ENTREVISTA, PARTE III - Rui Silva admite que tentou “sair por empréstimo” do clube andaluz antes de se afirmar na plenitude. Alguns anos depois, refere que as “estatísticas demonstram o rendimento” que tem
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Antes de tempos dourados no Bétis, Rui Silva chegou a pôr em dúvida a viabilidade do salto para Espanha. A afirmação no Granada acabou por dar-lhe razão e, agora, ombreia com guardiões de elite, mantendo o recato.
Humilde na hora de fazer uma autoavaliação entre os guarda-redes de La Liga, Rui Silva descreve como “espetacular” o ambiente que vive no mítico Benito Villamarín. Porém, nem tudo foi fácil.
Após duas épocas com a baliza mais “dividida” no Bétis, agarrou o lugar. O que mudou?
-Quando cheguei ao Bétis, já sabia da concorrência que ia enfrentar. Sabia das dificuldades que teria. Queria jogar todos os jogos, comecei bem na primeira temporada, mas o míster entendeu fazer um ciclo de rotação, de forma a manter os guarda-redes com competição, porque estávamos em várias frentes. Há que compreender e respeitar as decisões do treinador. O segundo ano foi mais ou menos semelhante e, este ano, também comecei a jogar. Acabei por ter ali duas lesões que me afastaram um par de jogos, mas o meu regresso acabou por coincidir com uma lesão do Claudio [Bravo]. Quando voltou, também devido à idade que tem, acabou por lhe custar um bocadinho mais do que o normal. Sinto que, em termos de rendimento, precisava da regularidade que não estava a ter nos anos anteriores. Consegui ter esse rendimento, que é importante para que um guarda-redes consiga ajudar a equipa.
“Manuel Pellegrini é um dos melhores treinadores do mundo. Como o próprio diz, só foi despedido do West Ham”
Tem trabalhado com um míster que já treinou Real Madrid, Manchester City... O que pode dizer que aprendeu com Manuel Pellegrini?
-Aprendi muito. Posso dizer que é um dos melhores treinadores do mundo, já passou por grandes clubes. Tem um grande historial. Aliás, como o próprio diz, a única equipa em que foi despedido em tantos anos como profissional foi no West Ham. Isso demonstra a qualidade que tem. Dá muita liberdade aos jogadores, o que também é fundamental para o dia a dia, para querer melhorar e aprender. Corrige o que tem de corrigir, é muito incisivo a nível tático e acaba por passar experiência, não só aos jogadores mais jovens, mas também aos mais experientes.
E o Benito Villamarín? Como é jogar num palco tão mítico semana sim, semana não?
-É espetacular. Sentir o carinho dos adeptos, o calor humano da ‘aficción’. Dificilmente o estádio está vazio. Temos sempre acima de 45 mil espectadores todos os jogos. Este ano acabámos por ter essa fortaleza para conseguirmos, sobretudo, conquistar muitos pontos em casa.
Colocar-se-ia no “top-5” de guarda-redes da Liga espanhola?
-É difícil dizer... [risos] Há guarda-redes com muita qualidade na Liga espanhola. Sei que estou a fazer uma temporada muito positiva e tento ajudar o Bétis da melhor forma possível. É difícil dizer que estou no no “top-5”, mas o importante é trabalhar como tenho vindo a trabalhar, sentir-me bem e sentir-me importante. Todas as estatísticas de que se fala acabam por demonstrar o meu rendimento.
Nas duas primeiras épocas no Granada não jogou muito. Chegou a duvidar de que teria sido o passo certo?
-Surgiram-me muitas dúvidas, na altura. Era muito jovem, tinha 22 ou 23 anos e os primeiros meses foram de adaptação a uma nova realidade. Tinha passado da Liga portuguesa para uma das melhores ligas do mundo e não estava a jogar. Isso aliado à mudança de país, ao facto de ser tudo novo para mim... Acabou por custar um bocado. No ano seguinte, quando o Granada desce à II Liga e eu pensava que ia ser aposta, acabou por não acontecer também. Nessa altura duvidei realmente sobre o passo que tinha dado. Tentei sair por empréstimo, mas o clube acabou por não aceitar e até foi bom poder terminar a época a fazer dois ou três jogos, que me deram alguma margem e visibilidade para, no ano seguinte, ser aposta já com um novo míster, o Diego Martínez.
“Benzema marcava-me sempre...”
Desafiado por O JOGO a eleger o avançado que, nos treinos da Seleção, mais trabalho lhe dá, Rui Silva deu a resposta... óbvia. “O Cristiano, claro. Pela postura, pela forma como finaliza, por tudo. É um jogador imprevisível, mas há outros de enorme qualidade. O Bernardo Silva também muito imprevisível, o João Cancelo”, detalhou.
Alargando a amostra, não esquece um certo “trauma” com Benzema. “Foi o avançado que mais dissabores me causou. A verdade é que não sei quantos jogos fiz contra ele, mas nos primeiros três ou quatro marcava-me sempre golo. E isso entra na nossa mente. Nunca se sabe o que pode sair dali. Destaco o Benzema por isso, por ser temível”, acrescentou o guarda-redes luso.