"Não é hoje ir a 100, e amanhã a 40. Prefiro um profissional que venha sempre a 70..."
Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, apresentou, na tarde desta quarta-feira, o livro "Cabeça fria, coração quente", no IPO do Porto. Os adjuntos Tiago Costa e Vítor Castanheira e o diretor do IPO, Dr. Júlio Oliveira, também estiveram presentes.
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Paixão num profissional de futebol: "Acho que há algo que tem de caracterizar um profissional: o amor e paixão pelo que faz. Esse é o segredo para se triunfar. Muitas vezes temos a falsa ideia de que o sucesso é quando ganhas títulos. Para mim, sucesso é cada um de nós fazer o máximo esforço de forma consistente para atingir o objetivo a que se propôs. Se vai atingir ou não, não sei. Mas se fizer o máximo, vai ficar tranquilo quando se deitar, sabendo que fez o máximo para atingir o objetivo. Isso é que é sucesso. Ganhámos, perdemos, mas isto tem a ver com o homem e caráter dentro de cada um. O líder influencia, inspira, mas no futebol ninguém ganha sozinho. Que tenham paixão pelo jogo e amor por treinar. Quando isso acontece, vais sempre fazer da mesma maneira, quer ganhes ou percas. No futebol é difícil ganhar, mas ainda mais é ganhar consistentemente. Para isso, são precisos profissionais de caráter, que usem os recursos que têm de forma consistente. Não é hoje ir a 100, e amanhã a 40. Prefiro um profissional que venha sempre a 70, de forma consistente. É o caráter que existe dentro de cada ser humano com quem trabalho. Não sei se nestas 568 páginas tem a palavra 'eu'. Acho que não, tem sempre a palavra 'nós'."
Pressão dos média e de treinar o Palmeiras: "Sempre tive uma ótima relação com os jornalistas. Dou entrevistas a todos o canais que me pedem. Mas vocês podem comprar o livro que está tudo aqui [risos]. Tudo o que faço e fazemos, está aqui. Evitei dar entrevistas para isso mesmo, para despertar a curiosidade. Acho que às vezes falo tanto, até de mais, que é melhor não falar. A Imprensa brasileira é extremamente exigente. Aqui vocês também são... Os adeptos também. Quem treina um clube como o Palmeiras, ou ganha ou ganha. Já foi considerado um dos melhores clubes do Mundo e é. Na sua dimensão, na sua estrutura... Quem não conhece, convido a conhecer. Houve uma adaptação muito grande à cultura desportiva e jornalismo do Brasil, que é intensa, exigente, agressiva e só há uma forma de convenceres quem está ao teu lado: dar o melhor, focares no que controlas, apresentar resultados. No final de contas, todos procuramos apresentar resultados. Em Portugal somos 10 milhões, em São Paulo são 22... Isso é algo que também nos ajuda a melhorar como treinadores. Essa exigência da Imprensa também é necessária. Trabalhamos em conjunto, vivemos do futebol, é verdade que as pessoas pensam que não tenho uma boa relação com a Imprensa, mas não tem a ver com isso. Peço que entendam o meu lado. A forma como vivo o futebol é tão intensa que depois de sair do que faço quero é desligar. Vim aqui por uma causa: partilhar."
Os anos vão mudar a forma de pensar? "Pode acontecer, mas quando as pessoas olham muito para trás, eu digo: 'fica calmo, era exatamente isso que tinha de acontecer para seres melhor'. A vida é mesmo isso. Para sermos o que somos hoje, o que aconteceu no passado faz o que somos hoje no presente. A minha evolução como treinador e homem houve coisas que fiz que não devia ter feito, mas que, se não fosse assim, não seria o que sou hoje. Com o passar dos anos, vamos adquirindo uma maturidade que nos permite olhar para o passado com tamanha leveza que no presente vivemos com tranquilidade. Eu sou um treinador jovem, mas já tenho quase 500 jogos. Acho que já fiz mais jogos como treinador do que como jogador. Foram as coisas que não devia ter feito que fazem parte do que sou hoje."
Declarações de Vítor Castanheira, treinador-adjunto de Abel Ferreira:
"Temos mais facilidade em entender o brasileiro do que ao contrário. Tivemos de falar com mais calma, mais pausados, outra dificuldade foi a densidade de jogos que encontrámos. Estamos 10 ou 11 meses a jogar de dois em dois ou três em três dias. Mas fomos encontrando estratégias e formas de conseguir que os jogadores cumprissem o que pretendemos."
Declarações de Tiago Costa, treinador-adjunto de Abel Ferreira:
"O que mais me surpreendeu no Brasil foi o nível de profissionalismo deles. O feedback nem sempre era bom, mas encontrámos um contexto de pessoas que gostam de trabalhar e daquilo que fazem. Talvez por isso, o nosso casamento foi perfeito. Vimos um grupo e um clube à nossa semelhança. Um grupo que dá tudo por nós. E isso também se deve ao líder que temos."