.
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Já o Dínamo de Dresden, que defronta em breve, foi impedido de jogar...
- Houve 10 casos na primeira ronda de testes e apenas um em Dresden. A quarentena só é obrigatória para os infetados. O Dresden foi uma decisão institucional das entidades de saúde. Não vejo muita lógica, porque continua a haver o ritmo de testes de três em três dias. Depois do segundo teste negativo, o grupo todo estaria limpo e não fazia sentido manter mais oito dias mais de quarentena.
Como viu a reação dos jogadores quando entraram finalmente no balneário para jogar?
-Não foi só para jogar. Este jogo foi a primeira situação em que o grupo entrou no balneário desde 12 de março. Nunca usamos balneário nem no centro de treinos. Os jogadores chegavam sempre equipados de casa e era lá que iam tomar duche e lavar a roupa. Para jogar utilizamos dois balneários e repartimos a nossa equipa pelo nosso balneário e pelo que, habitualmente, é do visitante.
E o visitante [Osnabruck] equipou-se onde?
- Numa escola que, por sorte, temos a 100 metros do estádio.
Mas isso é possível? Em Portugal estão a inspecionar estádios para garantir todas as condições...
- É possível e aconteceu. E vários outros clubes foram obrigados a montar contentores extra para poderem cumprir todas as medidas da Liga.
Em algum momento além do jogo as comitivas dos dois clubes se cruzaram?
- Em nenhum momento. Os circuitos de entrada e saída são diferentes para cada equipa e só são utilizados uma vez. Nós entrámos pela porta habitual. O Osnabruck entrou por outra porta. Contacto só entre jogadores e no jogo corrido.
No final, o Arminia continua líder mas deixou-se empatar perto do fim. O Osnabruck cumpriu as regras nos festejos?
- [risos] Não! O Hertha de Berlim e o Osnabruck falharam na celebração dos golos. Mas com um golo sensacional aos 90+4" que valeu o empate em casa do primeiro, é compreensível que não se tivessem segurado. Foi uma explosão.