Nigéria deixa Líbia: desvio do avião, 19 horas fechados no aeroporto e combustível "cinco vezes acima do preço"
A estranha situação pareceu ter origem numa retaliação das autoridades líbias, em resposta ao tratamento dado à seleção libanesa no jogo realizado na Nigéria
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A seleção de futebol da Nigéria viveu um episódio inusitado, para dizer o mínimo, ao ficar retida durante mais de 19 horas num aeroporto secundário da Líbia. A situação, descrita como um "pesadelo" pelos jogadores, só foi resolvida graças à intervenção diplomática, que permitiu finalmente o regresso da equipa ao seu país.
Os jogadores nigerianos, que viajavam para disputar um jogo de qualificação para CAN'2025, acabaram por enfrentar uma experiência inesperada e difícil. Segundo relatos nas redes sociais, como o do médio Wilfred Ndidi, do Leicester (Premier League), a comitiva ficou sem acesso a comida, descanso e enfrentou um clima de tensão crescente. "Reféns" foi o termo usado pelo jogador para descrever a situação vivida no aeroporto de Al-Abraq, onde a seleção ficou bloqueada.
A estranha situação pareceu ter origem numa retaliação das autoridades líbias, em resposta ao tratamento dado à seleção libanesa no jogo realizado na Nigéria. A medida gerou uma onda de indignação, tanto entre os jogadores quanto nas redes sociais, com várias personalidades e jornalistas a partilharem a angústia dos jogadores. O fotojornalista nigeriano Sulaimon Adebayo, conhecido como Pooja, relatou que alguns clubes europeus se preparavam para enviar aviões privados para resgatar os seus jogadores.
Victor Boniface, jogador do Leverkusen, usou as redes sociais para transmitir a gravidade da situação: "Isto agora está assustador, vocês podem ficar com os pontos, apenas queremos voltar para casa", escreveu o atleta, destacando o clima de desespero vivido no aeroporto líbio.
O governo da Nigéria acabou por ter um papel crucial para desbloquear a situação, embora as negociações com as autoridades líbias tenham sido complicadas. Relatos indicam que os líbios inicialmente recusaram-se a vender combustível para o avião da seleção nigeriana e impediram a autorização de voo. No entanto, após longas negociações, a Nigéria conseguiu garantir o abastecimento, ainda que a um custo elevado — cinco vezes acima do preço normal, de acordo com fotojornalista Sulaimon Adebayo.
A situação foi exposta na primeira pessoa por William Troost-Ekong, capitão da Nigéria, que explicou na rede social X que o pesadelo da sua seleção começou com a aterragem na Líbia, ficando presa no aeroporto por ordem do governo local. “Mais de 12 horas num aeroporto abandonado na Líbia depois de o nosso avião ter sido desviado enquanto aterrava. O governo líbio rescindiu a aprovação da nossa aterragem sem razão. Eles bloquearam os portões do aeroporto e deixaram-nos sem rede de telemóvel, comida e bebida. Tudo para fazerem jogos mentais”, acusou, prosseguindo: “Já experienciei coisas a jogar em África, mas isto é um comportamento vergonhoso. Até o piloto tunisino, que felizmente conseguiu navegar a mudança de última hora para um aeroporto que não estava apto para a aterragem do nosso avião, nunca tinha visto nada assim”.
Entretanto, a Confederação Africana de Futebol (CAF) tentou intervir para que o jogo de qualificação fosse reagendado, apelando ao ministro do Desporto da Nigéria. Porém, o governante manteve-se firme e garantiu que a seleção não disputaria a partida, optando por assegurar o regresso imediato dos jogadores.
Tudo isto começou quando, segundo relatos nas redes sociais, o voo da seleção nigeriana foi desviado, já em descida, para o aeroporto de Al-Abraq, em vez do destino inicial em Benghazi, alegadamente por ordem do governo líbio. Foi nesse local que a equipa passou mais de 19 horas, sem as condições mínimas de conforto, como alimentação e espaço para descansar. Após a resolução do impasse, a seleção da Nigéria pôde finalmente deixar o solo líbio e regressar a casa.