"O meu salário também foi reduzido, a exemplo de todos os outros funcionários, para ajudar o clube"
Ricardo Dionísio, ex-membro da equipa técnica de José Peseiro, iniciou está época a carreira como treinador principal e assumiu o comando do Sion em janeiro
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O Sion, para fazer face às dificuldades económicas resultantes da pandemia da Covid-19, pediu a colaboração de todos os seus funcionários para reduzir as despesas. Porém, nem todos os jogadores concordaram com as medidas e nove futebolistas foram despedidos por não aceitarem uma redução salarial. Ricardo Dionísio, ex-membro da equipa técnica de José Peseiro, iniciou está época a carreira como treinador principal e assumiu o comando do emblema helvético em janeiro, depois de uma passagem pelo Stade Nyonnais (III Divisão suíça). A O JOGO, o técnico deixou claro que esta não é uma altura para ter o dinheiro como prioridade e sublinha que todos devem puxar para o mesmo lado.
"O meu salário também foi reduzido, a exemplo de todos os outros funcionários, para ajudar o clube. Se é para apertar o cinto, toda a gente aperta o cinto e colabora. O que tenho dito ao presidente [Christian Constantin] é que quero fazer parte da solução e não do problema, e ele neste momento tem muitos problemas", começou por explicar Ricardo Dionísio, considerando, contudo, que se trata de "uma decisão individual, cada um sabe o que deve fazer", e que "ninguém deve julgar ninguém porque existem compromissos que se desconhecem". O técnico de 37 anos reforçou: "Restam-me três meses de contrato, não é por aí que o dinheiro está em causa. Não é o dinheiro que neste momento faz sentido. Importante, sim, é darmos também um exemplo, sermos um exemplo para a sociedade. Se calhar, não é o momento de pensarmos em dinheiro e, sim, em ajudar-mos uns aos outros."
Ricardo Dionísio explicou que o Sion contava "angariar cerca de 3,3 M€ limpos junto de patrocinadores" com a festa anual no início deste mês, entretanto anulada, e que a impossibilidade de alcançar essa receita "foi uma grande machadada". Por isso, o clube recorreu a uma alínea na legislação do trabalho, conforme esclareceu: "Na Suíça, além do fundo de desemprego, existe o fundo de desemprego técnico para situações de catástrofe, como é o caso. O presidente pediu para recebermos através do fundo de desemprego, mas este só paga 80 por cento do salário bruto e com um teto máximo de 12 350 francos suíços (cerca de 11 700 euros). Os jogadores que foram despedidos ganhavam mais do que isso e não aceitaram."
Antecipar reformulação pode ser a solução
Ricardo Dionísio disputou apenas cinco jogos à frente do Sion, 8.º classificado, e considera ser muito difícil que a época, "suspensa há três semanas", acabe normalmente, mesmo com o adiamento do Euro"2020, porque "até ao fim de abril não há hipóteses de jogar". "O futebol é a única modalidade que ainda não terminou de forma definitiva, embora exista uma grande probabilidade. Mesmo que se empurre a época para a frente, tem de se jogar tudo em maio e junho. Ora, normalmente em finais de julho já há competição, contrariamente ao que sucede em Portugal, Espanha, Itália e outros países, onde ainda se está em pré-época. A solução pode passar por antecipar o reajuste da competição previsto para 2021/22 com o aumento de equipas. Ainda não é certo, há um grupo de estudo com os presidentes dos clubes, mas é provável que antecipem a medida, fazendo subir equipas sem descer outras", revelou, enaltecendo a decisão das autoridades em parar todas as competições. "Devido à proximidade com Itália, os suíços cancelaram todos os eventos com mais de mil pessoas. Isso durou uma semana, porque se aperceberam da gravidade e restringiram tudo. O número de infetados tem aumentado [já são mais de quatro mil], mas o de mortos não. Se a Suíça tem conseguido combater a Covid-19, foi porque tomou algumas medidas muito antes de outros países", salientou Ricardo Dionísio.