"Nunca pensei que Rúben Amorim viesse a ser treinador, era o palhaço do balneário"
Roderick Miranda, defesa-central português de 34 anos, que representa os australianos do Melbourne Victory há quatro temporadas, deu uma entrevista ao Flashscore Austrália
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Não chegou à Seleção principal de Portugal: "Estive muito perto em 2017. Estava na lista provisória para a Taça das Confederações e fui um dos últimos nomes a ser retirado da lista. Depois disso, sabia que estava sempre numa lista muito grande para a seleção nacional durante o ano ou ano e meio seguinte. Infelizmente (a estreia) nunca chegou, mas o futebol é assim. Por vezes temos a sorte de ter uma oportunidade, outras vezes não. Mas a minha cabeça já está longe disso. Portugal tem uma nova geração muito bonita a chegar, por isso acho que a seleção nacional está em boas mãos."
Vida na Austrália: "Fui muito bem recebido quando cheguei aqui. Toda a gente aqui, todos os adeptos, deram-me as boas-vindas, a mim e à minha família. Depois, quando começamos a ter filhos, começamos a tomar decisões que têm a ver com a família. Os meus filhos adaptaram-se muito bem e agora chamam a Melbourne a sua casa. Isso faz com que seja muito difícil para mim voltar a Portugal ou a qualquer outro sítio. Quando somos só nós, ou só nós e o nosso parceiro, é mais fácil tomar decisões de mudança para conseguir mais dinheiro ou mais exposição. Quando se tem uma família, é preciso abrandar o processo de decisão e pensar no que é melhor para a família. Tenho sido muito feliz a jogar pelo Melbourne Victory e a minha família está bem instalada, então estamos a tentar fazer as coisas funcionarem (a longo prazo). Talvez seja por isso que estou aqui há algumas temporadas."
Acabar a carreira na Austrália? "Essa é uma pergunta que me fazem muitas vezes. Quando terminar a minha carreira, não me importava de ficar na Austrália para começar a próxima etapa da minha vida. Mas é sempre difícil prever o que o futuro reserva, especialmente neste ambiente."
Adaptação à vida na Austrália e ao campeonato: "O aspeto mais difícil foi a distância, especialmente manter o contacto com toda a gente. Não é só a distância, mas também a diferença horária, pelo que é muito difícil usar apenas as manhãs ou as noites para falar com os amigos e a família na Europa. Fiquei muito surpreendido com a competitividade da própria liga. Só porque, na altura, não era muito conhecida na Europa. Penso que agora está a ter um pouco mais de exposição, mas antes era anónima. Fiquei realmente surpreendido com a forma como cada equipa pode jogar contra qualquer outra. O estilo de vida aqui em Melbourne é fantástico. É uma cidade linda, há sempre alguma coisa a acontecer e toda a gente é muito simpática. Fiquei muito surpreendido com tudo isso."
Descoberto pelo Benfica em 2000: "Eu jogava na minha equipa local como avançado. Marcava muitos golos todos os jogos e era um miúdo muito alto, mais alto do que os outros miúdos dos sub-10. Um antigo olheiro do Benfica costumava jogar com o meu pai e ele (o olheiro) estava a ver-me jogar, mas não fazia ideia de que eu era filho do meu pai. Começou a falar com o meu pai sobre o miúdo de nove anos que ele estava a ver. Conversaram e ele fez com que o meu pai prometesse que ia tentar enviar-me para os testes do Benfica. O Sporting já estava de olho mim para alguns testes. Um mês depois fui fazer um teste ao Benfica, gostaram de mim e fiquei lá até à minha estreia na equipa principal."
Jogou com Rúben Amorim no Benfica: "Nunca pensei que ele viesse a ser treinador! Não pelos seus dotes futebolísticos ou pela sua inteligência, mas porque era o palhaço do balneário. Tinha uma personalidade muito divertida e estava sempre a fazer alguma coisa para fazer rir as pessoas. Quando soube que ele tinha começado a ser treinador, fiquei um pouco surpreendido e perguntei-me como é que o tipo com quem joguei se podia tornar tão sério! Mas ele era um jogador muito inteligente. Podia jogar em muitas posições diferentes e talvez seja por isso que é um treinador brilhante, porque tem um grande conhecimento do jogo."
Foi treinado por Nuno Espírito Santo, que está em alta no Nottingham Forest, no Rio Ave e Wolverhampton: "Não estou muito surpreendido com isso, porque sempre soube que ele era muito bom. Se ele encontrar os jogadores certos e o ambiente certo, é um treinador que pode produzir este tipo de coisas. Nos Wolves, tivemos duas épocas em que acho que terminámos em sexto ou sétimo lugar [sétimo em 2018/19 e 2019/20] e conseguimos um lugar na Liga Europa, por isso ele já mostrou o que pode fazer. Não é uma grande surpresa para mim. Talvez seja para outras pessoas, especialmente para um clube como o Nottingham, que não foi um clube de topo no passado, mas não para mim."