O clube mais odiado do país e visto como um brinquedo: eis o adversário do Sporting
Fundado em 1990 como o clube da Câmara Municipal de Istambul, o adversário do Sporting foi "ressuscitado" pelo poder político em 2014 e é, hoje em dia, uma força a ter em conta.
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Assumindo-se orgulhosamente como o novo poder de uma Istambul historicamente dominada por Galatasaray, Fenerbahçe e Besiktas, o Basaksehir, adversário do Sporting, é visto pelos seus adeptos como uma lufada de ar fresco no futebol turco, mas, aos olhos dos rivais, a sua ascensão não passa de uma trama de arrivismo com um forte empurrão do poder político.
Em 2017, quando o Basaksehir enfrentou o Braga, O JOGO já tinha contado a história do clube que é considerado o "brinquedo de Erdogan", mas, passados dois anos, o estatuto de "mais odiado" da Turquia acentuou-se à medida que foi ficando cada vez mais perto de um inédito título: em 2018/19 acabou em segundo lugar a dois pontos do campeão Galatasaray e, atualmente, está a apenas um ponto do líder Trabzonspor.
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Na sua primeira versão, datada de 1990, o rival leonino foi batizado de Istanbul Buyuksehir Belediyespor, nome que, em português, daria algo como o Clube da Câmara Municipal de Istambul. A chegada à primeira divisão da Turquia ocorreu em 2007 e coincidiu com os primeiros protestos da população, pois, à boleia do apoio do poder local, o clube usufruía do Estádio Olímpico Ataturk sem pagar um tostão e a sua extinção chegou a ser usada como bandeira da campanha eleitoral para a autarquia, mas uma "mãozinha" governamental mudou tudo.
Símbolo do "Bairro Modelo" da capital
Em 2014, quando se encontrava afundado em problemas financeiros, o Istambul BB foi comprado por um consórcio financeiro com fortes ligações a Recep Tayyip Erdogan e acabou realojado em Basaksehir, ganhando o nome desse moderno bairro construído a cerca de 30 quilómetros do centro de Istambul. Na inauguração da nova casa do próximo adversário dos leões, o Estádio Fatih Terim, o atual presidente da Turquia equipou-se com as cores laranja e azul da nova equipa, saltou para o relvado, marcou três golos em 15 minutos e ficou eternamente ligado à sua história. Três anos mais tarde, em 2017, o Basaksehir celebrou um protocolo com a Medipol - empresa com ligações ao Ministério da Educação e Saúde da Turquia - e passou a ter um Conselho de Administração (CA) presidido por Goksel Gumusdag. Este, casado com uma sobrinha de Erdogan e militante do partido no poder, orientou as contratações de figuras da seleção local como Emre Belozoglu, Arda Turan, Mert Gunok ou Egemen Korkmaz e juntou-os a veteranos sonantes pagos a peso de ouro como Adebayor, Clichy, Gokhan Inler ou Robinho, entre outros, no início de uma meteórica subida ao topo da hierarquia do futebol local.
O acordo assinado com a Medipol expira em 2021 e Goksel Gumusdag já assumiu que o CA está disposto a abrir as portas a investimento proveniente da Ásia ou do Médio Oriente para que o incómodo arrivista não perca o condão de infernizar a paciência das potências vizinhas. As histórias recentes também têm... "sumo".
Estudantes contra isolamento
bbb A ausência de uma significativa legião de adeptos é um entrave ao crescimento do clube para lá das fronteiras do bairro de Basaksehir, mas é encarado com boa disposição por aqueles que puxam pelos laranjas. Estes, em jeito de anedota, até dizem que a situação dá jeito para minimizar protestos quando a equipa perde. Novidade quando comparado aos centenários rivais, o Basaksehir foi "adotado" pela comunidade estudantil, que o tornou num veículo para uma mensagem de paz. "Começámos a seguir o Basaksehir para mostrar a todos que há outras maneiras de viver o futebol. É mais um protesto do que um ato de paixão. Queremos mostrar que podemos gostar de uma equipa sem entrar em conflito com adeptos de outra", afirmou um membro da claque do clube, em entrevista recente à BBC.
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Contudo, a base jovem não tem sido suficiente para combater o isolamento de quem habita um bairro com menos de dez anos de existência e ainda por "preencher". Erdogan até lançou o lema "Nem um lugar vazio", mas nem isso impediu que o Estádio Fatih Terim, com capacidade para 17 mil pessoas,se apresente regularmente com as bancadas despidas de público.