"No primeiro jogo estava só o nosso fotógrafo, depois uns 15. Isso é Angola"
Êxito recente do futebol angolano maravilha os jogadores e o povo. O capitão Fredy, a jogar na Turquia, com história no Belenenses, valoriza trabalho de Pedro Gonçalves e sonha com o acesso ao Mundial
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Povo angolano vibra com exibições e resultados de Angola, que deixou África em sentido na última CAN. E com Pedro Gonçalves trabalha-se em prol de chegar a mais um Mundial. Fredy, de 34 anos, com carreira recente na Turquia, uma vida em Portugal no Belenenses é o líder numa fusão de promissoras gerações.
Como avalia o atual momento da Angola, as ilusões recuperadas com Pedro Gonçalves ao leme?
-Classifico como um momento bastante positivo, uma transição bem conseguida onde o Pedro tem uma enorme influência. Conseguimos voltar a ser competitivos com as seleções mais fortes e isso trouxe uma grande conexão entre a seleção e o povo.
Vendo os resultados, a ótima CAN, o arranque desta qualificação, prometem presença de Angola no próximo Mundial?
-Claro que sim! Esse seria o nosso maior sonho. O meu, claramente! Somos realistas e sabemos que irá ser bastante difícil, porque vamos enfrentar duas seleções extremamente fortes como Cabo Verde e Camarões e não se trata só dentro do campo. Mas é um caminho que temos traçado e vamos com boas sensações.
Estamos perante a geração mais talentosa do futebol angolano. Pode superar a que figurou no Mundial da Alemanha, em 2006?
-Estou na seleção há 10 anos e posso afirmar do que já vivi que esta é, sem dúvida, uma geração bastante forte. Conseguimos uma grande ligação entre os jogadores mais experientes e essa nata de jovens de grande valor. A vinda de muitos deles para a Europa ajudou imenso na evolução desportiva e na maturidade.
Que relação mais íntima sente com a seleção e que retrato desta maré?
-Eu cresci em Portugal num bairro social onde a cultura angolana, entre outras culturas africanas, estava bem presentes no meu dia-a-dia. Em 2012 e em 2015 tive a felicidade de jogar no meu país e essa ligação tornou-se muito mais forte, tenho um orgulho enorme nisso. Estamos numa fase muito boa, nota-se a felicidade e o entusiasmo por todo o lado, mas é fácil alguém que está fora da nossa realidade deslumbrar-se. Mas nós, que estamos dentro do processo, temos os pés bem assentes na terra e sabemos que o caminho vai ser longo e difícil, mas acreditamos bastante e esperamos conseguir esses êxitos tão ansiados. Está ser lindo de se viver, até por ser algo acompanhado por toda essa alegria do nosso povo.
Pedro Gonçalves está preparado para grandes projetos e para ser o rosto de algo especial?
-Acredito que Pedro terá uma carreira bastante positiva mas depende sempre dos próximos passos que irá dar. Não podemos esquecer que é o primeiro trabalho dele mais fora da formação, mas tem capacidade para evoluir e singrar. Acredito que, no futebol africano, ele já abriu boas portas e mostrou o seu potencial. Temos Zito, Milson, Chico Banza, Show, Maestro, Sandro Cruz, Zine, Domingos Andrade. Temos aqui jogadores mais jovens que reúnem muito potencial e podem ter futuro brilhante.
Que impacto tiveram aquelas imagens da CAN da festa que ia sendo feita pelos angolanos?
-A última CAN foi algo único e marcante, não só para nós os jogadores, mas para todo o país. Voltámos a dar alegria e esperança ao povo, para nós foi o reconhecimento de um trabalho árduo que já vinha de muitos anos. E, mais do que isso, foi depois a receção calorosa que tivemos em Angola.
Pura onda febril, tudo a dançar?
-Aquilo está no sangue do povo angolano, nós gostamos de festa, de poder dançar e divertir-nos. As nossas entradas nos estádios tornaram-se super virais na CAN. Lembro-me de no primeiro jogo estar só o nosso fotógrafo, nos jogos seguintes cada vez mais pessoas apareciam e, no último jogo, contra a Nigéria, havia uns 10/15 fotógrafos. Como dissemos, isso é Angola.
E esse ataque com Dala e Mabululu, uma delícia?
-Eu e o Gelson Dala já nos conhecemos há imensos anos e, desde que vamos jogando juntos, temos um entendimento dentro e fora do campo muito bom. Acho que é um dos melhores jogadores africanos. Mabululu, para quem tem um conhecimento sobre futebol angolano, sabe que sempre foi um “striker”, é muito inteligente nas suas movimentações e está sempre à procura do golo, o que facilita essa conexão que também já vem dos tempos do Girabola.