Campeão do Mundo em 1994, e senhor de um invejável palmarés no Brasil, é hoje um dos mais respeitados comentadores de TV na Fox Sports. A O JOGO analisa o momento do Palmeiras e não só.
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Zinho, hoje com 53 anos, foi um craque dos relvados. O antigo médio começou no Flamengo, onde teve duas passagens, menos uma que no Palmeiras, mas também representou o Cruzeiro e o Grémio, quatro gigantes do futebol brasileiro e só no último não foi campeão. Contou 56 internacionalizações pelo escrete e foi titular na equipa que venceu o "tetra" em 1994. No Verdão ganhou também a única Libertadores que este clube tem no palmarés e que persegue este ano sob a orientação de Abel Ferreira. O técnico luso foi o mote inicial para uma grande conversa com o comentador da Fox Sports.
Surpreendeu-o o sucesso imediato do Abel Ferreira?
-Na verdade, um pouco. Estamos a falar de um treinador jovem, com 41 anos, que não conhecíamos, só um pouco de quando era jogador. Mas tem causado muito boa impressão. Demonstrou desde a primeira hora estar bem preparado para este desafio, revelando conhecimento sobre o Palmeiras e os jogadores do plantel.
E que impressões lhe ficam da forma de ele trabalhar?
-Ele conseguiu rapidamente colocar em prática as suas ideias. As conferências de imprensa dele são muito boas. Aquilo que diz que vai fazer é o que faz. Outra coisa muito positiva, é a evolução que se notou em vários jogadores, inclusive em alguns que já estavam meio esquecidos, que muita gente queria ver fora do Palmeiras, nomeadamente a torcida. Casos do Rafael Veiga, Lucas Lima, Gustavo Scarpa, Rony... Revelou inteligência em integrar na sua equipa técnica o Cebola (como é conhecido o treinador Andrey Lopes), que tinha feito um bom trabalho como interino após a saída do Vanderley Luxemburgo. Percebe-se que os jogadores gostam dele, conquistou o plantel pela forma como os trata. Em termos técnicos, vê-se que gosta de ter uma equipa que marca bem, que joga unida.
Essa união de que fala está a ser o segredo do sucesso de uma equipa envolvida em três frentes e com um calendário superpreenchido?
-Para o Abel a estrela é a equipa, ele não dá destaque ao individual. Todo o grupo conta e isso é muito importante. Vê-se que todos os jogadores estão motivados, aqueles que não estão jogando, quando têm uma oportunidade procuram aproveitá-la. Essa forma dele trabalhar conquistou o elenco. O sucesso que tem tido, acredito que está muito relacionado com essa valorização de todo o conjunto. Todos estão aceitando as suas ideias.
Em termos táticos o Abel fez uma grande revolução?
-Ele mudou um pouco o esquema tático que vinha sendo utilizado e, mesmo durante os jogos, por vezes a equipa revela maior capacidade para, sem mudar os jogadores, alterar a sua forma de jogar. Contra o River Plate, por exemplo, jogou com o Marcos Rocha mais por dentro, como central, junto do Gustavo Gómez e o Empereur. Apostou no Gabriel Menino como ala, colocando do lado contrário o Viña. Na hora de defender era cinco atrás e um meio-campo de quatro, com o Luiz Adriano na frente. A atacar a equipa soltava-se por vezes em 4-3-3.
Após o 3-0 desta primeira mão das meias-finais, acha que o Palmeiras já pode sentir-se finalista da Taça Libertadores?
-Eu se fosse ainda jogador ou treinador nunca diria isso, diria que há um segundo jogo, que tudo pode suceder Mas agora eu sou comentador e a minha opinião é a de que o Palmeiras está 99 por cento na final: o River, para igualar a eliminatória, tem de marcar três golos e não sofrer nenhum. Em todos os jogos que já fez nesta Libertadores, o Palmeiras sofreu apenas quatro golos, por isso acho muito difícil o River dar a volta à eliminatória. O Palmeiras tem que respeitar o adversário, mas a vantagem é muito grande.
Há ainda o facto de, desde a chegada de Abel, em nove jogos no Allianz Parque o Palmeiras ter sofrido apenas um golo e vencido oito jogos...
-Sim, acho difícil o Palmeiras não marcar nesse jogo. Eles jogam num relvado diferente, uma mistura de relva natural com artificial e estão mais habituados. Transformam isso em vantagem. Não digo que é só por isso que têm ganho os jogos, mas pode dar uma ajuda. Os números demonstram que são uma equipa muito forte em casa.
"O jogo contra o River Plate demonstra a ousadia dele"
O comentador da Fox Sports salienta a mensagem de Abel para o grupo, explicando que a idade não conta.
Abel tem apostado em jovens da formação e ainda agora contra o River alguns deles brilharam. Como justifica isso?
-No ano passado, o presidente Mauricio Galiotte havia definido que o Palmeiras faria grandes contratações e teria que aproveitar a formação e os jogadores que haviam conquistado vários títulos nas camadas jovens nos últimos anos. O Abel está a aproveitar muito bem todo esse talento saído da formação do clube. É justo dizer que o Vanderlei já tinha lançado alguns desses atletas. Mas, de facto, ele tem sido fundamental no crescimento desses jogadores. É o caso do Gabriel Menino, que já chegou ao escrete, tem sido muito importante na afirmação do Patrick de Paula, do Danilo, do Gabriel Veron, um jogador de muita qualidade, sem esquecer o Wesley que estava jogando muito bem quando se lesionou.
Mas não foi um risco alinhar tantos jovens? Mais ainda fora contra o River Plate?
-Esse jogo demonstra bem a ousadia do Abel. Jogar com tanta juventude, sobretudo no meio-campo, na casa do River... foi corajoso em começar com esses meninos, mas ganhou 3-0 e com grande resposta da equipa. E ele já deu entrevistas explicando que o que conta não é a idade: é o trabalho, o talento e potencial. Esses jovens têm muito valor.
"Abel foi corajoso ao iniciar a partida com esses meninos, mas ganhou 3-0 e com grande resposta"
O plantel conta também com jogadores de grande experiência: é o segredo?
-Sim, esses jogadores têm sido fundamentais para os mais jovens. O Abel já disse que ter o Luiz Adriano em campo é como ter uma espécie de treinador no relvado. Esses jogadores orientam os meninos, dão-lhes segurança.
Pouco depois de chegar, o Abel viu lesionar-se o capitão Felipe Melo, mas nem isso abalou a equipa...
-Mérito do treinador que conseguiu que todo o grupo respondesse muito bem a essa contrariedade e à ausência de um jogador com o peso do Felipe Melo. Além de bom jogador, ele é um líder dentro e fora de campo.
"O Palmeiras tem três frentes"
A um pequeno passo de atingir a final da Taça Libertadores, o Verdão já garantiu um ligar na discussão da Taça do Brasil. Mas nem o sexto lugar e o atraso de 12 pontos para o São Paulo, leva Zinho a considerar a necessidade de abdicar do campeonato, que pode prolongar-se até março por causa do sucesso dos paulistas.
O Palmeiras vai jogar a final da Taça do Brasil contra o Grémio. É a prova mais fácil de vencer?
-Teve muito mérito do Palmeiras nessa caminhada até à final. Mas, neste momento, o clube está em três competições. Com as derrotas de São Paulo e Flamengo esta semana, o campeonato continua em aberto, faltam muitas jornadas e não é ainda o momento de deixar de lutar pelo Brasileirão. Na Copa, o Palmeiras vai defrontar o Grémio, uma equipa com muita tradição na prova. Como futebolista venci a Taça pelos dois clubes e sei a importância que ambos lhe dão. Será certamente uma final equilibrada, o Grémio também tem uma equipa muito forte.
Disse que Brasileirão tem de continuar a ser um objetivo: não vê necessidade de poupar jogadores para a Libertadores?
-A primeira coisa é conquistar esta terça-feira o apuramento para a final da Libertadores, mas depois a equipa tem de se focar no Brasileirão. Mesmo que não dê para conquistar o título brasileiro, o objetivo tem de ser ficar nos quatro primeiros lugares que valem a presença na próxima edição da Libertadores. Isto porque pode não ser o campeão da prova e perder a final da Taça do Brasil.
Se o Palmeiras vencer a Taça Libertadores, vai criar um enorme problema de calendário no futebol brasileiro, porque irá disputar o Mundial de Clubes em fevereiro. O Brasileirão e a final da Taça já não poderiam terminar no próximo mês como previsto...
Seria bom que se colocasse esse problema, seria um sinal de êxito. Caso aconteça. Terá de ser a CBF a resolver, mas certamente que o Palmeiras não se importaria (risos).