ENTREVISTA - Willyan Rocha trocou Portugal pelo futebol russo e, apesar de ser sensível à guerra, lembra que não há nada que os futebolistas possam fazer em relação ao problema. Eleito o melhor central da liga da Rússia, o antigo defesa do Cova da Piedade e do Portimonense faz um balanço positivo da época de estreia num país que o tem impressionado pela qualidade de vida.
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Proveniente dos quadros do Grémio de Porto Alegre, Willyan Rocha chegou a Portugal em 2017/18, destacando-se de imediato como um dos valores emergentes na II Liga, ao serviço do Cova da Piedade. Depois, no Portimonense consolidou o seu valor, despertando a atenção dos russos do CSKA, onde se estreou na última época.
Numa altura em que muitos parecem evitar jogar na Rússia, devido ao conflito na Ucrânia, o que o levou a aceitar a proposta do CSKA Moscovo?
-Não acho que existam jogadores a evitar vir para a Rússia. Temos tido casos de atletas que estavam a jogar em Portugal e que vieram para aqui devido à qualidade do campeonato e às condições de trabalho que se oferecem no país. A questão do conflito na Ucrânia não passa ao lado de ninguém. Não somos indiferentes a isso e todas as pessoas querem encontrar o caminho da paz mas, infelizmente, é algo que foge ao nosso controlo. Foi uma aposta ganha ter vindo para o CSKA. É uma equipa muito grande no futebol mundial e, esta época, voltou a ganhar uma Taça da Rússia e a ficar em segundo lugar no campeonato.
Foi fácil adaptar-se ao futebol russo e à dimensão do CSKA, com um peso bem diferente do que tinha encontrado em clubes como Cova da Piedade ou Portimonense?
-O CSKA é um gigante adormecido. Nos últimos anos a equipa andou mais afastada da luta por títulos, mas esta época voltou a reencontrar-se e voltámos a lutar pelo título e a conquistar um troféu. O CSKA tem uma dimensão diferente, o país é diferente, a língua, os costumes, as pessoas, o modo de vida... É obvio que tive de me saber adaptar a muitas coisas novas, mas a verdade é que fui muito bem recebido por todos. Quando assim é, fica mais fácil. Consegui rapidamente absorver a cultura do país. O facto de ter mais brasileiros na liga também ajudou à adaptação.
O que mais lhe agradou desde que chegou? Quais as principais dificuldades que encontrou?
-Gosto muito do estilo de jogo do campeonato e do futebol que a equipa pratica. A qualidade de vida é incrível também. Moscovo é uma cidade muito bonita mesmo. O mais difícil foi a adaptação à língua, porque fica difícil comunicar com as outras pessoas, mas aos poucos vamos aprendendo algumas coisas básicas. O frio também se faz sentir mas, para mim, isso é algo relativamente tranquilo.
Como vê a qualidade da liga russa? Está à altura das suas expectativas?
O campeonato russo tem muita qualidade. É muito equilibrado, as equipas todas têm jogadores de qualidade e o futebolista russo já não é só força. O jogador russo é cada vez mais evoluído técnica e taticamente. São muito inteligentes a ler o jogo e depois continuam a ter aquela intensidade, aquela vontade. É um campeonato que vai evoluir nos próximos anos.
E em termos de jogadores, acha que a liga perdeu qualidade face à saída de alguns futebolistas estrangeiros?
Saíram alguns estrangeiros desde que se iniciou o conflito, mas também chegaram outros jogadores. Faz parte do mercado. O nível continua muito elevado. E, é aquilo que digo, o futebol russo deixou de ser apenas para fazer brilhar jogadores estrangeiros. E há vários exemplos de jogadores que estão aí a aparecer com muita qualidade.
Distinção atrai o Flamengo
Eleito o melhor central da liga russa em 2022/23, Willyan Rocha despertou a atenção do Flamengo, clube do Rio de Janeiro onde já tinha atuado na categoria de sub-20. O defesa esteve mesmo no centro das atenções de uma reunião mantida na última quarta-feira com Bruno Spindel, diretor executivo de futebol do Flamengo. A contratação não será fácil, até pelo prestígio que o futebolista já atingiu no futebol russo ao serviço do emblema moscovita, que o comprou por dois milhões de euros ao Portimonense, estabelecendo-se na altura um vínculo contratual com duração até junho de 2025, ou seja, por mais duas épocas.
"Portugal é um país fantástico"
Que recordações guarda da sua passagem por Portugal? Do que sente mais saudades?
-Guardo recordações boas. Fiz muitos amigos no país. As pessoas são acolhedoras e recebem-nos bem, como se fôssemos da família. Também desportivamente correu bem. Consegui evoluir de época para época e fiz parte de boas caminhadas no Portimonense. Sinto saudades das pessoas, do bom tempo, da gastronomia. Portugal é um país fantástico e vou acompanhando o que se passa. O nível da liga está a aumentar e as campanhas europeias das equipas portuguesas provam isso mesmo. Fiquei feliz pela manutenção do Portimonense e vou torcer para que a próxima época seja ainda melhor.
Continuar história na Rússia
Convidado a comparar a liga russa com a portuguesa, Willyan Rocha não conseguiu dizer em qual delas encontrou mais qualidade. "Os dois campeonatos são muito bons e há avançados de grande qualidade nos dois países. Qualquer equipa apresenta avançados de nível. Basta ver os números dos melhores marcadores da prova", disse, explicando depois, quanto ao futuro, que não faz grandes planos por agora: "Nesta fase, estou focado no CSKA e gostava de continuar a escrever a minha história aqui, mas sei que no futebol as coisas mudam muito rapidamente. Não posso dizer que não gostava de ter ainda outras experiências no futebol europeu, mas deixo essas questões para os meus agentes."